SERRA DA CAPIVARA

DNA do Homem pré-histórico

20 de abril de 2011

Teste do DNA para provar ligações entre homem pré-histórico e moradores atuais no Piauí

O potencial turístico da região é imenso. É a grande vocação econômica para dar emprego e melhorar a renda”


Niéde Guidon mostrou muita indignação. Falou sobre a angústia de ter que lutar e brigar muito para manter um trabalho que só valoriza o Brasil. “Um tesouro que os estrangeiros valorizam muito mais do que nós brasileiros”, explica ela. Mostrou que quanto mais se estuda, mais se descobre e mais ainda tem a estudar. Os cientistas sabem que pesquisar não é “construir ponte, que a gente começa, termina e entrega”. “Pesquisar é um ato contínuo. Se parar, muitas vezes, não se consegue recuperar o que se fez”, explica a pesquisadora.


Niéde Guidon (foto) mostra como os problemas se avolumam. Os próprios assentamentos de família em torno do Parque é um grande desastre. Infelizmente, é mais depredação, fogo e caçadores de animais silvestres. “O que precisamos é de uma atividade econômico que possa absorver esta mão-de-obra. E se tivermos condições de incrementar o turismo – o parque tem este potencial – evidente que mais empregos, mais renda, mais trabalho e melhor condições de vida seria ofertado aos assentamentos e à população”, acrescenta.


O aeroporto de São Raimundo Nonato, uma das maiores expectativas da arqueóloga continua abandonado. As obras pararam. As estradas estão tão ruins devido aos buracos que mesmo o turista mais desestressado acaba em pânico. “Mas o que me deixa mais angustiada é a descontinuidade e a indefinição dos recursos dos projetos de pesquisas”, salienta a diretora do Parque.


Artesanato em cerâmica


Não tem nada mais charmoso no passeio à Serra da Capivara do que conhecer de perto o trabalho na Cerâmica Serra da Capivara, onde moradores do povoado Barreirinha, do município de Coronel José Dias, desenvolvem peças em argila que fazem sucesso no Brasil e no exterior. A delicadeza das peças no formato, cores e criatividade chamou atenção de grandes lojas de departamentos e butiques de artesanato. No Brasil e no exterior. O artesanato já é um bom começo de distribuição de emprego e renda. Os trabalhos com cerâmica empregam hoje 20 artesões que se revezam na confecção de peças decorativas e utilitária como aparelho de jantar, de café, travessas, canecas, jarras, tudo decorado com desenhos de pinturas rupestres encontrados nos sítios arqueológicos do parque.


 



Descontinuidade administrativa


A pesquisadora se queixa também de não ter seu trabalho vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia que, no seu entendimento, teria mais haver com as pesquisas. “Tenho tentado muito essa transferência. Falo com todos os ministros que entram da pasta e quando a gente pensa que tudo está para se concretizar acaba o governo, muda o ministro e começa tudo novamente”, diz.


Sempre de bom humor, Niéde comentou com os repórteres, em tom de brincadeira, que é por essas e outras que quando recebeu o príncipe do Brasil, João Orléans e Bragança no parque, sugeriu a ele que fundasse um principado ali e ele seria o príncipe criaria uma lei voltada somente para a preservação do patrimônio cultural e ambiental, bem como banco para manter as pesquisas em dia. “Se o parque se libertasse da tutela do Governo conseguiria avançar muito mais”.


O teste do DNA
DNA do homem pré-histórico e do atual


Primeiro é a busca de material para fazer o DNA. A abordagem é sempre na base da camaradagem. Comadre prá lá, compadre cá, uma prosa, um cafezinho compartilhado até chegar no objetivo final, coletar a saliva dos moradores de povoados localizados no entorno do parque Nacional Serra das Confusões. Esse é atualmente, o principal foco dos antropólogos e arqueólogos da FUMDHAM, que estão enviando o material para Paris, onde será submetido a uma investigação genética que vai dizer se existe ligações de parentesco entre os atuais habitantes com as sociedades que viveram ali há pelo menos 23 mil anos, conforme esqueletos encontrados na Toque do Enoque e outros sítios arqueológicos.


É importante descobrir o tipo físico, os rituais funerários e, quem sabe, os costumes desses povos. Pela experiência de anos de trabalho, Niéde acha que esses povos eram negróides. Uma primeira informação os cientistas já tem: a forma de enterramento dos fósseis até então encontrados na Serra da Capivara é diferente dos desenterrados na Serra das Confusões.


Atualmente, a empolgação maior da arqueóloga é o retorno da missão franco-brasileira que em 1973, sob seu comando, realizou as primeiras pesquisas mesmo antes da criação do parque. Ao longo de todos esses anos, os arqueólogos descobriram vestígios que o homem habitou aquela região, há 100 mil anos. Ciente de que a sociedade americana de arqueologia não aceita a teoria que defende de ter encontrado na Serra da Capivara o homem mais velho das Américas, Niéde só quer agora descobrir como esse homem se movimentava naquele período.



Turismo no Parque da Serra da Capivara


Incrementar o turismo na Serra da Capivara é tudo que o deseja a Associação dos Empreendedores de São Raimundo Nonato, proprietários de pousadas, hotéis e restaurantes. O mesmo pensamente tem a equipe da FUNDHAM assim como a prefeitura da cidade. Porém, falta o governo do Estado fazer o dever de casa arrumando as estradas e terminando o aeroporto internacional que deveria ter sido concluído há anos.


Para os jornalistas que participaram da visita, embora os problemas estruturantes inibem o desenvolvimento do turismo na região, o potencial de fato é muito grande. A beleza do lugar, as atrações científicas, o parque, a flora e fauna, tudo conspira a favor.


O que mais chamou atenção do grupo, além, é claro, das pinturas rupestres, serras, paredões e canyons, foi a estrutura do parque para receber visitantes, considerada a segunda melhor em unidade de conservação do Brasil, só perde para o Parque Nacional de Iguaçu. Além de rampas para cadeirantes, a sinalização é bilíngüe, as guaritas têm suporte adequado para atender os turistas e os guias são bem preparados para guiar o visitante.