Design & Sustentabilidade

Design, Inovação e Sustentabilidade

19 de novembro de 2010

Bienal Brasileira de Design de Curitiba apontou os rumos da sustentabilidade economizando em energia e aproveitando sobras de madeira.

O projeto alia produção sustentável, tecnologia limpa e design de processo ou solução. Não mais design de forma.


“Entender os novos caminhos do design a partir do conceito de desenvolvimento sustentável significa perceber a sustentabilidade como efeito e não como um princípio, ou seja, como uma consequência natural de novos modos de produção”. Robson Oliveira, presidente do Conselho Euro Brasileiro de Economia Verde


Encaixe de luminárias de LED


 


 


Economia verde: a nova revolução industrial


Um bom exemplo dessa nova abordagem e que foi visto na Bienal foi a luminária “Luz Urbana”.  Nascida fora das regiões que usualmente ocupam mais espaço na mídia brasileira em se tratando de design,  a peça acende uma luz sobre a necessidade de absoluta renovação do design brasileiro e mundial.
A luminária, criada partir de um conceito óbvio, mas pouco abordado, no qual o objeto tem que ser uma conexão entre o homem e a natureza, utiliza sobras de madeira e lâmpadas Led, alimentadas por painéis flexíveis de energia solar de baixíssimo custo. Ela foi concebida por arquitetos, designers e artesões do EUBRA no norte e nordeste do Brasil.
Robson acredita que o projeto das luminárias,  desenvolvido há oito anos, antecipa as tendências  de consumo e produção dos próximos 50 anos. Isto porque ?ele está em sintonia com o movimento do setor produtivo de criar uma economia verde baseada numa nova revolução industrial. “Economia e ecologia devem estar conectadas sinergicamente para que possamos criar modelos mais conseqüentes de consumo e produção”, completou.
As luminárias estão sendo produzidas nas cidades de Açailândia-MA e Fortaleza-CE. Ali a produção acontece em pequenas marcenarias, utilizando apenas madeira descartada, além de ferramentas básicas e mão-de-obra local.  Seu design permite que ela seja produzida facilmente e com grande agilidade, já que tem suas partes encaixadas, com variação somente na altura. Isto  facilita a montagem e o transporte, além de permitir utilizações diversas, como, por exemplo, em escolas, praças e pequenos ginásios esportivos. 
A ideia é que as luminárias sejam levadas para regiões de baixa renda ou com dificuldades logísticas que dificultam e encarecem o transportes de postes de cimento ou aço, e, consequentemente, o acesso à energia elétrica. “O projeto alia produção sustentável, tecnologia limpa e design de processo ou solução, e não design de forma, como estamos habituados a ver e ouvir por ai”, salienta Marco Riccioppo,  arquiteto e designer do EUBRA.



A Poltrona Kyoto é uma peça criada dentro do programa Floresta Móbile. O programa visa a geração de emprego e renda, criação de produtos com valor agregado para ajudar a revitalizar áreas de floresta em meio à miséria e ao caos de várias localidades do Norte e Nordeste do Brasil.



O designer
Sérgio Rodrigues
e o presidente
do Conselho Euro-Brasileiro de Economia Verde, Robson Oliveira.


 


 


Floresta Mobile
Atualmente o projeto, que teve como base conceitual o Smart Design, começou a se transformar num programa avançado de eficiência energética,  denominado “Floresta Mobile”, com a inclusão de novas tecnologias de energia solar (Solar Thin Filme), e com a incorporação de pequenas turbinas eólicas de alta eficiência  e luminárias HD LED de várias potências.  O programa, desenvolvido por técnicos do EUBRA e empresas do ILED – Instituto LED BRASIL, prevê que estes novos conjuntos de luminárias, alimentadas por enegia solar e eólica, sejam utilizados em iluminação de praças,  ruas e centros esportivos, visando atingir cidades de pequeno e médio porte.  A proposta é a criação de um modelo de redução de consumo energético e economia de recursos financeiros para famílias, governos e empresas do nordeste do Brasil e Haiti. Algumas luminárias de testes já estão funcionando em Minas Gerais e em Fortaleza e, a partir de outubro, projetos pilotos serão iniciados  nas cidades de Aquiraz e Eusébio, no Ceará, e na cidade de Lajedo, em Pernambuco. (LF)


