Amazônia e sustentabilidade

Pandora Amazonica

23 de abril de 2010

Manaus realiza Fórum Internacional de Sustentabilidade com presenças realiza Fórum Internacional de Sustentabilidade


 


Cameron faz conexão
da biodiversidade
da floresta tropical com
Pandora de Avatar


 


Tecnologia e educação vão salvar as florestas
Thomas Lovejoy: as boas e más notícias sobre a Amazônia


“No projeto do Juma,
na prática, os moradores das comunidades ribeirinhas são recompensados por evitar o desmatamento e diretamente beneficiados com escolas e investimentos na cadeia produtiva de cada localidade”.


O cientista norte-americano Thomas Lovejoy começou sua conferência dando uma boa notícia quanto à questão do desmatamento na Amazônia: “A ciência e a educação podem construir programas que contribuam para a redução do desmatamento, fundamentais ao Brasil e ao mundo”. Como exemplo, o cientista mencionou o projeto que vem sendo desenvolvido na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma, no município de Novo Aripuanã.
Na prática, os moradores das comunidades ribeirinhas são recompensados por evitar o desmatamento e diretamente beneficiados com escolas e investimentos na cadeia produtiva de cada localidade.
Lovejoy mencionou, ainda, que ficou encantado com o que presenciou em outra área protegida do Estado do Amazonas, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro. “Tive o privilégio de participar da inauguração de uma escola em uma reserva. Este projeto, desenvolvido pela Fundação Amazonas Sustentável e Governo do Estado é a prova de que tecnologia e educação podem ser direcionadas à sustentabilidade”.
 Na avaliação do pesquisador, os projetos no Amazonas estão no caminho certo, mas precisam ser ampliados. “É preciso crescer com o que já está implantado. Sem nunca pensar em retrocesso e somente em outras formas de implantação de novos projetos”.
Ao mesmo tempo em que ressaltou o papelchave da Amazônia para a estabilidade do clima global, Lovejoy levantou questionamentos em relação às intervenções humanas na floresta – como por exemplo, a necessidade de construção de estradas que podem servir de vetores de desmatamento na região. “A rodovia Transoceânica está levando ao surgimento de garimpo ilegal na Amazônia peruana”, explicou. “Antes de se abrirem novas rodovias, é importante avaliar a possibilidade de uso de outros modais de transporte, como, no caso da Amazônia, da hidrovia”, salientou.
Ao mesmo tempo em que destacou como a ação do homem pode ser prejudicial, Lovejoy cita também iniciativas que considera positivas para a floresta, como a criação de reservas.
 Ao mostrar um mapa da atual quantidade de áreas protegidas existentes na região, comentou: “É extraordinário. É algo de que não se poderia sonhar quando coloquei os pés pela primeira vez na Amazônia, em 1965”. A porção de florestas em reservas aumentou consideravelmente desde então, quando praticamente não havia unidades de conservação.


SAIBA MAIS


Quem é Thomas Lovejoy


Thomas Lovejoy é um pesquisador especial. Norte-americano de nascimento, mas brasileiríssimo pelos trabalhos realizados na Amazônia e pelas amizades construídas em todo Brasil. Chegou à Amazônia em 1965. Em 1979, plantou  próximo a Manaus uma ARIE – Área de Relevante Interesse Ecológico, com o nome de Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais. Agora, 31 anos depois, colhe uma supersafra de estudos técnicos, explicações científicas e respostas importantíssimas que vão direcionar a correta e eficiente ocupação e proteção da floresta. É com esta responsabilidade de quem pesquisou muito e estudou profundamente o solo e as condições climáticas que Tom Lovejoy participou do Fórum Internacional de Sustentabilidade,
em Manaus.


A rodovia Transoceânica está levando ao surgimento de garimpo ilegal na Amazônia peruana”.
Thomas Lovejoy


 


Tecnologia a favor da Amazônia


Al Gore: Vender uma floresta pelo valor da madeira é o mesmo que vender um computador pelo valor do silício.


