Geni Alexandria

Belezas do ILUSTRANDO O CERRADO

24 de novembro de 2009

Como a veterinária Geni Alexandria prescreveu belíssimas e criativas receitas para a preservação do Cerrado

Profissional dedicada, o trabalho de Geni Alexandria não parou aí. Depois das muitas incursões pelos campos e matas do Cerrado, ela passou a admirar e a respeitar ainda mais a natureza. Virou fotógrafa. Registrava em fotografia tudo de interessante que via. Tudo com uma finalidade: ilustrar a flora do Cerrado. E veio a recompensa pelo trabalho. Um ano depois de iniciar nas ilustrações foi premiada em primeiro lugar pela Fundação Margaret Mee (1) no Concurso de Ilustração Botânica Philip Jenkins 2007 – Categoria Cores, realizado em parceria com a Sociedade Botânica do Brasil e o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. E, agora, Geni Alexandria acaba de lançar seu primeiro livro: Ilustrando o Cerrado. O livro revela as belezas científicas das pesquisas e do trabalho desta veterinária de 46 anos, que nasceu paulista, se criou em Goiânia, mas fez do Cerrado sua referência de sonhos e de vida.


 



Capa do livro
ILUSTRANDO O CERRADO,
da pesquisadora
Geni Alexandria


 


 


 


 


Entrevista


GENI ALEXANDRIA


Veterinária, colecionadora de plantas, fotógrafa e ilustradora, Alexandria deixa o recado:”É importante estudar e ilustrar plantas que estão em risco de extinção. Este é um trabalho que exige rigor e urgência, pois é um registro histórico e científico que vai ajudar estudos no futuro”.


FOLHA DO MEIO – Antes da fotografia, compreende-se que todo botânico precisava ser um bom ilustrador. Hoje, com a evolução da fotografia, ainda é importante a ilustração?
GENI ALEXANDRIA – A ilustração é importante para dar os mínimos detalhes de uma planta. A fotografia tem seu valor, pois dá o sentido conjunto, mostra o ambiente natural. Mas com a fotografia não é possível que se obtenha nitidez de detalhes em todos os pontos da planta. O desenho científico registra de forma muito especial e detalhada tudo que se quer. Informações que dizem respeito à espécie são melhor retratadas e é possível evidenciar características que são de grande importância para sua identificação.


FMA – Como o ilustrador trabalha com uma espécie a ser ilustrada?
GA – Primeiramente o mais importante é estar em contato com o exemplar a campo, ou seja, no seu habitat natural. A observação tem que ser minuciosa para que não se deixe de perceber nenhum detalhe. A ilustração científica registra, portanto, toda informação que caracteriza a espécie. Anotações também são feitas e a coleta de matéria: folhas, flores sementes ou um galho, sempre tomando o cuidado de não prejudicar a planta e jamais arrancar o exemplar.


FMA – Após a coleta do material, como é finalizado o trabalho?
GA – Olha, a ilustração botânica exige muita dedicação, muito estudo e, sobretudo, muita paciência. E tem outro detalhe: muitas vezes o ilustrador espera meses para voltar ao mesmo local de coleta, pois tem que aguardar que a espécie esteja em outro estágio vegetativo, florescendo ou frutificando, por exemplo, para que se possa dar continuidade ao trabalho.


FMA – Você tem uma técnica especial?
GA – Evidente que cada ilustrador tem sua técnica. Eu, de minha parte, procuro trabalhar minhas ilustrações com a máxima perfeição e fidelidade. Para finalizá-los busco interagir meus sentidos com os que a natureza me transmitiu quando com as mãos senti a textura e a consistência. Tudo tem que ser informado através do desenho.


“Não sou eu que
digo: terminei! É
a ilustração que diz,
como se já
pudesse sair
do papel: estou
pronta!”



FMA – Quando considera um trabalho finalizado?
GA – Todo profissional fica feliz com a finalização de seu trabalho. Mas que mais me satisfaz é quando eu trabalho os detalhes, quando a textura se define e dá aquela vontade de tocar. Não sou eu que digo: terminei! É a ilustração que diz, como se já pudesse sair do papel: estou pronta!


FMA – Você é uma técnica muito consciente de seu trabalho. Qual a razão de tal dedicação com a natureza?
GA – Acredito que com o conhecimento passa-se a admirar e consequentemente a preservar. O plantio de variadas espécies nativas e exóticas e a ilustração de espécies nativas do cerrado, no decorrer dos anos, é produto de muito carinho e dedicação, com o intuito de contribuir para a difusão e a preservação do Cerrado. Ainda é cedo para resultados concretos, mas ainda que modestos, eles certamente vão existir para reconhecer tal dedicação.


