GUSTAVO PEDRO Entrevista

22 de julho de 2009

Folha do Meio –  Como e quando surgiu a idéia de criação da Associação de Fotógrafos de Natureza?Gustavo Pedro – A idéia é antiga e já era idealizada por renomados fotógrafos como Haroldo Palo Jr., Zig Koch, LCMarigo, dentre outros precursores da fotografia de natureza. Foi uma situação conjuntural que selou esta união, como o… Ver artigo

Folha do Meio –  Como e quando surgiu a idéia de criação da Associação de Fotógrafos de Natureza?
Gustavo Pedro – A idéia é antiga e já era idealizada por renomados fotógrafos como Haroldo Palo Jr., Zig Koch, LCMarigo, dentre outros precursores da fotografia de natureza. Foi uma situação conjuntural que selou esta união, como o enfrentamento de questões relevantes da atualidade e a necessidade de se criar mecanismos para ter a fotografia como o maior instrumento  para preservação ambiental. Daí a AFNATURA ter nascido no Dia Mundial do Meio Ambiente, em cinco de junho deste ano.


FMA – Quais são os objetivos da Afnatura?
Gustavo Pedro – Uma associação pode capacitar melhor seus associados e também reivindicar de forma mais forte. A comunicação entre os fotógrafos pode melhorar e mobilizar a classe. Pode dar maior agilidade para utilizar a fotografia como instrumento de monitoramento ambiental, educação, fortalecer a identidade cultural brasileira, valorizar a arte, fomentar atividades sustentáveis e muitas outras ações. A própria pesquisa científica e as campanhas institucionais e governamentais que tenham objetivos preservacionistas podem ser mais apoiadas. Não há como identificar paisagens a serem tombadas como patrimônio cultural ou natural sem o apoio da fotografia. Enfim, a fotografia pode formar cidadãos a entender e olhar a natureza de maneira mais respeitosa.


FMA – Que tipo de atividades sustentáveis pretende apoiar a Afnatura?
Gustavo Pedro – A fotografia incentiva a prática sustentável. Ela é uma atividade capaz de transformar o ser humano, torna as pessoas mais sensíveis, permite que as pessoas se aproximem e se identifiquem com a natureza. A fotografia faz da natureza uma extensão de nossa própria casa. E faz da nossa casa, de nosso quintal, de nossa cidade uma extensão da natureza. A fotografia ensina sem dizer uma só palavra. Ela mostra a harmonia, a fragilidade da vida e a responsabilidade em cada uma de nossas ações. Divulgar a beleza, além de promover o respeito e a harmonia, alavanca o turismo, ajuda o Estado a disseminar princípios de educação ambiental com atitudes pró-ativas de interação com a natureza.







A fotografia faz da natureza uma extensão de nossa própria casa. E faz da nossa casa, de nosso quintal, de nossa cidade uma extensão da natureza.  



FMA – O que mais os fotógrafos podem ensinar hoje na era digital?
Gustavo Pedro – É o que eu disse: a fotografia ensina sem pronunciar uma só sílaba. O fotógrafo da natureza ensina a ver um mundo melhor e fazer com que cada cidadão possa participar do registro desta história do dia-a-dia. Com arte e sabedoria. A valorização da fotografia como arte passa pela consciência de que para ser um guardião das belezas naturais suas atitudes precisam corresponder com seus pensamentos. Na era digital, a disseminação da fotografia ficou mais fácil, mais acessível, mais barata e mais eficiente.


FMA – Com um mês de existência, quais são os planos da Afnatura para que tudo isto aconteça?
Gustavo Pedro – Neste caminho continua valendo as virtudes que os fotógrafos de natureza conhecem bem: a paciência e a perseverança diante de tantas dificuldades impostas.  Apreendemos a conviver com ambientes fatigantes, longas caminhadas pelas florestas tropicais, desconforto e muias adversidades. Não é fácil, mas é revelador e aprazível. A maior recompensa está em revelar às pessoas que precisamos nos sacrificar de alguma forma para conseguir mostrar em fotos ao mundo nossos verdadeiros tesouros.