Mesmo com um tema específico “A importância da conservação da Amazônia para deter o aquecimento global e as mudanças climáticas”, Al Gore fez sua palestra convencional. Suas idéias se baseiam em duas vertentes: as soluções devem partir de uma escolha coletiva mundial, mas isso só pode sair do papel se houver vontade política dos líderes mundiais.
O Prêmio Nobel da Paz de 2007 voltou a citar as iniciativas de implementação de redes inteligentes que usem, por exemplo, a energia produzida por biomassa como o biocombustível da cana-de-açúcar (aqui ele fez um elogio ao Brasil), a energia eólica e a solar. Para Gore, “com tecnologia disponível precisa-se da adesão dos empresários para que mudem paradigmas históricos de produção, aceitem gastar mais, investir em tecnologia em seus parques industriais para que se obtenham produtos tanto quanto aceitáveis no mercado, porém com impacto ambiental menor”.
Para Al Gore, no meio dessa combinação tecnologia-mercado, ficam os governos com a responsabilidade de implementar suas políticas ambientais de maneira a organizar e sistematizar planos de compensação aos que deixam de poluir e que conseguem manter seus recursos naturais o mais intactos possíveis. Essa lógica de defesa leva Gore a rodar o mundo defendendo várias ações: criação do imposto sobre carbono, compensação internacional dos países que conseguem manter o menor possível a degradação de seu meio ambiente.


Floresta Amazônica
Ao responder uma pergunta sobre a importância da tecnologia da informação como ferramenta importante no combate ao aquecimento global, Al Gore explicou que é um grande defensor do uso da internet e das novas tecnologias de informação na busca de soluções. “A ferramenta mais poderosa – garantiu ele – que jamais tivemos nas nossas mãos seja a tecnologia da informação, que nos capacita a entender o mundo e encontrar soluções para os desafios”.
E deu um exemplo prático de como a internet pode mudar a realidade de algumas populações, como as tribos indígenas da Amazônia. “Algumas tribos hoje usam Google Earth e GPS para definir os limites de seus territórios, que já eram conhecidos de seus ancestrais. Estas informações científicas são usadas, a seu favor, até nos tribunais”. Gore também citou como exemplo a tecnologia usada para monitorar o desmatamento, que auxilia no processo de REDD (redução das emissões geradas com o desmatamento e a degradação florestal), mecanismo de compensação financeira para preservação das florestas. “O monitoramento proporcionou um acordo sobre o REDD. E não teria como ser feito só olhando em volta”, lembrou Al Gore.  (SG)


SAIBA MAIS


Quem é Al Gore


Al Gore é um daqueles políticos que, pode-se dizer, incomum. Foi um senador e um vice-presidente discreto de Bill Clinton (1993 a 2001). Perdeu a eleição para presidente dos Estados Unidos para George Bush, mas não ficou no ostracismo. Conseguiu aumentar em muito sua popularidade justamente depois que deixou o poder. Pegou o discurso ambiental com força total, produziu um documentário – Verdade Inconveniente – que o levou ao Oscar e ainda ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2007. Aos 62 anos, Albert Arnold Gore Jr, foi uma das estrelas no Fórum Internacional de Sustentabilidade, realizado em Manaus.


 


James Cameron: “Avatar é para criar indignação. É um convite à ação”


 


 


 


Com uma imagem forte, ao falar de seu filme Avatar – maior sucesso em todos os tempos – James Cameron foi categórico na defesa do planeta contra o aquecimento global pelas mudanças climáticas: “Será que não estamos entre aqueles 90 segundos em que o marinheiro avista o iceberg e o desastre? E esse desastre vai atingir a todos porque precisamos ter claro que quando Titanic afundou e tanto a primeira e como a quarta classe foram para o fundo”. Depois de fazer um sobrevôo sobre a floresta amazônica nos arredores de Manaus até o Parque das Anavilhanas, no rio Negro, James Cameron – mesmo dizendo maravilhado com a floresta – descartou qualquer possibilidade de filmar fora de estúdios.  “Talvez pense numa possibilidade de usar imagens da floresta em um documentário ou filme, mas não em fazer cenas dentro da mata”. Em seu discurso no Fórum, Cameron mostrou defesa engajada na defesa do planeta e à proteção do meio ambiente.  Foi explícito ao afirmar que seu filme Avatar é um ícone de defesa às florestas. “Avatar não é uma condenação à humanidade, mas é para criar indignação. É um convite à ação”.


