Educando e cantando

Pedreira cultural

22 de julho de 2009

desativada é recuperada e vira espaço de preservação

Arthur Balsi, paulista de Barra Bonita, chegou a São Lourenço no final da década de 60, abandonando emprego em São Paulo, onde fez Comunicação na USP, na busca de um caminho espiritual. Conheceu a Eubiose, constatou as propriedades medicinais das águas minerais e aqui ficou. Desenvolveu sua espiritualidade, trabalhou vários tipos de artesanato e criou a empresa Gondowana.  Aí veio um sonho. O sonho de fazer um projeto integrando os quatro reinos da natureza – o mineral, o animal, o vegetal e o hominal –  que começou a ser realizado há cerca de um ano e meio, quando conheceu a pedreira.
O local, que passa despercebido e quase ninguém conhece, é majestoso. A área interna, escavada por meio século, tem 4,5 mil metros quadrados, cercados, em U, por paredes de 40 metros de altura, o equivalente a um prédio de 17 andares e ótimo para prática de rapel. O cenário é de um anfiteatro natural com acústica perfeita. No interior dessa imensa cava, o canto dos pássaros se amplia. E como há pássaros no local.
Os menores, como o pássaro preto, aproveitam as fissuras nas pedras para se aninharem e se protegerem de predadores como tucanos e gaviões. Há muita vida dentro da cratera.


Os quatro reinos


Para o reino mineral haverá um Museu de Mineralogia. Viveiro  com mudas de espécies da Mata Atlântica e plantas medicinais comporão o reino vegetal


Por mais de um ano Arthur investiu R$ 100 mil limpando a área. Boa parte do Projeto Quatro Reinos da Nartureza será desenvolvida na cratera. Lá, segundo seu idealizador, será construído um museu de mineralogia em forma de gota, com paredes de pedras. É a parte mineral do reino. Outra área será ocupada por um viveiro com mudas de espécies da Mata Atlântica, temperos, essências e ervas curativas e fitoterápicas, representando o reino vegetal. O reino animal fica por conta do ecossistema do entorno com pássaros de várias espécies, além de lobos e sapos, muitos sapos que, à noite, “promovem verdadeira sinfonia”, diz Arthur. O reino hominal se integra ao projeto com os inúmeros eventos que poderão se realizar no local. Com as pedras encontradas na cratera, Balsi levantou um palco e está fazendo um lago, canalizando a água de duas minas que vertem das rochas.


Criatividade e bom gosto


Além do lago, do museu e do viveiro, o projeto inclui iluminação embutida para valorizar os paredões e a recuperação do entorno com plantio de árvores e flores que atraiam beija-flores e borboletas. Com pedras e troncos esculpidos pelo rio Verde, o ambientalista começou a fazer canteiros. Flores silvestres como marcela e marias sem vergonha são facilmente encontradas, brotando entre as rochas.Para fazer o trabalho de limpeza e organização da pedreira, Arthur Balsi construiu na rocha, ao lado de um imenso Guapuruvú, sua casa. Deixou a laje como um mirante que se projeta sobre a cratera. De lá, o visual é mágico, ou melhor, grandioso. E fica fácil imaginar o sonho do ambientalista de ver a área interna ocupada por estudantes, em pesquisa, ou por uma platéia de quatro mil pessoas, assistindo espetáculos de música, teatro e outras expressões artísticas.
O projeto da Gondowana foi apresentado ao Serviço Autônomo de Turismo do Município que garantiu apoio. Assim, em setembro, na primavera, o local será aberto à comunidade com uma gincana interescolar, com participação dos municípios vizinhos – Pouso Alto, Passa Quatro, Itanhandu, Virgínia, São Sebastião do Rio Verde e Soledade – que integram a Bacia do Rio Verde. O objetivo é mostrar a recuperação do espaço e estabelecer uma parceria entre os municípios do Circuito das Águas e das Terras Altas da Mantiqueira no desenvolvimento de programas de educação ambiental. 
A ONG Mãe Natureza trará o Projeto Educando Sobre as Águas e serão realizadas provas esportivas, apresentações musicais e o lançamento do livro da professora e pesquisadora Hermínia Silva Guedes, “Nos Caminhos da Floresta”, que fala sobre a Floresta Nacional de Passa Quatro, informa Balsi.  A pedreira não é mais uma área degradada. São Lourenço vai ganhar um espaço que integra educação, cultura e meio ambiente, no coração de uma montanha.


Com muita criatividade, a pedreira virou um grande espaço cultural ao ar livre. Cidade sulmineira que integra o circuito das águas minerais, São Lourenço se firmou como pólo de desenvolvimento e é hoje uma das mais importantes estâncias hidrominerais do mundo. Cheia de energia mística, muitos acreditam tantas energias e misticismo estão ligados aos seis tipos diferentes de água mineral. Além do Parque das Águas e de um rico complexo hoteleiro, São Lourenço é conhecida por ser a sede da Sociedade Brasileira de Eubiose.