Dengue e a saúde pública

Dengue combate passa pela ciência e meio ambiente

15 de fevereiro de 2011

Pesquisas científicas e cuidados com o meio ambiente ajudam a controlar a transmissão do vírus da dengue

Por que cuidar do meio ambiente é importante? Simples, porque a reprodução do mosquito Aedes aegypti se dá em terrenos baldios, nos lixões, nos quintais das residências e áreas de apartamentoss mal cuidados. Há que haver uma conscientização da população e uma capacitação para manejo adequado dos resíduos sólidos urbanos. Por isso, o Ministério do Meio Ambiente, pelos seus órgãos, busca um programa mais eficiente da a destinação correta do lixo, com separação de cada tipo de material e envio dos rejeitos para o aterro sanitário. Essas ações já estão previstas na Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prevê o fim de lixões e o início da coleta seletiva de resíduos até 2014.Um dos grandes problemas da dengue é que o mosquito Aedes aegypti se reproduz facilmente em qualquer recipiente com água armazenada. Assim, aquele copo de iogurte no lixão com água parada, serve de criadouro do mosquito da dengue. Com a destinação correta, ele será reciclado, protegendo o meio ambiente e melhorando a renda dos catadores de lixo.
O pneu descartado de qualquer maneira no meio ambiente é outro grande problema para o aumento do número de casos de dengue no País. Em 2010 foram registradas infecções em  4.007 municípios infestados por Aedes Aegypti. Segundo técnicos do MMA, para o sucesso da norma é preciso que o consumidor participe e devolva o pneu inservível ao comerciante.
Assim, a prevenção e as medidas de combate à dengue conta com a participação e a mobilização de toda a comunidade. A partir da adoção de medidas simples, protege o meio ambiente e interrompe o ciclo de transmissão e contaminação da dengue.


Pesquisa e tecnologia
Ciência busca na mosca-das-frutas bloquear a  transmissão de vírus da dengue


Na Universidade de Queensland, em Brisbane, na Austrália, 40 cientistas de vários países participam do trabalho de microinjeção de embriões – que deixam o mosquito Aedes aegypti mais resistente à dengue e, portanto, dificultam a transmissão da doença. Os estudos começaram em 2005, quando cientistas australianos decidiram injetar em ovos do Aedes aegypti a bactéria Wolbachia, encontrada nas moscas-das-frutas, as drosófilas. Só para conseguir introduzir a bactéria nos ovos foram quatro anos de testes. Os especialistas descobriram que a bactéria causava a morte prematura das drosófilas. O mesmo conceito foi aplicado ao mosquito transmissor da dengue. Assim, os pesquisadores conseguiram reduzir a longevidade do inseto infectado com a doença.


Luciano Andrade Moreira, pesquisador do Laboratório de Malária do Centro de Pesquisas René Rachou da Fundação Oswaldo Cruz em Minas Gerais espera que a descoberta, aliada à conscientização da população, pode acabar com a epidemia de dengue no Brasil a médio e longo prazo. Doutor em genética, o agrônomo Luciano Andrade Moreira foi convidado a participar das pesquisas por dois anos e meio, em seu pós-doutorado. Voltou ao Brasil neste início de ano com a expectativa de conseguir desenvolver o trabalho e apresentar a sugestão ao Ministério da Saúde. “Nosso país tem um grande potencial para desenvolver essa pesquisa, mas precisamos avançar muito ainda”.
Segundo Luciano Moreira, “a ideia era fazer o mosquito morrer logo, para não transmitir o vírus da doença. Mas descobrimos outras implicações para a cadeia alimentar e o meio ambiente e, por isso, há dois anos, começamos a trabalhar com a bactéria de outra forma, apenas bloqueando a transmissão da dengue, sem que o mosquito precisasse morrer. É como se o mosquito fosse vacinado e ficasse resistente ao vírus”.
Ao longo dos últimos seis anos, dez mil ovos foram usados nos testes e  apenas duas larvas fêmeas conseguiram se tornar adultas e procriar. “Toda a linhagem de mosquitos, a partir dessa geração, terá a bactéria em suas células e estará protegida da dengue”, explica o cientista mineiro e acrescenta esperançoso: “Se esse projeto der certo, será suficiente. A partir do mosquito solto na natureza, a bactéria é transmitida mais facilmente, aumentando a prole protegida que invade a população. É um grande passo no combate à dengue e, com ações conjuntas, pode ser a salvação”.


Ciclo quebrado
O Aedes aegypti demora 15 dias para se tornar adulto. O ciclo do mosquito não é longo. Depois de cruzar, a fêmea pica o humano e suga o sangue para poder procriar, o que ocorre quatro ou cinco vezes ao longo de sua vida. De acordo com Luciano Andrade, cada fêmea põe cerca de 500 ovos em 30 dias, tempo médio de vida do inseto. Durante os estudos na Austrália, apenas 30% dos 10 mil ovos que receberam a bactéria Wolbachia nasceram. A maioria, segundo Luciano, estourava. Das larvas, porém, 90% não apresentavam a bactéria e muitas também ficavam estéreis.


Ações para 2011
Alguns mosquitos “vacinados” seguem em para o Vietnã, país que se assemelha ao Brasil em números de casos, guardadas as proporções do tamanho do território e da população. O pesquisador da Fiocruz Minas Luciano Andrade Moreira já solicitou ao Ibama autorização para trazer ao Brasil mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia. Ele aguarda a decisão para dar início aos estudos de laboratório. Em 2011, os cientistas vão desenvolver o mesmo trabalho na Tailândia.


Alerta
A estatística incomoda, pois as mortes aumentaram. Em 2010, as vítimas da dengue dobraram no país. Em relação ao ano anterior, houve um aumento de 89,7% no número de casos, de acordo com resultado parcial do Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes aegypti 2010. Luciano Andrade alerta: ainda que o projeto dê certo, não se pode descartar o uso do inseticida, precisa massificar as campanhas sociais de educação da população e é importante desenvolver uma vacina contra a dengue.