 


O que pensa James Cameron
Sobre o Planeta, o Brasil, a floresta, Belo Monte e muito mais


1 PLANETA
O ser humano está levando a humanidade ao seu limite. E o que vai acontecer quando a capacidade de suporte deste planeta for excedida? O abuso do uso de energia é terrível. Não podemos trazer a alface da nossa salada de três mil milhas de distância…


2 Brasil
Reconheço os esforços do Brasil para deter o aquecimento global. Eu sei que os brasileiros não gostam que os norte-americanos venham aqui falar o que fazer ou o que não fazer. A América do Norte, que gera sozinha 25% da energia do mundo, precisa assumir esta parcela de responsabilidade.


3 Floresta
A defesa da floresta e o reflorestamento devem ser parte de um esforço global. O Brasil não pode pagar pela floresta sozinho enquanto todo o mundo se beneficia de sua floresta. A verdade é que são os países industrializados que deveriam se mobilizar para financiar a floresta em pé.


4 Manaus
Não conheço nenhum outro lugar como o Brasil, onde o governo e as indústrias  tenham essa preocupação ambiental, que é ainda maior no Amazonas.


5 Barak Obama
O presidente norte-americano Barack Obama ainda não assumiu a liderança que tem nas discussões globais sobre o tema ambiental. Obama fez promessas durante sua campanha e acho que precisa focar mais nessas questões. O debate político Democrata está muito focado na reforma da saúde, mas você não pode ter um plano de saúde em um planeta doente. Ele foi a Copenhague e não foi capaz de liderar o debate.


6 Belo Monte
O presidente Lula deve reconsiderar a hidroelétrica de Belo Monte. Amigos ambientalistas me falaram do projeto desta  megausina que vai desviar as águas do rio Xingu e pode afetar 25 mil moradores locais. Pretendo ir até a região para conhecer melhor os problemas. O que sei é que a barragem vai destruir a vida das populações ribeirinhas. Eles são povos ameaçados como os Navi, mas infelizmente não tem aquelas criaturas aladas para ajudar na luta.


7 Energia Alternativa
Meu entusiasmo é com as energias alternativas, como a eólica e a solar, embora considere a hidrelétrica também adequada para regiões de menor impacto, como o deserto. O Brasil deve ser celebrado por causa de seu uso de biocombustíveis.


8 Avatar
O filme Avatar é diferente de “Verdade Inconveniente”. O filme do Al Gore é um documentário que muniu o expectador com informações sobre as mudanças climáticas e o meio ambiente. Avatar é para criar indignação. Foi criado para trazer uma resposta emocional, visceral. É hora de acordarmos e prestarmos atenção no que está acontecendo. Não fiz o filme Avatar para ganhar dinheiro, mas por algum motivo se tornou o filme mais visto da história. E acho que o sucesso significa que as pessoas estão despertando para as questões ambientais e este perigo de destruição do planeta.


9 Avatar 2
Visitei várias florestas, mas o filme foi feito em estudios na Nova Zelândia e Los Angeles. Não há possibilidade de rodar uma continuação de “Avatar” na Amazônia brasileira, ou mesmo na Venezuela, como dizem. O filme é feito em computação gráfica e nem uma folha que aparece durante a aventura é real. A sequência, ou Avatar 2, deve mostrar, além da floresta, também a vida no oceano de Pandora, o planeta fictício onde a trama da primeira parte se desenvolve.


10 Documentário
Se eu for realizar algum projeto na floresta amazônica, talvez seja um documentário associado a Avatar, falar com os indígenas e trazer os atores do filme. Não quero trazer uma estrutura de caminhões de Hollywood para arruinar ainda mais a floresta.


11 Mercado Ambiental
Ainda há dificuldades para se entender a sustentabilidade como negócio, mas é preciso mudar os hábitos. Faço isto na minha casa e na minha empresa. Sei que aqui neste Fórum só tem empresários e por isto precisamos criar uma contabilidade para o carbono e o REDD (1). É uma idéia que pode reconciliar todas as idéias numa base de mercado livre.


