Greenmeeting

X Encontro Verde das Américas

16 de junho de 2010

Belo Horizonte debate ações de sustentabilidade

Auditório lotado. O X Encontro Verde das Américas  foi prestigiado por professores, universitários, embaixadores e autoridades de Minas Gerais


 


ABERTURA DO ENCONTRO


Na abertura do evento foi entregue o “Prêmio Verde das Américas”, que busca homenagear personalidades que, ao longo dos anos, contribuíram para o desenvolvimento e preservação ambiental do planeta. Foram quatro os ganhadores: a escritora Ana Miranda, o médico Apolo Heringer, o jornalista José Mendonça e os embaixadores Jacek Kisielwski, da Polônia, e Annika Markovic, da Suécia.
Num pronunciamento inflamado, o coordenador do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer, que recebeu o prêmio de recursos hídricos, enfatizou a luta da instituição pela volta do peixe ao rio e pela revitalização do rio Arrudas, que corta a cidade de Belo Horizonte. Citou ainda o exemplo de Seul, na Coréia do Sul, que valorizou a necessidade de restituir vida ao rio que passa dentro da cidade, em detrimento da construção de novas pontes e estradas.
Para o deputado federal Antônio Roberto, não se trata apenas de amar a natureza. É preciso mudar o modelo econômico do mundo e geri-lo de forma sustentável. Mas alertou que antes de tudo é preciso definir o que é sustentável, pois até então cada um faz o que acha certo. A senadora Serys Slhessarenko concorda que o estado do Mato Grosso é um problema, quando se trata de desmatamento. Para ela, apesar do diversos meios de mitigação, é preciso cessar a provocação das causas da degradação ambiental. Daí a importância do inventário florestal e da política do desmatamento zero em todo o país. “Há uma necessidade extrema de incentivar nossos cientistas com propostas e projetos que protejam de fato a floresta, evitando assim a clandestinidade e a biopirataria.”


PRÊMIO VERDE DAS AMÉRICAS


OS PREMIADOS: ANA MIRANDA, ANNIKA MARKOVIC, JOSÉ MENDONÇA, JACEK KISIELEWSKI, APOLO HERINGER


Segundo o coordenador do Encontro Verde das Américas, Ademar Leal Soares, este Fórum sempre possibilitou discussões a favor da liberdade de expressão, da sustentabilidade, da luta contra desigualdades sociais, da intolerância religiosa e racial e dos atentados aos direitos humanos. E é neste sentido que o encontro valoriza aqueles que lutam pela causa, abrindo sempre o Prêmio para destacar e valorizar os autores destas iniciativas.



 


Ana Miranda, a escritora da biodiversidade


ANA MIRANDA – Jornalista, escritora, poeta, pesquisadora e roteirista de cinema, Ana Maria Nóbrega Miranda nasceu em Fortaleza-CE, mas morou muito tempo em Brasília, onde viveu sua infância e adolescência. Em 1978, com um livro de poesias, iniciou sua vida literária. Em 1989, publica seu primeiro romance: “Boca do Inferno”, traduzido em vários idiomas, baseado na vida do poeta Gregório de Matos. Depois “Dias & Dias”, inspirado da vida do poeta Gonçalves Dias. Ambas publicações lhe deram dois “Prêmio Jabuti”. É autora de “A Última Quimera”, sobre Augusto dos Anjos, e “Clarice”, sobre Clarice Lispector. Escreveu ainda “Desmundo” , “Caderno de Sonhos” e “Celebração do Outro”, o romance “Amrik”,  “Só se for em Segredo” além de livros infantis. Diversa, ousada, eclética e de uma sensibilidade única, Ana Miranda se ambientou em plena Floresta Amazônica para escrever YUXIN, o romance da biodiversidade.


