Seca no Sul

A culpa é do La Niña

25 de maio de 2009

Estiagem prejudica abastecimento e qualidade da água, afeta rebanhos e lavouras e provoca incêndios no Rio Grande do Sul


Efeitos da La Ninã no clima


Figura retirada do site do CPTEC ( Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) no endereço http://www.cptec.inpe.br/enos/


 


Outros municípios do Sul, da fronteira e do Norte registraram menos de 10% da média histórica de chuvas de abril. Registros da Corsan – Companhia Riograndense de Saneamento, com base em régua de observação instalada há décadas em São Borja, mostra que o nível do Rio Uruguai em maio é o mais baixo dos últimos 19 anos na cidade: cerca de um metro e meio menos que a média histórica no mês. A culpa desse cenário é do fenômeno La Niña. Quando ocorre, as frentes-frias não conseguem ultrapassar a massa de ar seco que cobre o estado, impedindo as precipitações. O Noroeste gaúcho é a região mais atingida. As zonas rurais também sofrem sem abastecimento para o consumo humano, já que os poços estão secos. E os açudes, para os animais, se transformaram em lamaçais.


Consequências diretas
Em 5 de maio, Erechim começou um programa de racionamento de água, já que a barragem estava três metros abaixo do nível normal. Os 93 mil habitantes da cidade ficam 14 horas diárias sem receber água, em horários alternados. E não há prazo para encerrar o programa. A seca também paralisou 21 municípios da região conhecida como Celeiro, no início de maio, que mantiveram apenas serviços de saúde e o recolhimento de lixo funcionando. Em todo o estado, dez usinas hidrelétricas foram paralisadas em algum momento ou tiveram seu serviço prejudicado devido ao baixo volume de água. Nas lavouras, levantamento do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística estima perdas de 76% com o milho, 60% com soja, 50% do leite, cana-de-açúcar (55%), mandioca (60%), hortaliças (60%) e frutas (60%).
A estiagem prolongada ainda tem provocado incêndios em campos e matos. Na margem da BR 472, saída para Itaqui, o fogo consumiu seis hectares de vegetação nativa em 2 de maio, e levou duas horas para ser combatido. Em Passo Fundo, o comandante do Grupamento de Combate a Incêndios, major Gilcei Leal da Silva, disse que, só em abril, houve 60 focos em vegetação. As margens das RS 324, 135 e 153 e da BR 285 abrigam os principais focos. Ele adverte que a maioria dos incêndios é causada por pontas de cigarros e pela queima de lixo.


Algas e mexilhões
Enquanto os meteorologistas prevêem chuvas para a Grande Porto Alegre e o Litoral Norte do Rio Grande do Sul ainda em maio, as regiões mais críticas vão continuar enfrentando tempo seco. Apesar das pancadas esparsas registradas na Região Metropolitana, a capital gaúcha também enfrenta pelo menos uma consequência da seca. A falta de chuvas diminui o nível do Guaíba e torna suas águas mais translúcidas, o que permite a rápida reprodução de algas em alguns pontos. Sua presença excessiva no manancial provoca um forte gosto terroso na água que abastece Porto Alegre. O diretor-geral do Dmae – Departamento Municipal de Água e Esgotos, Flávio Presser, garante que o órgão tem adotado medidas para minimizar os efeitos na água, e que, apesar do gosto diferenciado, a água é potável e não causa problemas à saúde.