O VERDE QUE FALTAVA
21 de setembro de 2009A boa nova amazônida sacode as pesquisas
Marina Vermelha
Em 10 de dezembro de 2002, antes de sua posse, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva deu um pouco de simbologia nas duas primeiras indicações ministeriais. E parece que fez de propósito. Anunciou os nomes de seus dois primeiros ministros, diretamente de Washington: seu braço direito institucional, Antônio Palocci, para o Ministério da Fazenda, e de uma mulher, símbolo de resistência e de Amazônia, a senadora Marina Silva, para o Ministério do Meio Ambiente. Faltavam, ainda, 21 dias para Lula assumir a Presidência da República.
Marina Verde
No último domingo de agosto de 2009, depois de 30 anos de militância no PT, a senadora Marina Silva oficializou a sua filiação ao Partido Verde (PV). Foi durante convenção da legenda realizada no Espaço Rosa Rosarium, em Pinheiros, zona oeste da capital paulista. Seduzida pelos verdes para ser candidata à Presidência da República, cautelosamente a ex-ministra do Meio Ambiente disse que só no ano que vem decidirá se vai disputar o Planalto do Planalto.
“Me sinto honrada com o convite para ser candidata a presidente, mas essa decisão é para 2010”, afirmou Marina, que foi muito aplaudida por militantes e líderes do PV. A senadora ressaltou que, se for candidata à sucessão presidencial, usará como plataforma política as questões ambientais. Para ela, o Brasil tem condições de conciliar o crescimento econômico e o desenvolvimento social com a sustentabilidade.
Mudança política
Para os analistas políticos, a candidatura de Marina Silva causou um abalo amazônico no partido do presidente Lula. Ao entrar no PV, a senadora acreana deixou um vazio ético no PT e dividiu as bases da então candidata Dilma Rousseff. Para o mais importante profissional da pesquisa de opinião do Brasil, Carlos Augusto Montenegro, presidente e dono do Ibope, “a Marina Silva tem a história pessoal que mais se assemelha à do Lula. É humilde, foi agricultora, trabalhou como empregada doméstica, tem carisma, história política e já enfrentou as urnas. Além disso, já estava preocupada com o Meio Ambiente muito antes do tema entrar na agenda política. Dificilmente ganha a eleição, mas tem força para mudar o cenário político”.
Marina Silva, 51 anos, casada, quatro filhos, sobrevivente de cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniosose é a boa nova que faltava às eleições do ano que vem. Pelo menos, a exemplo do senador Cristovam Buarque que debateu, informou, conscientizou e só falou de Educação na última eleição, Marina vai debater, informar e conscientizar mais sobre meio ambiente e sustentabilidade nas eleições de 2010.
Maria Silva por Marina Silva
“Também sou negra, mas seria muito pretensioso da minha parte me apresentar como similar de Barack Obama”.
“Quero ser mantenedora de utopias e mobilizar as pessoas”.
“Saí do convento para servir a Deus e lutar ao lado do povo”
“São os ricos e soberanos os que detêm a informação. Por isso,
investir em educação para democratizar a informação é fundamental”.
“Nós temos que parar de achar que ser desenvolvido é ser como São Paulo. Cada região tem que buscar o seu caminho”.
“A pobreza pode levar a Amazônia a repetir a Colômbia,
onde o povo está se envolvendo com o narcotráfico”.
“A sociedade passou a fazer escolhas no seu dia a dia também baseada na ética. As pessoas podem eleger muito mais do que um presidente ou senador. Elas podem optar por comprar madeira certificada ou carne e cereais produzidos em áreas que respeitam as reservas legais”.
“O PT teve uma visão progressista nos seus primeiros anos de vida, mas não fez a transição para os temas do século 21. Os erros do PT foram graves, mas estão sendo corrigidos e investigados”.
“Os países ricos devem compreender que para preservar a Amazônia tem de ser asseguradas as soberanias dos países que compartilham a região”.
“O Brasil precisa parar com essa história de ficar vendo apenas o fantasma da internacionalização da Amazônia. O Brasil precisa é fazer bem seu dever de casa na região”.
“O mundo hoje caminha para o seguinte: ou nós valorizamos as diferenças e reafirmamos essas diferenças para poder trocar, ou nós vamos – num processo de globalização – nos tornar uma mesmice homogênea. E onde fica a beleza da diversificação cultural que a raça humana oferece?”
“Tirar a floresta com a desculpa de desenvolver para acabar com o desemprego é uma mentira. A Bahia não tem mais floresta e está cheio de desempregados”.
“Se for candidata, vou encontrar forças no mesmo lugar onde busquei nas quatro vezes em que cheguei a ser desenganada pelos médicos: na fé e na ciência”.
“O governo precisa ter uma política ambiental transversal. Ela tem que estar presente nas ações de todos os ministérios, sobretudo nos da Reforma Agrária, do Planejamento e da Fazenda para viabilizar os recursos necessários para os investimentos com a devida sustentabilidade”,