Climate Leadership Campaign

Mudanças Climáticas

20 de agosto de 2009

Conferência Mundial de Meio Ambiente, em Belo Horizonte, aquece combate ao aquecimento global

A questão ambiental é uma constante na agenda do governador de Minas Aécio Neves. Antes do encontro, uma
conversa reservada entre o secretario José Carlos Carvalho, Aécio, o cientista Jim Garrison e Emília Queiroga


 


A campanha é liderada pela ONG americana State of the World Forum e tem como escopo mudanças básicas,porém necessárias, onde todos podem contribuir. Essas mudanças estão nos hábitos alimentares, no consumo, na redução da poluição do ar, no consumo de energia, na redução no consumo de água, reciclagem, na responsabilidade ambiental e na locomoção.
O State of the World Forum, criado em 1995, tem como fundador o presidente da Wisdom University, Jim Garrison, e como presidente do Conselho, o prêmio Nobel e ex-presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev.
Segundo a ONG, os governos do mundo inteiro têm um prazo estabelecido para que metas importantes sejam cumpridas e que procurem diminuir cada vez mais o avanço do aquecimento global. Espera-se reduzir as emissões de CO2 em 80% até 2020 (meta atual), já que 2050 estaria muito distante e não surtiria o efeito desejado.  Ainda assim, se todos cumprissem suas metas, a temperatura média do planeta ainda subiria 4 graus.
Parece pouco, mas pode ser o fim para muitas espécies no planeta! O diferencial desta campanha é que o foco está direcionado às pessoas e aos lideres climáticos (climate leaders, versão em inglês), que têm fundamental participação neste sistema.
Um sistema onde a ação de uma só pessoa tem conseqüências para várias outras.


70 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera


Só para ter uma idéia, hoje em dia a humanidade despeja cerca de 70 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera por dia. Tanto que em 2007 o cenário previsto pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) é muito mais brando que a situação em que nos encontramos atualmente. Os EUA continuam como o grande emissor de CO2 no mundo todo. Cerca de 35% de todo o gás jogado na atmosfera nos últimos 150 anos veio do país americano.
O Brasil, por sua vez, não fica muito atrás. Só o desmatamento na Amazônia, com a queima e apodrecimento de matéria orgânica, faz da floresta um potencial emissor de CO2. O certo é que ela deveria absorver uma grande quantidade deste gás e não emitir mais. Em 2005 um estudo observou que a floresta amazônica absorveu 2 bilhões de toneladas de CO2 e emitiu 3 bilhões.
Ao longo dos 40 anos de vida de uma árvore, ela seqüestra uma tonelada de dióxido de carbono sendo, portanto, um elemento primordial para frear o aquecimento global. A situação é tão grave que um aumento de 2ºC põe em risco 40% da Amazônia. Já um aumento de 4ºC chega a ameaçar 85% da floresta! Com isso cerca de 20 a 50% de todas as espécies da fauna e flora entrariam em processo de extinção, um verdadeiro desastre para o Brasil.
Estimativas de cientistas dizem que se parássemos o aquecimento global amanhã pela manhã, ainda sofreríamos as conseqüências de nossas ações desastrosas por mais de mil anos.
O State of the World Forum espera, com esta iniciativa, criar uma rede de lideranças ao redor do mundo. Para muitos, este é um momento único da história, onde os questionamentos são mais importantes que as respostas, e onde o diálogo é mais necessário que o dogma.
Para o secretário de Meio Ambiente  de Minas Gerais, José Carlos Carvalho, “reduzir as emissões a partir de 2020 representa um esforço muito maior do que aquele que estava sendo pretendido. A idéia central é assinalar a urgência das medidas que precisam ser adotadas no plano internacional com relação ao aquecimento global e às mudanças do clima.”


Responsabilidade comum
Jim Garrison, presidente da State of the World Forum, costuma enfatizar que todos nós, sem exceção, somos responsáveis pelo aquecimento global. Todos nós dividimos a liderança necessária para solucionar o problema que coloca todo o destino da civilização em jogo. Pela primeira vez no mundo estamos fazendo com que cada um individualmente, cada empresa, cada escritório, cada escola, cada ser humano seja responsável pelo aquecimento global.
“Nossa missão é fazer de cada um de vocês um líder climático para ajudar a diminuir o aumento das temperaturas. Se nós nos mobilizarmos não sofreremos no futuro. É um desafio para a raça humana, pois nós viemos da terra e a ela retornaremos”.
Jim Garrisom termina seu depoimento dizendo: “Nós escolhemos iniciar esta campanha no Brasil porque aqui é um microcosmo da humanidade, um país grande e forte. Temos que, a partir de hoje, frear o aquecimento global e dizer 2020, tô dentro!”.