 


Annika Markovic recebe o Prêmio da senadora Serys


ANNIKA MARKOVIC – Embaixadora da Suécia no Brasil, passou pelas Filipinas, Atuou na Missão Permanente da Suécia para as Nações Unidas, em Nova York os anos de 1995 a 1999. Economista pela Universidade de Estocolmo, Annika Markovic se juntou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros sueco, em 1990. Atuou também no departamento de Políticas, na divisão das Nações Unidas, responsável por questões de desarmamento e não proliferação de armas de destruição em massa.


 



Jornalista José Mendonça


JOSÉ MENDONÇA –  Cidadão exemplar e jornalista modelo. Culto e brilhante, líder de sua geração e mestre do jornalismo. José Mendonça estudou no Seminário de Diamantina, fez curso de Direito e foi professor de português, latim, francês e história. Foi diretor de “O Diário” e das sucursais de “O Globo” e da Folha de S. Paulo. José Mendonça fundou e dirigiu o Curso de Comunicação da UFMG. Com 93 anos, continua um surpreendente jovem dentro da vida cultural de Minas como prova o livro “José Mendonça, a Vida Revelada”, de Flávio Friche, Manoel Marcos Guimarães e Maria Auxiliadora de Faria.


 



Embaixador Jacek  Kisielewski


JACEK KISIELEWSKI – Embaixador da Polônia no Brasil, nasceu em Poznań, na Polônia. Tem Pós-Doutorado em Ciências Naturais (Universidade Adam Mickiewicz em Poznań). É Bacharel em Biologia e especializado em Zoologia. Desenvolveu atividades científicas no Museu e Instituto Zoológico da Academia da Ciência Polonesa em Varsóvia . Fez várias missões científicas no Brasil pela Embrapa Pantanal, pela USP, pelo Museu Emílio Goeldi, em Belém, pela Universidade de São Carlos e Universidade de Corumbá-MS.



Apolo Heringer


APOLO HERINGER – Idealizador e coordenador do Projeto Manuelzão, além de fundador do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e presidente do Comitê da Bacia do Rio das Velhas. O trabalho do professor Apolo Heringer é um exemplo de cidadania planetária. Médico graduado pela UFMG, Apolo Heringer Lisboa é especialista em Pneumologia pelo Centro Hospitalar Universitário de Beni-Messous (Argel), e em Epidemiologia, pela Universidade Livre de Bruxelas.


 


PALESTRAS E APRESENTAÇÕES


Biodiversidade


Jacek Kisielwski
O embaixador da Polônia, o biólogo Jacek Kisielwski, que ganhou o prêmio na categoria de biodiversidade, já foi pesquisador antes de assumir a carreira diplomática. Ele demonstrou pesar pela extinção de diversas espécies no mundo e satisfação pela recuperação de tantas outras, como o Bisão Europeu e a arara-azul-de-lear (na caatinga baiana). Grande conhecedor da Amazônia, disse que a paixão pela natureza e biodiversidade não conhece fronteiras e tampouco pode se dissociar da questão econômica, o que exige mais responsabilidade. O diplomata deu o exemplo das aves, que são admiradas no mundo inteiro: “Na Europa tem cerca de 550 espécies de aves, um terço do que tem no Brasil. Aqui são mais de 1.800 espécies. Sem dúvida, milhares de pessoas no mundo inteiro anseiam por ter um encontro com a natureza brasileira”. Para o embaixador, a biodiversidade tem uma grande riqueza a ser explorada. Visitas de estrangeiros no Brasil como “Turismo da Natureza” trariam grandes benefícios econômicos ao país. Isso sem falar que seriam criados laços fraternais, de ciência e de tecnologia com outros países.


Urbanização e meio ambiente


Symbiocity


Annika Markovic, embaixadora da Suécia, após receber o prêmio por sua diplomacia ambiental, citou um exemplo que tem dado certo em seu país: o programa Symbiocity. É um programa para o desenvolvimento urbano sustentável, perfeitamente aplicável a qualquer população e a qualquer clima. Segundo Annika, o meio agressivo da urbanização traz um grande prejuízo às cidades. Em todos os países do mundo nossas matérias primas estão se exaurindo de maneira crítica. A poluição do ar pelo grande aumento do tráfego de automóveis é um problema que clama por uma solução urgente. “A degradação irresponsável da natureza foi um grande problema no passado da Suécia. Hoje em dia o país tem o orgulho de dizer que sua água é limpa”. Annika diz ainda que há muita energia sendo desperdiçada no mundo. “É preciso prestar atenção no desperdício sempre – diz a embaixadora. O lixo pode virar energia, como o biogás, e ainda pode fortalecer a agricultura”.


