Mudanças climáticas

De Copenhague para Cancun

19 de novembro de 2010

Acordo amplo só na África do Sul, em 2011

O acordo diz que “os países farão todos os esforços para que o aquecimento global não atinja no fim do século mais que 2ºC sobre a temperatura da época pré-industrial”.


O embaixador Sérgio Guerra explica que as metas e os compromissos que o Brasil assumiu diminuíram muito as cobranças em cima de nós. “Nossas metas foram universalmente consideradas ambiciosas. Há menos pressão sobre nós do que há sobre outros países que não puseram números tão concretos na mesa”.


Sobre Copenhague 2009
O chamado Acordo de Copenhague, feito no apagar das luzes da reunião, não conseguiu aprovação consensual. Foi de certa forma frustrante. Embora só seis países estivessem explicitamente contra o acordo, isso fez com que, pelas normas da ONU a COP só tenha ?tomado nota?, não o transformado em um dispositivo com valor legal. Mas a reunião não deixou de representar um passo importante para a resolução dos problemas ambientais. Esse acordo contém elementos importantes, que estão servindo de base para as atuais discussões


Aumento da temperatura em dois graus
O Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU tinha recomendado que os países industrializados reduzissem suas emissões entre 25% e 40%, tendo como referência os níveis de 1990. As metas que estão em anexo ao acordo feito na Dinamarca não chegam nem perto disso. As ações propostas pelos países em desenvolvimento, como o Brasil, são bastante ambiciosas e se mantêm com folga dentro do limite proposto pela ONU. O acordo diz que “os países farão todos os esforços para que o aquecimento global não atinja no fim do século mais que 2ºC sobre a temperatura da época pré-industrial”. O problema é que, somando as emissões que todos os países propuseram cortar, o aumento na temperatura seria muito maior.


POSIÇÃO BRASILEIRA


As metas e os compromissos que o Brasil assumiu diminuíram muito as cobranças em cima de nós. Nossas metas foram universalmente consideradas ambiciosas. Há menos pressão sobre nós do que há sobre outros países que não puseram números tão concretos na mesa. Sem dúvida, nosso maior trunfo são esses compromissos de redução da emissão de CO2. O Brasil vai procurar exercer o papel que normalmente vem tendo nesse tipo de debate, que é atuar como negociador, e servir de ponte entre os diversos grupos, procurando apresentar soluções engenhosas para resolver impasses.
O Brasil continua desejando um resultado ambicioso e equitativo, que seja justo para todas as partes. Também esperamos que esse resultado seja traduzido em documentos vinculantes, que obriguem os países a respeitá-los. Embora achemos que esse pacote mais global não seja concluído antes da COP-17, em 2011, não diminuímos nosso horizonte de expectativas.


Rotina de reuniões
Nós temos que evitar é que a COP-16 seja uma mera reunião de rotina. Temos que dar substância. Mesmo que não se conclua completamente o pacote de negociações, alguma coisa precisa sair definida de Cancún, até mesmo para trazer de volta a confiança a esse processo de negociação, que ficou muito abalado com a frustração de Copenhague. Talvez os pontos que já estão mais próximos de um acordo deveriam avançar ou ser concluídos este ano, como, por exemplo, os financiamentos de curto prazo. Do contrário, a reunião do ano que vem, na África do Sul, terá que resolver tudo.