“Nós escolhemos iniciar esta
campanha no Brasil porque aqui é um microcosmo da
humanidade, um país grande e forte. Temos que, a partir de
hoje, frear o aquecimento global e  dizer 2020, tô dentro!”.


Fotos: Mayra Bernardina


Jim Garrisom


 


 


 


A PARTE DE CASA UM


A ex-vice prefeita de Londres e
representante da ONG Inglesa Global Urban Development,
Nicki Gavron, diz que estamos numa fase crítica da humanidade e que precisamos da colaboração de todos os setores da sociedade.


Em sua primeira vez ao Brasil, ela concorda que cidades grandes como Londres e Belo Horizonte não podem ficar atrás, assim como 40 grandes cidades ao redor do mundo que já estão comprometidas com esta campanha. Segundo Nicki, agora as cidades e seus cidadãos têm a solução, basta cada um fazer a sua parte. “Conseguimos, com muito custo, fazer de Londres hoje um exemplo de sustentabilidade. Estamos policiando as emissões de carbono e estamos conseguindo mudar nosso comportamento. Para isso nós não precisamos reduzir nossa qualidade de vida, basta modificar nosso jeito de viver. Nós somos a primeira geração que tem conhecimento e tecnologia. Então, ainda há tempo de revertermos este aquecimento global”, relatou a representante da ONG inglesa. Para ela, desta forma é possível promover oportunidades verdes para todo mundo e melhorar nossa qualidade de vida.
A diretora do State of the World Forum/Brasil, Emília Queiroga, diz que precisamos aprender rápido e temos que fazer isso juntos. Ela complementa que, em relação ao aquecimento global, “temos que agir como cuidamos das pessoas que amamos. Afinal, é a nossa sobrevivência coletiva que está em jogo!” Para Ricardo Young, presidente do Instituto ETHOS, o Brasil tem todo o potencial para ser um líder neste século da sustentabilidade: “mas esta é uma tarefa árdua. Será que estamos preparados? Se não estivermos à altura deste desafio, sucumbiremos e passaremos à história como aquela espécie que não teve consciência e não soube medir seus próprios atos.” Segundo ele,  “o Brasil tem que assumir sua responsabilidade neste processo, colocando a sustentabilidade no centro de sua pauta. Os possíveis líderes governantes de 2010 têm que estar preparados para isso”, completa.


A HORA É AGORA


Sérgio Serra, embaixador e membro no Brasil para a Conferência de Copenhage sobre mudanças no clima, diz que o Brasil foi designado em Bali para sediar o início desta campanha como “key player” (país chave). Segundo ele, vários países não conseguirão concretizar a redução das emissões de CO2 em 2012, como prometido no protocolo de Kyoto. Mas pressões e cobranças vindas da sociedade civil vêm conseguindo influenciar os governos desses países. Já para o representante do Egito na ONU, Emad Adly, o norte da África emite pouco CO2, se comparado com outros países. “Mas se não fizermos nada agora, daqui a algum tempo esse pouco vai ser muito”.


Para o ministro Carlos Minc, até bem pouco tempo atrás o Brasil era duramente criticado em todos os Fóruns mundiais.
Hoje em dia, o País já tem metas e planos que estão sendo cumpridos. “Todo mundo é a favor de salvar o planeta, não há dúvida, até o momento em que ele tem que se esforçar individualmente para contribuir com isso. Afinal, estamos numa ‘guerra ecológica’.
O mínimo que teremos de aumento será de 2ºC e isso já é um desastre, por exemplo, para a economia do nordeste! Hoje o setor siderúrgico planta metade das árvores que precisa para produzir seu carvão, o que já é um avanço.
Em outra frente, o governo está apoiando aterros sanitários que captam o metano, que é um gás do efeito estufa e pode virar energia. Estamos trabalhando para isso.” As mensagens e ações definidas na Conferência em Minas Gerais serão refinadas no encontro em fevereiro de 2010 em Washington, EUA. As negociações continuarão na próxima conferência em Copenhague (Dinamarca) em dezembro, a COP -15.
Em agosto do primeiro anos da campanha haverá eventos no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Amazônia e Bahia. Já há outras cidades candidatas a sediar a campanha nos próximos anos, como Melbourne, Cidade do México e Haia. (BF)