12 Glossário
(1) REDD – A Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação é um mecanismo de compensação financeira aos países em desenvolvimento pela preseravação de suas florestas. Tem sido o principal método econômicos para o incentivo de redução de monóxido de carbono (CO2) lançado na atmosfera.


SUMMARY


Amazon and Sustainability Forum


AL GORE: how information technology can save the forest


Even with such a precise topic “The importance of preserving the Amazon to contain global warming and climatic changes”, Al Gore gave a conventional presentation. His ideas are based on two prongs: solutions must come from a collective world choice, but this can only become a reality if there is willingness on the part of the world leaders.


The 2007 Nobel Peace Prize winner, once again cited initiatives implemented by intelligent networks that use, for example, energy produced from biomass, such as the biofuel sugar cane (he praised Brazil for its efforts in this regard), wind and solar energy. Gore believes that with the available technology, business leaders must also be on board, since they are the ones who can change historic production paradigms. They must recognize that they will need to spend more and invest in technology in their industrial plants to achieve products that are not only acceptable on the market, but create a lower environmental impact as well.  


Amazon Forest
When discussing the Brazilian rainforest, Al Gore was adamant, and likened the sale of the forest at the price of lumber to selling a computer at the price of silicon. He believes that we must understand the value of the entire forest diversity. Plant and animal diversity and the production of water, and that to defend and work with the forest we must be careful, but we also must be audacious. 
When asked about the importance of information technology as a tool in the fight against global warming, Al Gore explained that he is a great proponent of the use of the internet and new information technologies in the search for solutions. He assures that the most important tool, which we have never before had in our hands, is information technology, which is capable of understanding the world and finding solutions to challenges. He also gave practical examples as to how the internet can change the status of some populations such as the indigenous tribes in the Amazon.  Some of them use Google Earth and GPS to define the boundaries of their territory, which were known to their ancestors. This scientific information has been used in their favor even in Court. Gore also cited as an example the technology used to monitor deforestation, which aides in the REDD (reduction of emissions generated from deforestation and degradation) process, a financial offsetting mechanism for preserving the forests. According to Gore, monitoring has helped reach an agreement in relation to REDD and this could not have happened by just looking around.  
 
JAMES CAMERON: Avatar is not a condemnation of humanity; it was to incite indignation After flying over the Amazon Forest surrounding the city of Manaus to the Parque das Anavilhanas, on the Rio Negro, James Cameron – even though he said he was amazed by the forest – rejected any possibility of filming outside the studio. He commented that he might consider using images of the forest in a documentary or film, but would not film inside the forest.  During his presentation at the Forum, Cameron demonstrated that he was indeed engaged in the defense of the planet and the environment. He explicitly explained that his film Avatar is an icon in defense of the forests. He also commented that Avatar is not a condemnation of humanity, but was created to incite indignation. It is an invitation to take action.


THE PLANET
Human beings are leading humanity to the brink. What will happen when the ability to support this planet is exceeded? The abuse of energy use is terrible. We cannot bring out salad lettuce from 3,000 miles away.


BRASIL
I recognize the efforts on the part of Brazil to combat global warming. I know that Brazilians do not like Americans coming here to talk about what they should and should not do. The United States alone generates 25% of the world’s energy; it must assume this part of the responsibility.


FOREST
Defense of the forest and reforestation should be part of the global warming effort. Brazil cannot pay for the forest alone while the rest of the world benefits from its woodlands. The truth is that it is the industrialized countries that should join forces to finance the forest.


MANAUS
I don’t know of any other place than Brazil where government and industries have this environmental concern which is even greater in the Amazon. 


BARACK OBAMA
US president, Barack Obama has still not assumed a leadership stance encompassing environmental discussions on a world scale. Obama made promises during his campaign, but I believe that he needs to place greater focus on these issues. The Democratic political debate has been more directed toward health on a sick planet. He went to Copenhagen and was unable to lead any debate.