FMA – E quando surgiu a oportunidade de mostrar esse seu trabalho em um livro?
GA – Foi quando o IPHAN na pessoa de Carlos Fernando de Moura Delphim, arquiteto e paisagista, e de Salma Saddi, superintendente regional de Goiás do IPHAN, tomou conhecimento do trabalho que eu vinha realizando. Como conhecedores deram importância e valor à qualidade do meu trabalho e me convidaram a produzir este livro.
 
E nasce uma ilustradora…


FMA – Como e por que você decidiu ir além da fotografia para a ilustração?
GA – Em 2006, iniciei um curso de ilustração em aquarela, onde aprendi a técnica dessa pintura com o mestre Tai Hsuan-an (2). Assim, eu descobri que era capaz de ilustrar. Por incentivo deste professor participei do curso. E já em 2007, fui premiada por uma das minhas produções. Isso me incentivou a dar continuidade às ilustrações, que hoje é parte principal do meu trabalho com a preservação do Cerrado.


FMA – O livro dá prestígio e visibilidade. Após sua publicação, alguma coisa muda em relação a seu trabalho? 
GA – É verdade, o trabalho passou a exigir um maior compromisso, porque minha responsabilidade com quem conhece e valoriza o trabalho aumentou muito. E tenho que dar continuidade a esse projeto, por isto estou cada vez mais empenhada.


FMA – Como foi o processo de produção do livro?
GA – Minha intenção neste livro foi apresentar um pouco do trabalho que realizo com as espécies do Cerrado. Me entreguei muito ao livro justamente porque  procurei mostrar todas as etapas do universo que envolve cada prancha, desde a coleta do material até a finalização da ilustração.
 
FMA – Quais são seus próximos projetos com a ilustração?
GA – Quando a gente começa um trabalho destes, parece não ter fim. Uma coisa puxa a outra. Como a diversidade do Cerrado é muito grande, no início me dediquei mais às palmeiras, depois passei a trabalhar por regiões, atualmente estou dando ênfase a espécies características de cerrado de altitude, assim estou ilustrando plantas de diversas localidades. O interessante é que quanto mais me aprofundo nos estudos, tanto mais sinto necessidade de orientar meu trabalho. Gosto de representar nas pranchas espécies que caracterizam certas regiões. E tem um dado fundamental: é importante estudar e ilustrar plantas que estão em risco de extinção. Este é um trabalho que exige rigor e urgência, pois é um registro histórico e científico que vai ajudar estudos no futuro.


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Cacho de Allagoptera campestris
Local de coleta: Cachoeira de Goiás – GO
 
Allagoptera campestris, (Mart.) Kuntze
Nomes populares: buri; ariri
Importância: potencial paisagístico e seus frutos são avidamente procurados pela fauna regional. Ocorrência e hábitat: solos secos e pobres dos campos e Cerrados do Centro-Oeste e parte da Região Nordeste. Sua presença é relativamente abundante, mesmo em solos degradados.
 Esta ilustração obteve o primeiro lugar na categoria Cores, no XV Concurso Philip Jenkins de Ilustrações Botânicas, realizado em 2007 pela Fundação Margareth Mee em parceria com Sociedade Botânica do Brasil.


Entrevista – GENI ALEXANDRIA


“É importante ilustrar plantas em risco de extinção”.


FMA – Como e por que você decidiu ir além da fotografia para a ilustração?
GA – Em 2006, iniciei um curso de ilustração em aquarela, onde aprendi a técnica dessa pintura com o mestre Tai Hsuan-an (2). Assim, eu descobri que era capaz de ilustrar. Por incentivo deste professor participei do curso. E já em 2007, fui premiada por uma das minhas produções. Isso me incentivou a dar continuidade às ilustrações, que hoje é parte principal do meu trabalho com a preservação do Cerrado.


FMA – O livro dá prestígio e visibilidade. Após sua publicação, alguma coisa muda em relação a seu trabalho? 
GA – É verdade, o trabalho passou a exigir um maior compromisso, porque minha responsabilidade com quem conhece e valoriza o trabalho aumentou muito. E tenho que dar continuidade a esse projeto, por isto estou cada vez mais empenhada.


FMA – Como foi o processo de produção do livro?
GA – Minha intenção neste livro foi apresentar um pouco do trabalho que realizo com as espécies do Cerrado. Me entreguei muito ao livro justamente porque  procurei mostrar todas as etapas do universo que envolve cada prancha, desde a coleta do material até a finalização da ilustração.
 