DESING INTELIGENTE


Bonitinhas mas ordinárias


O “Smart Design” está em alta e é exatamente o que faltou para os designers que durante os últimos 50 anos encheram o planeta de bugigangas de plástico e alumínio, sendo a maioria delas, segundo os especialistas da área, tão bonitinhas quanto ordinárias. 
E o Brasil saiu na frente ao apresentar ao mundo peças como a poltrona Kioto, a mesa Mangue e o conjunto Luminaris (fotos 04, 01, 02), que têm recebido prêmios, adeptos e colaboradores em diversas mostras, workshops e exposições em países como Itália (Ruínas de Pompéia), Espanha (Carbon Expo Barcelona) e Dinamarca (COP 15, em Copenhagem).
É importante notar o sucesso deste conceito em regiões aonde o design pós-industrial vem sendo bastante criticado nos últimos 10 anos, especialmente na Europa. “Basta ver o esvaziamento das ideias e do público do Salão Oficial de Milão, onde quem mais o  frequenta atualmente são turistas e comerciantes de móveis de países sem tradição de design”, observa o arquiteto milanês Davide Rampazzo. “Os arquitetos italianos, na sua maioria, se cansaram da mesmice da ‘ex-meca do design? e só visitam o Salão quando são pagos pelas empresas”.  
No entanto, Rampazzo coloca que projetos com novas abordagens conceituais, como o das luminárias ou o de moradias de baixo custo para o Haiti (anti terremoto e anti furacão), desenvolvidos pelo EUBRA, ganharam notável visibilidade e destaque internacional quando foram exibidos pela ONU durante o Fórum Urbano Mundial no Rio de Janeiro, em março,  e no Salão de Móvel de Milão, em abril de 2010.  Isso chamou a atenção do programa Brasil Design do MEDIC e da BIENAL Internacional de Design que fizeram um convite este ano para que a luminária fosse exibida por lá. (LF)


Alguma coisa acontece fora da Ipiranga com a São João


Tais projetos promovem um novo caminho para o design contemporâneo associado ao  nascimento da economia verde e colocam em evidência a funcionalidade e os modos responsáveis de produção.  A ideia é recuperar a revolucionária tradição do
design brasileiro e sua “tropicalidade” da década de 60, avançando com o conceito do design da solução 
que se apoia no uso de matérias-primas e recursos humanos locais.


“A saída está não apenas em abandonar os conceitos de consumo dos grandes centros urbanos, mas sim em adotar experiências de centenas de pequenas e médias cidades do Brasil e do mundo, a exemplo de Açailândia”.



Para o arquiteto e designer Marco Riccioppo, trata-se de um modelo que rompe com o modelo pós-industrial europeu (que, para eles, já morreu há anos), e que tem contaminado o design brasileiro, extinguindo sua identidade e criando, nas últimas décadas, um vazio absoluto a partir do plástico e alumínio, materiais tão descartáveis quanto o lixo que eles geram, ou de formas pouco evoluídas, herdadas dos velhos mestres do design.
Assim, esta ruptura chegaria justamente no momento em que o Brasil acha seus caminhos e ganha respeito a partir de ideias simples, nascidas, em grande parte, fora do eixo das elites tradicionais do sul e sudeste do País. 
Em nível global, o que se percebe é um movimento que amplia o vazio das escolas de design européias e outro de atração destas mesmas escolas ao universo criativo da ?tropicalidade?. Factualmente, profissionais de todo o mundo começam a vir para o Brasil para aprender novos caminhos e avaliam que, provavelmente, o novo design mundial não esteja mais nas cosmopolitas metrópoles. Afinal, ?estas são tão diversas na sua composição étnica, econômica e social, mas tão inviáveis no seu modelo intelectual, econômico e de consumo, tão pobres em imaginação e recursos. Basta olhar o trânsito, a ocupação urbana caótica e a criminalidade, por exemplo?, destaca o arquiteto.
De acordo com o grupo do EUBRA, provavelmente a saída está não apenas em abandonar os conceitos de consumo dos grandes centros urbanos, mas sim em adotar experiências de centenas de pequenas e médias cidades do Brasil e do mundo, a exemplo de Açailândia. Vale notar que a cidade, a partir de formas criativas de produção, a exemplo das luminárias, vem aumentando seu PIB, renda per capita e IDH, sem crescimento da população ou ocupação do solo.  ?Aqueles que estão movimentando a economia verde e criando perspectivas mais viáveis para a humanidade em todas as partes do globo, principalmente fora dos grandes centros, esperam a próxima Bienal também fora do centro ou fora dos mesmos centros de sempre?, conclui Robson.  (LF)