BELO MONTE
President Lula should reconsider the Belo Monte hydroelectric plant. My environmental friends have told me that this mega plant project will detour the Rio Xingu waters and will affect 25,000 people who live in region.  I intend to go to the region to learn more about the problems. What I know is that the dam will destroy the life of the riverside populations. They are threatened peoples such as the Navi, but unfortunately there are no creatures to join them in the fight.  


ALTERNATIVE ENERGY
I am enthusiastic about alternative energy, such as wind and solar power, although I would include hydroelectric power as appropriate for lower impact regions such as deserts. Brazil must be commended on its use of biofuels.  


AVATAR
The film Avatar is different from “An Inconvenient Truth.” Al Gore’s film is a documentary that armed the spectator with information related to climatic changes and the environment. Avatar is to instill indignation. It was created to elicit an emotional response. It is time that we wake up and pay attention to what is happening. I did not make the film Avatar to make money, but for some reason it became the most viewed film in history. I think that the success means that people are waking up to the environmental issues and the danger of destruction of the planet.


 


De Avantar ao Xingu


Por Ricardo Carvalho (*)



Ricardo Carvalho e James Cameron


 


– “Mister Cameron, may I talk to you?”
James Cameron estava se levantando da mesa de trabalho. A meu pedido, ele se virou e, gentilmente, concordou em falar se Avatar 2 iria ser filmado na Amazônia brasileira e não na venezuelana, como estava se comentando…
“Em nenhuma das duas”, ele calmamente respondeu, ressaltando que a floresta de Avatar foi toda criada no computador. Disse também que Avatar 2 vai mergulhar nos mistérios do oceano, o que, naquele momento, era um furo de reportagem, pois nem o pessoal da comitiva dele sabia da novidade, me contou o Frank, brasileiro de nascimento, vizinho e amigo de Cameron.
Foi assim, com muita conversa, em um simples auditório em Manaus, que conheci James Cameron, recordista de bilheteria em toda a história do cinema com Avatar (e vice, com Titanic). Ao mesmo tempo, fui percebendo que a relação do cineasta Cameron com a história de Avatar é, no mínimo, simbiótica.


“Avatar 2 vai mergulhar nos mistérios do oceano, o que, naquele momento, era um furo de reportagem, pois nem o pessoal da comitiva dele sabia da novidade, me contou o Frank, brasileiro de nascimento, vizinho e amigo
de Cameron.”


Ele, que vinha de O Exterminador do Futuro, de Aliens, se torna, com Avatar, cujo enredo saiu da cabeça dele, um ambientalista. E tudo indica que não se trata de um famoso diretor de cinema que se torna um famoso ambientalista. O canadense Cameron tem hoje atitudes sustentáveis em seu cotidiano e é um ferrenho defensor dos índios, como a civilização Na’iv, de Avatar, os habitantes de Pandora, que não é um planeta, mas uma lua, com toda a sua carga romântica. Na defesa dos índios, Cameron foi fundo. Primeiro, recebeu com muito respeito a comitiva de indígenas da Amazônia que foi saudá-lo em pleno seminário. Buscou retribuir os gestos ritualísticos a ele dirigidos e, à noite, nos jardins do Teatro Amazonas, ficou extasiado com as cores, as danças e a malemolência do Boi de Parintins. E mais. Fez um apelo ao presidente Lula para que não construa a hidrelétrica de Belo Monte, na própria Amazônia, e sem a menor cerimônia passou dois dias visitando a região da hidrelétrica. Mas, afinal, nesta história toda, onde está o grande roteirista e cineasta, recordista de bilheteria, festejado em todo o planeta? Está onde o povo está, cantaria Milton Nascimento, porque já no dia 11 de abril, um domingo, ele estava de volta ao Brasil, em São Paulo, jantando com jornalistas e se encontrando com Marina Silva… E, no dia seguinte, em Brasília – de surpresa – participando dos protestos contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu. Prometeu, inclusive, que o tema ganhará as telas de Hollywood num documentário em 3D. Assim, cumpria sua promessa de que, como cineasta e cidadão, ficaria conectado ao Brasil por um bom tempo.


(*) Ricardo Carvalho é jornalista, cineasta e ambientalista