FMA – Por que há tanta falta de compreensão das autoridades e dos guardas com os fotógrafos da natureza?
Gustavo Pedro – Esta é uma boa questão. As autoridades, os guardas florestais precisam entender que não fazemos fotos para usufruir benefícios pecuniários. Não somos mercantilistas. Queremos apenas aumentar a sensibilidade das pessoas para a beleza da vida, de uma flor, de uma borboleta, de uma ave. As autoridades e os guardar precisam ter a consciência desta missão. Sair do enfrentamento ou do achar que estamos “roubando” imagens para usufruir comercialmente. O que precisamos é de apoio. Como narrava Platão, se tem gente vendo sombras nas paredes de cavernas é preciso olhar de onde vem a luz para encontrar a justiça na verdade. O fotógrafo não é um explorador e sim o instrumento para que a natureza possa se revelar exuberante, dadivosa e fundamental à vida.


FMA – Quais são as dificuldades enfrentadas pelos fotógrafos de natureza com as autoridades?
Gustavo Pedro – A dificuldade não é só dos fotógrafos de natureza, é também de montanhistas, dos observadores de aves, dos pesquisadores e tantos outros que muitas vezes precisam praticar suas atividades em parques e Unidades de Conservação. A cada dia, as restrições aumentam. Quando se tem uma justificativa racional, tudo bem. Não somos ignorantes. Entendemos, temos de concordar. Mas quando estas proibições são tentativas de mera arrecadação, sem considerar os efeitos negativos desta medida para sociedade e para o meio ambiente, aí sim, temos que protestar. Nosso objetivo é divulgar e preservar o patrimônio ambiental.



FMA –  Quais os efeitos negativos destas medidas autoritárias?
Gustavo Pedro – São muito maior do que se imagina. Alguns gestores compreendem isto, mas estão amarrados a normas às vezes equivocadas em sua interpretação por regulamentos superiores. Muitos fotógrafos estão preferindo áreas particulares para fotografar. Por que não se pode fotografar o nosso patrimônio público? A irracionalidade chega a tal ponto que já ouvi um professor me contar que ele e seus alunos foram barrados na entrada de um parque onde iam fazer um trabalho de biologia, só porque eles levavam um equipamento fotográfico. 


FMA – Mas qual seria a solução para o problema destas restrições?
Gustavo Pedro – A questão é complexa e merece o esforço de todos os envolvidos. Tem que haver uma solução. A imagem é um bem intangível e somente passa a existir fisicamente quando captada por algum equipamento tecnológico. Agora com a disseminação de equipamentos digitais qualquer pessoa passou a deter este poder. Acreditamos que a atividade fotográfica deveria continuar sendo incentivada, por tudo que dissemos. Se houver um controle, seria para o uso indevido como por exemplo quando a imagem da Unidade de Conservação for associada a um produto ou atividade nociva ao meio ambiente. O controle do acesso só deve ser feito quando a atividade fotográfica se diferenciar dos outros usos permitidos. Exemplo: quando o fotógrafo tiver de interditar um acesso, tiver de usar equipamento que coloque em risco a integridade daquele ecossistema.   No mais, ao interpretar as normas considerar que o fotógrafo não é um explorador da paisagem e sim um aliado pela preservação. Evidente, que se for uma operação hollyoodiana para se fazer um anúncio, uma publicidade ou para tirar algum proveito comercial há que ter licença, autorização prévia, etc.


FMA – A fotografia é um produto que explora o recurso natural?
Gustavo Pedro – Não, se considerada que a captação da imagem por si só não gera um produto. A imagem fotografada passa a ser obra intelectual ou artística, protegida pela legislação de direito autoral. A atividade artística não pode ser restringida, basta ler atentamente os princípios fundamentais de nossa Constituição. A fotografia de natureza em nada utiliza recursos naturais limitados.
Não pode ser tratada como atividade exploratória. O que se precisa é valorizar a fotografia e os fotógrafos. Precisa entender a atividade como divulgação de nossa cultura, de nossas paisagens, de nossa diversidade. É uma ação paralela de apoio ao turismo, à educação ambiental e à cultura.


