Reprodução de peixes ameaçados

Pesca sustentável em Abrolhos

20 de abril de 2011

Pesquisa inédita ajuda na conservação de peixes ameaçados e de grande valor comercial

Abrolhos: paisagem de rara beleza e de uma riqueza marítima incalculável. 


 


 


Foram dois anos de pesquisa. O estudo teve o apoio da CI-Brasil (Conservação Internacional) e gerou um artigo científico publicado na revista Scientia Marina intitulado “Spawing patterns of commercially important reef fish in the tropical western South Atlantic”. Infelizmente, no Brasil, ainda é bastante escassa a informação sobre épocas e locais de reprodução de peixes ameaçados e de alto valor comercial, bem diferente do que acontece em partes do Caribe e América do Norte.


Esta falta de informações prejudica a regulamentação da pesca comercial e contribui para o declínio das populações de peixes e até mesmo a produção pesqueira nas águas tropicais do nordeste do Brasil.


No país é evidente o desaparelhamento dos órgãos que controlam a pesca. A formulação de políticas efetivas para a conservação e uso sustentável desses recursos ainda depende muito de informações de boa qualidade da vida dessas espécies-alvo. Para Rodrigo Moura, co-autor e professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) “quanto mais conhecemos a biologia das espécies de importância comercial, melhores serão nossas chances de promover seu uso racional”.


As espécies-alvo do estudo são encontradas na costa tropical brasileira. São 18 espécies da família dos serranídeos (badejos e garoupas) e 15 de lutjanídeos (vermelhos e pargos). As espécies mais expressivas na região de Abrolhos são a garoupa (Epinephelus moriv), o badejo (Mycteroperca bonaci) e o catuá ou jabú (Cephalopholis fulva), além de outras espécies, como o ariocó (Lutjanus synagris), o dentão (L. jacu), a cioba (L. analis), a guaiúba (Ocyurus chrysurus) e o realito (Rhomboplites aurorubens).


Mateus Freitas, biólogo e doutorando em Ecologia pela UFPR diz que alguns peixes são de grande importância para a pesca e a gastronomia no Brasil. “E são extremamente valiosos sob o ponto de vista ecológico e a manutenção do equilíbrio nos recifes de corais”, ressalta Mateus. A pesquisa envolveu a identificação das espécies, medição, pesagem e verificação do sexo e gônodas dos peixes desembarcados em Prado, Alcobaça, Caravelas e Nova Viçosa, todas no extremo sul da Bahia.


“A falta de informações prejudica a regulamentação da pesca comercial e contribui para o declínio das populações de peixes no mar brasileiro.”


“A pesquisa envolveu a identificação das espécies, medição, pesagem e verificação do sexo e gônodas dos peixes desembarcados “



Espécies RAP Mussismilia hartti com esponjas.


 


 


 


 


 



Um badejo (Mycteroperca bonac) peixe nobre na região.


 


 


 


 



Os pescadores ajudam com seu conhecimento tradicional.


 


 


 


 


Uma boa gestão


Para Guilherme Dutra, diretor do Programa Marinho da CI-Brasil, a gestão da pesca para a sustentabilidade ainda é um grande desafio para o Brasil: “Trabalhamos com a perspectiva de que é possível recuperar e manter os estoques pesqueiros, desde que tenhamos conhecimento, criemos áreas protegidas nos lugares certos e implementemos as medidas de controle necessárias para a pesca.”


Para ele a regulamentação e controle da pesca são insuficientes, especialmente em uma área de extrema importância como Abrolhos. O professor Moura completa: “Além da perda da biodiversidade, o prejuízo para o país é enorme se pensarmos em longo prazo, principalmente para o setor pesqueiro. Neste caso, a ampliação das áreas marinhas protegidas ali viabilizaria uma gestão mais eficiente e participativa da pesca, integrando os pescadores e instituições locais”.


Conhecimento tradicional


É importante ter o conhecimento dos pescadores mais experientes, conta o professor Ronaldo Francini Filho, da Universidade Federal da Paraíba, pois eles compartilham seu saber sobre a reprodução dos peixes, e esta parceria é essencial para a condução do estudo. Guilherme Dutra explica: “Estamos preparando materiais educativos para disseminar as principais recomendações da pesquisa junto aos atores ligados à pesca. É o que chamamos de ?ciência para a ação?, que tem o intuito de transformar informação em conhecimento capaz de contribuir efetivamente para ações de conservação socioambiental em Abrolhos.”


Abrolhos, com cerca de 46.000 km² no sul da Bahia e norte do Espírito Santo, é um mosaico de ambientes marinhos com recifes de coral, bancos de algas, manguezais, praias e restingas. Ainda há áreas de proteção integral, como o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, e áreas de uso múltiplo, como as Reservas Extrativistas do Corumbau, Canvieiras e do Cassurubá. Apesar das evidências científicas de que as Áreas Marinhas Protegidas (AMP) têm um aumento no número de peixes e seu tamanho no interior das reservas, há a necessidade de outras medidas para conter a diminuição dos estoques. A co-autora do estudo, professora da Universidade Estadual de Maringá, Carolina Minte Vera, concorda que maiores investimentos no controle e no monitoramento da atividade pesqueira deveria ser prioridade na agenda do país para o setor. Assim, a informação científica deve ser integrada a uma estrutura de gestão adequada para poder resolver a atual crise de sustentabilidade da pesca.