Por que nossas praias são tão sujas?
23 de março de 2010Umas mais outras menos, as praias brasileiras são verdadeiras lixeiras a céu aberto.
O verão é uma época crítica para grande parte da costa brasileira. A preferência nacional dos turistas é pelas praias, mas as condições de balneabilidade de algumas delas deixa a desejar. Tirando a poluição causada pelos despejos industriais e dejetos orgânicos, ainda tem a propagação do lixo marítimo de ponta a ponta dos pólos, que pede uma vigilância mundial. Mas a população também tem uma boa parcela dessa culpa. Basta olhar para as praias ao final de uma tarde de verão. O que se vê é uma verdadeira lixeira a céu aberto. São milhares de carcaças de coco vazias, copos descartáveis, latas de cerveja, canudos, garrafas e sacos plásticos “esquecidos” na areia. Não só a população que mora no litoral, mas também aquela que costuma passar as férias ou feriados na praia é uma das maiores responsáveis pela grande quantidade de lixo que vai sendo depositada no fundo do mar.
É fato, o ser humano produz cada vez mais lixo e se descarta dele com uma velocidade maior ainda. O plástico é a grande praga dos mares. Muitas tartarugas marinhas e baleias acabam ingerindo sacos plásticos, confundindo-os com medusas (seu alimento natural) e morrem por asfixia. Até bem pouco tempo atrás, uma tartaruga verde – Chelonia mydas – foi encontrada morta em uma praia no litoral sul da Bahia. Uma equipe de cientistas, ao abrir o animal para detectar a causa de sua morte, encontrou um pequeno frasco plástico de xampu de um famoso resort da região. Certa vez foi encontrada uma baleia com 50 sacos plásticos entalados na garganta. Aves marinhas também confundem bolinhas de polietileno com alimento, o que lhes dá a sensação errada de saciedade. Exemplos assim não faltam. Além da poluição “visual”, correntes marinhas deslocam os desperdícios de um lado a outro, já que suas correntes ascendentes podem trazer das profundezas resíduos perigosos, enterrados há décadas.
Tartaruga com complicação para respirar devido ao
plástico engerido
Campanhas educativas
As ações da mídia e dos governos deveriam ser mais constantes
A mídia faz, ano após ano, campanhas para não poluir as praias brasileiras. Mas, pelo que se vê, são pouco eficientes e com resultados inexpressivos. O que falta realmente é educação, além de políticas públicas eficazes. Em 2009, a Universidade Federal do Rio de Janeiro lançou o estudo “O Macrodiagnóstico da Zona Costeira e Marinha do Brasil”, que se propõe a ajudar o governo a estabelecer metas de conservação, regulamentação e controle do litoral.
A vida marinha é uma das mais ameaçadas e o litoral brasileiro só tem 0,5% de área protegida! Outro problema frequente que afeta os oceanos é a ocupação desordenada, destruindo muitas vezes partes importantes de restingas, manguezais e formações de corais. São locais onde centenas de espécies marinhas se reproduzem e, consequentemente, são os maiores afetados com a degradação dos mares. Mas ainda existem bons exemplos, como a recente criação do novo Parque Natural dos Corais e da APA Marinha do município de Búzios, no litoral fluminense. Depois de muito tempo no papel, o zoneamento dessas áreas já é uma realidade na região. Há pontos específicos na orla de Búzios onde as barreiras de corais afloram próximas a superfície.
Na região do Parque dos Corais, que compreende as praias da Tartaruga, João Fernandes e a Orla Bardot, o turismo continuará a ser explorado, só que de maneira sustentável, assim como o mergulho e o banho de mar. A proibição é para a ancoragem de barcos, a pesca e a retirada de espécies marinhas. A criação dessas áreas vem para ajudar na preservação de espécies endêmicas da região e de outras tantas que ali vivem. Com a proteção dessas áreas, espera-se melhorar a fiscalização da pesca, delimitando áreas de cerco, bem como proibir a pesca submarina e delimitar áreas de ancoragens e manobras de grandes navios de cruzeiro, comuns na região. Esta iniciativa é resultado de um estudo realizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente em parceria com o “Projeto Coral Vivo”, Colônia de Pescadores Z-23 e pesquisadores da UFRJ, UFF e UERJ. Assim, Búzios protege seu maior patrimônio, o mar.
Como não é possível fechar todas as zonas de grande valor
A praia da moda de hoje é a triste realidade de poluição do amanhã. Fim de semana de sol é sempre a tristeza de um início de semana de areias poluídas.
ecológico à exploração do homem, há que proteger a biodiversidade marinha com tudo o que tiver a nosso alcance. Os oceanos têm duas grandes ameaças deflagradas: o homem e as mudanças climáticas. Pelo menos da nossa parte, temos que tomar uma atitude
Poluição dos mares e rios pelo derramamento de petróleo de navios e de oleodutos.
verdadeira, seja não pescando em locais proibidos, não retirando corais para levar de ‘lembrança’, ou simplesmente não sujando as praias que pretendemos voltar tantas vezes com nossos filhos e netos. Por mais que façamos, ainda é muito pouco! (BFB)