FMA – Quem está a frente da Afnatura?
Gustavo Pedro – Todos os fotógrafos de natureza profissionais e amadores, iniciantes e veteranos estão neste barco. Começamos grandes, com a maioria expressiva dos fotógrafos de natureza em atividade no Brasil. A associação é nova e como tem muita gente trabalhando em locais de difícil acesso, tão lofo eles voltem vão se juntar a nós.


 


Imagens como ferramenta de educação ambiental e preservação: a fragilidade de uma ave, a beleza árida da Caatinga e diversidade da floresta amazônica


Fotos: Gustavo Pedro


 



 



 



 


SUMMARY


 


AFNATURA – A nature photography association


Authorities and forest rangers are discriminating against photography in parks and conservation units 


Gustavo Pedro is a photographer and lawyer specialized in Environmental Management and Technology and educator. He is engaged as a volunteer to the Atlantic Rainforest NGO network, on the APA Babilônia, RJ, Board and a collaborator on a number of specialized publications on environment.  Gustavo Pedro explains the work of AFNATURA and how photography complements education and preservation.


THE ASSOCIATION – The idea is an old one and was the brainchild of renowned pioneering nature photographers. It was a set of circumstances that sealed this association, such as how to deal with today’s relevant issues and the need to create mechanisms for the use of photography as the greatest instrument for environmental protection.
OBJECTIVES – An association can better enable and prepare its members and give them a stronger voice to make demands. Communications among photographers can improve and organize them. It can help them become more responsive to the use of photography as an instrument to monitor the environment, educate, strengthen Brazilian cultural identity, give value to art, stimulate sustainable ideas and many other actions.  Photography can provide greater support to scientific research itself and institutional and governmental campaigns aimed at preservation.
THE POWER OF PHOTOGRAPHY – Photography encourages sustainable practices. It is an activity that is capable of transforming people, making them more sensitive, enabling them to become passionate about and identify with nature. Photographers make nature an extension of their own homes, and make our homes, our backyards, our city an extension of nature. A photographer can teach without speaking a single word.  The can depict harmony, the fragility of life and the results of every one of our acts.
THE DIGITAL ERA – The photographers’ work can be disseminated more easily in the digital era; it makes it more accessible and more efficient.
VALUES  – Nature photographers understand the virtues of patience and perseverance well in light of so many difficulties imposed. We learn to live in hostile environments, make long treks through tropical forests, endure discomfort and great adversity. It is not easy but it can be awe inspiring and enjoyable. The greatest reward is in demonstrating to people that we need to sacrifice in some way to be able to convey the world our real treasures in our pictures.
LACK OF SUPPORT – The authorities and forest rangers need to understand that we do not take photos to make us rich. We are not tradesmen. We just want to heighten people’s awareness of the beauty in life, of a flower or a bird. The authorities and rangers must be made aware of this mission. They cannot stand in the way or be allowed to think that we are “stealing” images to be used commercially.  All we are looking for is support.
DIFFICULTIES  – Photographers are not the only ones facing these problems, mountain climbers, bird watchers, researchers and many others often need to take part in activities in parks and Conservation Units. The restrictions grow day by day. There is no problem if the rational is justified. We are not ignorant; if we understand we can agree. However, when these prohibitions are merely attempts to collect taxes and fines, without taking the negative effects of this measure on the community and the environment into account, then we must protest. Our purpose is to reveal and preserve our environmental heritage.
NEGATIVE EFFECTS  -Some people in a position of authority understand this but are strapped by regulations that have been misinterpreted by other higher prevailing regulations. This has become so irrational that a professor told me that he and his students were barred from entering a park to conduct some work in biology only because they were carrying photographic equipment. 
THE SOLUTION – This is a complex issue and deserves the efforts of all those involved. There must be a solution. An image is an intangible asset and can only exist physically when it has been captured by technological equipment. With the widespread use of digital equipment anyone can hold this power.
THE PRODUCT – Capturing an image in and of itself does not result in a product. A photographed image, however, becomes an intellectual or artistic property protected by copyright law. Art cannot be restricted; just take a close look at the basic tenets of our Constitutions. A nature photographer does not use any of the restricted natural resources. It cannot be treated as exploratory activity. An appreciation of the photographer and photographs is what is needed.  Photography must be understood as a revelation of our culture, our scenery, our diversity. It is an activity that runs parallel to tourism, environmental education and culture.