ÁGUA

21 de maio de 2010

O conflito entre nações

”Eu entendo o termo “conflito” quando há, pelo menos, chamada dos embaixadores para “consulta” ou movimentação de tropas nas fronteiras.



Disputas pela posse ou pelo uso da água são
compreensíveis quando há escassez crônica.


Agradeço muito a informação, que me motivou a fazer um pouco de pesquisa. Descobri, entre outras coisas, que os angolanos não foram afetados pela decisão namibiana, já que seu país fica a montante. O rio corre de Angola para Botswana, cortando a região do Caprivi, na Namíbia. Curiosamente, não deságua no mar. Não sei qual foi o nível de “tensão” nos três casos.
Eu entendo o termo “conflito” quando há, pelo menos, chamada dos embaixadores para “consulta” ou movimentação de tropas nas fronteiras. Sem esses elementos, o que existe é controvérsia ou divergência.
No caso africano, “tensões” é um termo muito forte. Eles chegaram a um acordo em 1994 e formaram uma comissão bilateral. Chineses e Indianos também chegaram a bons termos. Não sei como se resolveu o caso turco-sírio.
No caso de Itaipu, a divergência com os argentinos não foi pela posse da água, mas por cotas para a construção de barragens e hidrelétricas. Disputa pela água não faria sentido porque a represa não iria desviar o curso do rio Paraná.
No caso da Líbia, Muammar Khadafi passou a hostilizar o governo de Anwar Sadat quando este iniciou negociações de paz com o governo de Israel em 1973. Trabalhadores egípcios na Líbia eram hostilizados. 255 mil foram obrigados por Khadafi a retornar ao seu país.
Em 1977, agitadores dos dois lados realizaram ataques ao consulado do outro país em suas capitais, seguindo-se uma guerra de quatro dias. Nenhuma fonte associa o conflito ao rio Nilo, que não é compartilhado pelos dois países. O ponto mais próximo da fronteira com a Líbia fica a uns 450 km, em Saquiat a-Abd, segundo o Britannica Atlas. Mas não é no Egito; é no Sudão.
Disputas pela posse ou pelo uso da água são compreensíveis onde dela há escassez crônica. Mas isto não nos permite concluir que a água seja uma grande causadora de conflitos entre nações. Na imensa maioria dos casos, o que existe é cooperação.
Pense nos rios Reno e Danúbio, por exemplo. A água, em verdade, é muito mais importante do que se pode expressar. Eu não a considero apenas um “recurso natural”.
Ela é um dos elementos constitutivos do próprio planeta terra e é parte integrante dos organismos vivos. Sua importância não pode ser subestimada. Mas os os ambientalistas a superestimam por motivos humanos, demasiadamente humanos.
Diane Coyle observa que o pessimismo é a razão de ser dos ambientalistas. Sem a perspectiva de uma catástrofe ecológica, poucos lhes dariam atenção. (Em contraste, os economistas liberais são essencialmente otimistas).
Logo, aí onde houver uma divergência sobre o uso da água, eles verão um “conflito”, onde houver uma simples possibilidade de “conflito”, estaremos à beira de um barril de pólvora à espera da centelha fatal. Simplesmente acho que a verdade e o bom senso ficam alguns degraus abaixo.


José Vicente Lessa
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