FMA – Quais são seus próximos projetos com a ilustração?
GA – Quando a gente começa um trabalho destes, parece não ter fim. Uma coisa puxa a outra. Como a diversidade do Cerrado é muito grande, no início me dediquei mais às palmeiras, depois passei a trabalhar por regiões, atualmente estou dando ênfase a espécies características de cerrado de altitude, assim estou ilustrando plantas de diversas localidades.
O interessante é que quanto mais me aprofundo nos estudos, tanto mais sinto necessidade de orientar meu trabalho. Gosto de representar nas pranchas espécies que caracterizam certas regiões.
E tem um dado fundamental: é importante estudar e ilustrar plantas que estão em risco de extinção. Este é um trabalho que exige rigor e urgência, pois é um registro histórico e científico que vai ajudar estudos no futuro.


 


Castiçal – Wunderlichia mirabilis
Local de coleta: Serra Dourada – Cidade
de Goiás – GO

Wunderlichia mirabilis, Riedel
& Baker
Nomes populares: castiçal; flor-do-pau
Importância: ornamental e preservação.
Ocorrência e hábitat: campos de altitude, em terrenos pedregosos (Serra Dourada e Pirenópolis).
Planta endêmica.


Esta ilustração faz parte de uma exposição em comemoração
ao centenário de Margaret Mee no Centro Cultural dos Correios – Rio de Janeiro no período de 11 de novembro a 20 de dezembro de 2009.


 


SUMMARY


ILLUSTRATING THE CERRADO


Veterinarian, Geni Alexandria prescribes a beautiful and creative cure for preserving the Cerrado


 


The professional life of Geni Alexandria literally began in the field.  After graduating from the Universidade Federal de Goiás school of veterinary medicine in 1988, Geni Alexandria headed toward the lands in the state of Goiás and took on the Cerrado to work with farmers there.  In the course of her mission, the young veterinarian, traveled through a number of regions to offer her technical assistance: she provided guidance on the use of pesticides, final use/disposal of packaging, correct use of the soil and the importance of natural resources, especially water. She mapped out erosion and explained how to avoid it. She also visited, analyzed and recommended areas to be devoted to environmental preservation reserves. Geni Alexandria truly researched the Cerrado, discovered its potential and gained awareness of the biome environmental reality.


 


As a dedicated professional, the work of Geni Alexandria did not stop there.  After a number of incursions into the fields and woods of the Cerrado, she gained even greater admiration and respect for nature.  She became a photographer and recorded every interesting thing she saw, all for one purpose – to illustrate the plant life of the Cerrado. She has been rewarded for her work.  One year after she began the illustrations, she was awarded first place by the Fundação Margaret Mee. Geni Alexandria has also just released her first book:  “Ilustrando o Cerrado” (Illustrating the Cerrado). The book reveals the scientific beauty involved in the research and work this 46-year old veterinarian has performed.  Born in the state of São Paulo, she grew up in the city of Goiania, Goiás State, but made the Cerrado her dream and her life.


 


GENI ALEXANDRIA – Interview


 


The importance of Illustration


Illustration is important to enable the smallest details to be seen of the plant.  Photography is invaluable because it gives a full picture and shows the natural environment.  However, photography cannot provide clarity of all the fine details of the points on a plant.  


 


The work


Observation has to be minute so that no detail goes undetected.  Scientific illustration records therefore, all information that defines a species.  Notations are also made and the material is collected: leaves, flowers, seeds and branches, at all times taking care not to injure the plants and the specimens are never pulled out by their roots.  


 


Dedication


Botanical illustration requires a great deal of dedication and study and above all much patience.  Often the illustrator waits months to return to the same collection locale, because you have to wait until the species is in another stage of growth, flowering or bearing fruit.


 


Awareness from illustration


Native species illustrations of the cerrado, over the years, are the product of much caring and dedication, for the purpose of contributing toward the discovery and preservation of it.


 


        


An illustrator is born…


In 2006, I took up illustration in watercolors, where I learned this painting technique with the master, Tai Hsuan-an. That was when I learned I had a knack for illustration.  I took part in the course and by 2007 I had already won an award for one of my productions.  This encouraged me to continue with illustration.


 


Book production


My intention for this book was to present a little of the work that I do with the Cerrado plant species. I gave myself over to the book because I was seeking to present all the stages of the universe that involves my work, ranging from the collection of material until the final illustration


When we take on an effort such as this, there seems to be no end in sight.  One thing leads to another. Since the diversity of the Cerrado is so immense, in the beginning I devoted my work more toward palm trees, afterword I began working by region and currently I have stressed species that are characteristic of the high altitude cerrado, thereby illustrating plants from a range of locations.