Editorial

Caro leitor:

18 de junho de 2009

Compromisso de 20 anos

Não é fácil manter um jornal ambiental que teve sua primeira edição impressa em junho de 1989, quando ainda nem se falava na ECO 92, a ONU no Rio de Janeiro. Menos fácil, ainda, quando esta publicação é feita por jornalistas profissionais e não está ligada a nenhuma empresa, nenhuma entidade, nenhum governo, nenhuma ONG e nenhum movimento político ou ideológico. A Folha do Meio vive exclusivamente dos anúncios que recebe e das assinaturas pagas por seus leitores. É um jornal de educação ambiental que busca, apenas, conscientizar e resgatar os valores da cidadania.
São 20 anos trilhando este caminho, sem nunca abrir mão de seus princípios. E muitas vezes, quando o jornal assume campanhas em defesa da natureza – como é o caso específico da luta para fazer da Serra Vermelha, no Piauí, uma unidade de conservação ou quando mostramos a não sustentabilidade de muitos projetos de mineração – tanto o jornal como seus jornalistas ainda sofrem represálias e boicotes comerciais. Mas todos os nossos compromissos estão mantidos desde a primeira edição, em junho de 1989. Felizmente, também, os apoios acontecem. E são muitos. A esperança não morre. E é com muita alegria que podemos divulgar a premiação dos jornalistas Tânia Martins e André Pessoa pela série de matérias sobre o terrível crime ambiental no Piauí que desmata a região da Serra Vermelha. (Pág. 20)
Aos assinantes, aos professores que usam o jornal como material didático e às empresas e governos que prestigiam e apóiam uma publicação séria e cidadã – seja este jornal ou vários outros que existem no Brasil – o nosso muito obrigado.
Este jornal chega hoje a 133 países, a todos os comitês de bacia hidrográfica, a todos os Movimentos de Cidadania pela Água, parlamentares do Senado e da Câmara e não sei quantas mil escolas por este Brasil a fora.
Amigo leitor: a vida vale pelo que se constrói de amizades, pelo que se promove de paz e pelo que se luta para defender a própria vida. Todos aqui da redação tem uma certeza: a Folha do Meio tem feito a vida valer.


 


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MÁRIO QUINTANA, o pastor das nuvens


O Brasil comemora em 30 de julho, o centenário de nascimento do poeta, tradutor e jornalista Mário de Miranda Quintana.(*30/07/1906– +05/05/1994). É ele próprio quem diz: “Nasci em Alegrete/RS, no rigor do inverno! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas… Aí vai! Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade… Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura”.
Na década de 40, Quintana é muito elogiado pelos maiores intelectuais brasileiros e recebe até indicação para a Academia Brasileira de Letras. Convite que nunca se concretizou. Sobre o fato, com bom humor, ele faz o Poeminha do Contra:


Todos esses que aí estão
atravancando meu caminho,
eles passarão…
eu passarinho


Mais Mário Quintana:
Quem não compreende um olhar,
tampouco compreenderá uma
longa explicação
.


Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia.


O segredo é não correr atrás das borboletas…
É cuidar do jardim para que
elas venham até você


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BILHETE


Se tu me amas,
ama-me baixinho.
Não o grites de cima
dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho,
Amada,
que a vida é breve,
e o amor
mais breve ainda…


A VIDA
Não faças da tua vida um rascunho.
Poderás não ter tempo de passá-la a limpo.


BIOGRAFIA
Era um grande nome – ora que dúvida!
Uma verdadeira glória.
Um dia adoeceu, morreu, virou rua…
E continuaram a pisar em cima dele
.


AMOR
Quando duas pessoas fazem amor
Não estão apenas fazendo amor
Estão dando corda ao relógio do mundo