Voz de Cuba e do Chile


Para o professor chileno em História das Relações Internacionais, Carlos Federico D?Avila, a América Latina representa menos de 10% da população mundial. No entanto, grande parte da biodiversidade do planeta se encontra aqui. Infelizmente alguns países vêm sofrendo dramaticamente com os desastres ambientais naturais. Antes de sofrer o último grande terremoto, o Haiti já tinha passado por três grandes furacões. É uma luta diária. “Os desabrigados ambientais estão aumentando cada vez mais, o que aumenta na mesma proporção a emigração para outros países”.
Já o embaixador de Cuba, Carlos Zamora Rodriguez, foi categórico: “A cúpula de Copenhagen foi um verdadeiro fracasso que frustrou todas as nossas expectativas. Fracassou porque o egoísmo de alguns países se sobrepôs às questões ambientais, o que tornou praticamente impossível qualquer avanço?  Para o embaixador Rodriguez, Cuba, por exemplo, sofre com a salinização do solo e o aumento do nível do mar, que cresce assustadoramente a cada ano. Mas o problema está muito além das mudanças climáticas. É preciso também ter mudança de consciência, de produção e de consumo.



O jornalista e ambientalista Hiran Firmino e o professor chileno em História das Relações Internacionais, Carlos Federico D?Avila


 


 


Embaixador de Cuba Carlos Zamora Rodriguez


 


 


 


 


 


 


Pensamento indígena
O líder indígena Marcos Terena (foto) do Comitê Intertribal, disse que a mãe terra tem sido agredida ao longo do tempo em nome do desenvolvimento, da modernidade e da “qualidade de vida”. Ou seja, “nós ainda acreditamos que fazemos tudo isso em defesa da melhor qualidade de vida. Os grandes projetos de desenvolvimento nunca levaram em conta o pensamento indígena de respeitar a terra e o meio ambiente. O Brasil indígena tem 230 povos com 180 línguas vivas. Isso significa 14% do país reconhecidamente de terras indígenas pelo governo brasileiro. A grande maioria dos políticos hoje em dia fala muito, mas eles não entendem nada de meio ambiente, muito menos da questão indígena”! Terena reforça a importância da cultura e do conhecimento tradicional, sempre sob a proteção do Grande Espírito e completa: “Tudo que o homem faz afeta o coração da Mãe Terra. Nossa responsabilidade é usufruir, lutar e cuidar, como filhos que somos, da Mãe Terra. Fico contente em saber que hoje temos aqui guerreiros para cuidar da nossa terra. Poí Caxé Boinún”, despediu-se o índio Terena, dizendo “até outro sol”, em sua língua nativa Aruak


Reserva do Cerrado
A Reserva da Biosfera do Cerrado foi o tema debatido por Gustavo Souto Maior, presidente do IBRAM. Reserva da Biosfera é uma área ambiental protegida pela Unesco. Falando especificamente de Brasília, Souto Maior disse que a região vem sendo degradada há meio século. Embora haja muitas Unidades de Conservação dentro do território da Reserva da Biosfera, cerca de 93% do Distrito Federal, grande parte já foi destruída. Quer dizer que essas áreas não estão sendo realmente protegidas.Proteção só no papel não vale. Segundo ele, as razões para o insucesso dessas UCs são o fraco apoio nacional, os conflitos com a população local, os conflitos com agências governamentais, gestão limitada e recursos insuficientes. Enquanto o meio Ambiente não for valorado economicamente esta situação não vai mudar.


www.folhadomeio.com.br