Civilidade animal

Como se comportar no zoológico

12 de outubro de 2009

Visitantes colocam em risco a vida de animais nos zôos com anzóis e isqueiros até solas de sapato são atiradas para os bichos

No zoológico de Goiânia, uma força-tarefa foi criada para investigar a morte de 69 animais. Ainda não se sabe o que causou os óbitos. A Sociedade de Zoológicos do Brasil e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não têm dados fechados sobre o volume de casos de mortes de animais no país que tenham sido provocadas pela ingestão de objetos estranhos.
No Parque Zoológico de Sapucaia do Sul (RS), o drama de um hipopótamo em trabalho de parto evidenciou um problema, que costuma provocar consequências de grandes proporções. A história é referente a uma fêmea, que estava tentando evacuar um saco plástico jogado por algum visitante da unidade e que quase ocasionou a morte do animal. Inicialmente, a equipe de veterinários chegou a ser acionada para fazer o parto, mas descobriu que o hipopótamo era vítima da má educação humana assim que se aproximou dele.
Na mesma unidade, jacarés e tartarugas ficaram feridos após engolir anzóis atirados pelas pessoas na tentativa de chamar a atenção dos bichos. Eles foram socorridos e passam bem. Sem saber do que se trata, os animais comem tudo o que encontram em seus cativeiros. Depois, precisam ser socorridos e passar por cirurgias. No zoológico gaúcho, um outro hipopótamo morreu após comer um salto de sapato e ter o canal intestinal bloqueado.
Os objetos retirados do organismo dos animais acabam servindo para um trabalho de educação ambiental para crianças. Elas querem dar pipoca para macaco, chamar a atenção dos animais que, em algumas vezes, não estão visíveis aos olhos delas durante o passeio. Uma ema morreu após comer uma meia na unidade.  A peça obstruiu o esôfago dela e provocou a morte por sufocamento. A ema e o avestruz costumam sofrer mais com esse tipo de problema, pois comem qualquer coisa.


Falta educação
Luiz Antonio da Silva Pires, presidente da sociedade de zoológicos do Brasil, disse que um trabalho maciço de conscientização erradicou esse tipo de problema no zoo de Bauru. “Em 1989, tínhamos o Pomposo, uma onça-pintada que morreu após engasgar com um saco plástico. Fechamos o zoológico e fomos às ruas, com faixas e carros de som para mostrar o que tinha acontecido. Nunca mais tivemos esse tipo de comportamento no local.”
No mesmo ano, a legislação que trata do funcionamento dos zoológicos do país foi regulamentada. “O texto obriga cada unidade a ter segurança para os animais e para os visitantes e funcionários. A área destinada aos animais precisa de espaço suficientemente saudável e isolado. As pessoas não podem ter contato com as espécies. De lá para cá, posso dizer que esse tipo de problema diminuiu muito.”


 



 


 


 


 


Nem a Sociedade de Zoológicos do Brasil e nem o Ibama têm dados fechados sobre o volume de casos de mortes de animais no país que tenham sido provocadas pela ingestão de objetos estranhos. Na avaliação dos administradores de Zoos este número é alto.


 


 Cuidado: nem sempre o alimento é adequado a aquele animal


 


 


 


 


Acima, o Bisão que morreu


 


 


 


 


Mortes misteriosas


Sessenta e nove animais morreram no Parque Zoológico de Goiânia desde janeiro deste ano. Biólogos e a polícia tentam descobrir o que está causando as mortes. Em agosto, um bisão, que tinha mais de 17 anos, morreu. Um casal de hipopótamos, de girafas, um jacaré, uma onça e até um leão também estão na lista de mortos.Em janeiro, a unidade tinha 589 animais e chegou a ficar com 520 espécies após as mortes. Hoje, com 33 nascimentos registrados no local, o parque abriga 553 animais. “Os laudos das mortes que temos conhecimento até agora indicam causas distintas. Nenhuma das mortes tem relação com a outra. É uma gama de fatores que está sendo investigada”, disse Cristiane Miguel, coordenadora de fauna do Ibama em Goiânia. O zoológico foi interditado em 20 de julho e não recebe mais visitantes. Por causa das mortes, uma força-tarefa, composta por integrantes do Ministério Público, Universidade Federal de Goiás, Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA), do Ibama e do Conselho de Medicina Veterinária, acompanha o caso.
“O zoológico é antigo, fica na região central da cidade e precisa ser revisto. Não sabemos se tem condições de receber visitação pública, porque ainda devemos levar em consideração a questão de educação ambiental e costume das pessoas quando visitam o zoológico. Elas oferecem comida, jogam pedras e outros objetos para chamar a atenção dos animais e também fazem barulho”, disse Cristiane.


O bom exemplo vem de Curitiba


Algumas das principais atrações do Zoológico Municipal de Curitiba já entraram na terceira idade e, assim como os humanos, também precisam de cuidados especiais. A chimpanzé Imperatriz, a girafa Pandinha e a tamanduá-bandeira Clotilde recebem tratamento diferenciado da bióloga e do veterinário.



Chimpanzé Imperatriz, de 43 anos, é o animal mais velho do Zoológico Municipal de Curitiba


Os sinais de velhice dos animais são bem parecidos com os dos humanos. Os pelos nascem brancos, os movimentos ficam mais lentos e a dentição fraca. O animal mais velho do zoológico é a chimpanzé Imperatriz. A perspectiva de vida da espécie fica entre 50 e 60 anos. A chimpanzé já completou 43 anos e é o xodó da bióloga Teresa Cristina.
Segundo a bióloga, os cuidados com Imperatriz são ainda maiores durante o inverno. “Quando suspeitamos de resfriado, damos para ela vitamina C ou xarope. Nos dias de muito frio, damos um chá morno, que ela adora.”, revela Teresa. Ela também conta que o lugar onde a chimpanzé mora tem aquecimento. Além disso, ela tem seu próprio cobertor e uma cama de palha. “A cama não pode ser de madeira porque senão eles destroem. Imperatriz até arruma a cama dela quando acorda”, relata a bióloga.
A girafa Pandinha tem 20 anos. Embora a espécie viva em média 26 anos, ela não apresenta sinais de velhice. Mesmo assim, Pandinha merece o olhar atento dos tratadores. Além da ração, a girafa também recebe alimentação específica para a espécie. (Foto: Orlando Kissner/SMCS)


Tamanduá-bandeira
A tamanduá-bandeira Clotilde completou 22 anos. Há pouco tempo passou por uma cirurgia e teve todos os cuidados para se recuperar. Ela está perto de bater o recorde de sobrevivência da espécie em cativeiro. O veterinário do zoológico, Manoel Javorouski, conta que encontrou um registro indicando que outro animal da mesma espécie viveu 25 anos e 10 meses.  Os especialistas explicam que os animais que vivem em cativeiro costumam ter a vida mais longa que aqueles que vivem na natureza. Isso porque eles recebem tratamento e não se expõem a riscos para se alimentar. “Sempre é melhor que o animal esteja no seu habitat natural, mas no cativeiro eles merecem toda nossa atenção para que tenham uma boa qualidade de vida”, diz o veterinário. No zoológico de 530 mil metros quadrados vivem mais de 80 espécies de animais. A Prefeitura de
Curitiba informa que nos fins de semana chegam a circular
mais de 10 mil pessoas pelo parque. A entrada é gratuita.


 Aos 20 anos, girafa
Pandinha esbanja saúde


 


 


 


 Prestes a ser a tamanduá-bandeira mais
célebre da espécie, Clotilde recebe atenção do tratador