Bikeboys X Motoboys

Ciclistas pedem apoio

23 de abril de 2010

Serviço não lança CO2, inibe acidentes graves e incentiva a prática de hábitos saudáveis

O utra dificuldade é a falta de ciclovias. “No caso de Porto Alegre e da grande maioria das cidades brasileiras, temos apenas ciclovias de lazer, com uma pavimentação ruim, que não serve para o uso da bicicleta como meio de transporte”, reclama Marcos Rodrigues. “E quando andamos na pista, os motoristas nos mandam subir na calçada”, reforça José Paulo, criticando a falta de informação sobre o Código de Trânsito Brasileiro vigente. A lei determina que bicicletas devem andar na pista, próximas ao meio-fio, e receberem os devidos respeito e atenção por parte dos condutores de veículos motorizados. Não é o que acontece hoje.


PedEX: custo benefício
A expectativa da cooperativa é que a satisfação dos primeiros clientes com a prometida eficiência do serviço gere novos chamados. A frota conta com cinco bicicletas e os entregadores são os próprios sócios, ciclistas amadores, muitos tendo, inclusive, já participado de viagens nas bicicletas. Eles optaram por delimitar bem a área de cobertura da PedEx, localizada no bairro Cidade Baixa, área central da Capital: do Aeroporto Internacional Salgado Filho até o início da zona sul, onde está localizado o BarraShopping Sul. “Dentro dessa área, podemos atuar com competitividade, tanto de tempo de entrega quanto de custo”, garantem.


Bicicletas: saída  para o caos urbano
Motoboys aumentam o caos e número de acidentes cresce de modo alarmante


Comuns como meio de transporte ou para realizar serviços de entrega em países desenvolvidos ou mesmo nos subdesenvolvidos da Ásia, por exemplo, as bicicletas receberam no Brasil um caráter mais lúdico ou esportivo. O desejo de ter, de ascender socialmente, leva os brasileiros a sonhar com o carro próprio. E as bicicletas viraram acessórios de lazer, pouco vistos na paisagem urbana fora dos finais de semana. Essa realidade tem mudado em Porto Alegre graças a serviços de entrega por bicicleta.


Menos poluição


Com ruas cada vez mais congestionadas pelos veículos motorizados, estar num deles já não significa garantia de agilidade. Daí, o crescente número de motocicletas, colaborando com o caos no trânsito. As pessoas, portanto, evitam sair de seus escritórios e casas e quando precisam levar algum material a outro ponto da cidade, apelam aos já tradicionais motoboys. Todos defendem que a segurança deva ser uma prioridade entre as profissões e apoiam a direção defensiva, mas querem suas encomendas sendo entregues o mais rápido possível. O contra-senso faz com que o número de acidentes com motos cresça de modo alarmante.


Acidentes e poluição
Apenas no mês de janeiro, os acidentes passaram de 165 em 2001 para 368 em 2010 em Porto Alegre, segundo dados da EPTC – Empresa Pública de Transporte e Circulação. Considerando um ano inteiro, foram 2,46 mil em 2000 contra 4.573 em 2009. As vítimas fatais pularam de 42 para 66 nesse mesmo período, sendo que só em janeiro deste ano já foram 15 mortes. As motos correspondem a 11,61% dos acidentes de trânsito, enquanto as bicicletas fecharam 2009 com apenas 0,66% e uma única vítima fatal.  Ao contrário do que se acredita, uma motocicleta nova pode poluir até seis vezes mais do que um carro do mesmo ano. Estudos coordenados pela


Menos acidentes


Cetesb – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo mostraram que a concentração dos gases mais emitidos por motos – carbono e hidrocarboneto – vem aumentando progressivamente conforme as vendas de motocicletas também crescem. Uma moto roda, em média, 180 quilômetros por dia, enquanto um carro roda em média 30 quilômetros. Ou seja, uma única moto pode chegar a poluir tanto quanto 120 automóveis. O barulho excessivo causado pelas motocicletas é outro fator preocupante. Na capital gaúcha, agentes do Comando de Operações Especiais da EPTC relatam que têm deflagrado “uma verdadeira guerra” para coibir o barulho das motos na cidade. Numa única blitz, retiraram de circulação 14 motos em razão de poluição sonora. Elas circulavam com escapamento em situação irregular.


Menos energia


O coordenador do grupo, Wagner Cruz, explica que os escapamentos devem, obrigatoriamente, possuir um silenciador interno: “Os condutores e proprietários das motos devem ficar atentos para não causar poluição sonora.” A questão é tão alarmante em Porto Alegre que a EPTC criou um disque-denúncia sobre poluição sonora de motos (e também rachas), através do telefone 118. (LH)


Pedalando uma ideia


Para melhorar a qualidade de vida e contribuir para a formação de uma consciência ambiental, Kais Ismail fundou há um ano e meio a Bike-Entrega. O objetivo era substituir parcialmente as
 entregas feitas por motoboys por uma alternativa sustentável. “Fiz uma pesquisa nos órgãos
públicos atuantes em Porto Alegre e apurei que 70% desse serviço poderia ser realizado por
bikeboys. Garantimos eficiência por que cada ciclista trabalha numa área determinada,
proporcionando agilidade na entrega”, conta. Porém, logo Kais percebeu que ser ecologicamente correto e economicamente viável não era o suficiente se o serviço não fosse culturalmente aceito.


Falta apoio oficial e reconhecimento de  grandes empresas


Descobri que muitas empresas têm apelo ecológico só na teoria. Um banco que anunciava sua preocupação com o planeta na publicidade me disse que não utilizaria a entrega por bicicleta simplesmente porque os motoboys já estavam instituídos há
20 anos.


Segundo Kais Ismail, o maior de todos os entraves foi a falta de apoio. “Descobri que muitas empresas têm apelo ecológico só na teoria. Um banco que anunciava sua preocupação com o planeta na publicidade me disse que não utilizaria a entrega por bicicleta simplesmente porque os motoboys já estavam instituídos há 20 anos.  A batalha contra esse tipo de pensamento é a maior de todas”, reclama o empresário, que sugeriu um projeto de lei do Ministério do Meio Ambiente, determinando que pelo menos 1% das entregas feitas hoje por motoboys passem a ser feitas de bicicleta.
A Bike-Entrega, mesmo sendo uma das maiores referências nesse mercado no Brasil, está temporariamente de portas fechadas. Kais, que hoje busca aporte financeiro, lista uma série de dificuldades enfrentadas pela empresa, que chegou a ser a primeira a vencer uma licitação de entregas do Banco do Brasil contando apenas com bicicletas. A primeira é burocrática: uma falha de seu contador a desclassificou da tal licitação. A segunda: a aposta em apenas ciclistas profissionais para atuar como bikeboys. “Muitos não estavam acostumados a trabalhar com horário. Percebi que não é preciso ser um grande ciclista, pois com a prática qualquer um pode ser bikeboy. Também tive um entregador que era campeão paranaense de ciclismo, mas demorava às vezes horas para fazer uma entrega próxima, pois não conhecia a cidade”, relata, concluindo que o bom bikeboy é quem precisa de trabalho e conhece sua área de entrega. (LH)