Marcados PARA MORRER
11 de junho de 2011Animais em extinção: os bichos estão sumindo, mas ainda há como salvá-los.
Estes dados fazem parte do “Atlas da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção em Unidades de Conservação Federais”, uma produção primorosa – tanto em conteúdo quanto na apresentação – destinada aos estudiosos e leigos, como parte de um processo de registro da fauna nacional ameaçada de extinção que ocorre nas Unidades de Conservação (UC). O Atlas é uma publicação é do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O livro foi organizado por dois analistas ambientais do ICMBio, Jorge Luiz do Nascimento e Ivan Braga Campos. Em abril de 2010 eles deflagraram um processo de compilação de dados que contou com a colaboração de mais de uma centena de analistas e pesquisadores do ICMBio e universidades. A obra reúne informações sobre a ocorrência de espécies ameaçadas de extinção nas 310 UC que compõem o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), o que corresponde a uma área de exatos 75.467.815,71 hectares (ou 8,86% do território nacional). Foram coletadas informações de documentos oficiais, literatura científica, coleções biológicas, planos de manejo, planos de ação, planos de gestão e documentos existentes nas próprias UC.
O Atlas é uma provocação corajosa. Ele “nasceu da necessidade de conhecer o quanto e onde o SNUC está sendo eficiente em proteger as espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção”. Isto é, o Atlas indaga o que o Estado está fazendo para proteger essas espécies ameaçadas e se está sendo competente na missão. Na verdade, essa autorreflexão, antes de ser autocrítica, ou autodenúncia, revela uma visão mais elevada de serviço público. Aqui, servidores públicos (os que atuaram na organização do trabalho), com o apoio da Academia, mostram-se muito mais preocupados em encontrar solução para um problema real – a ameaça de extinção de algumas espécies – do que em encobrir os possíveis erros do órgão. É mais um ponto a se destacar do projeto.
Espécies Ameaçadas
Registros de espécies ameaçadas da fauna em UCs federais
“Este Atlas nasceu da necessidade de conhecer o quanto e onde o Sistema Nacional de Unidades de Conservação está sendo eficiente em proteger as espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção. Esta é uma pergunta de difícil resposta, mas que agora, com este trabalho, começamos a responder.”
Rômulo Melo, presidente do ICMBio
Os autores do Atlas: Ivan Campos, Jorge Nascimento, Amanda Galvão, Rodrigo Ranulpho e Viviane Santos.
(foto: Lisias Moura)
Atlas da Fauna Brasileira
O Atlas é uma provocação corajosa. Nasceu da necessidade de conhecer o quanto e onde o SNUC está sendo eficiente em proteger as espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção.
Agora se sabe quais as espécies ameaçadas ocorrem em quais Unidades de Conservação. O que significa isso? Para Jorge Luiz do Nascimento “essa compilação é a primeira oportunidade que o governo e a sociedade têm de fazer uma avaliação para tentar evitar a extinção dessas espécies”. Ele informa que o trabalho não acabou, a pretensão agora é fazer uma Revisão bibliográfica (a literatura científica) rigorosa, localizando os estudos sobre os animais ameaçados de extinção. “Ainda tem muito mais informação dispersa”, diz Jorge.
De posse desse diagnóstico o Governo pode definir políticas que contemplem o foco primeiro deste trabalho, com ações para evitar a extinção dessas espécies, como também, a partir destes dados, construir uma política de preservação ambiental que tem na relação ecológica entre a fauna e a flora a garantia de sua existência. Perder um elemento da cadeia ecológica significa a ruptura de um equilíbrio orgânico estabelecido há milhares de anos que pode concorrer para extinção de outros animais e na eliminação de elementos da flora.
Combater a extinção de animais é papel de toda sociedade. O papel da ICMBio é a gestão da UCs federais e o planejamento para conservação das espécies ameaçadas. Quem executa esses planos são ONGs, universidades, a polícia, enfim, os mais diversos entes da sociedade. O ICMBio coordena e acompanha os diversos planos de ação para evitar a extinção de espécies. Ao elaborar um Atlas como esse o Instituto Chico Mendes provoca uma reflexão, dentro de fora do Governo, sobre a importância do tema. Até o lançamento do Atlas não se sabia exatamente quais os animais ameaçados de extinção ocorriam em Unidades de Conservação federais.
Agora se sabe. Com este trabalho os técnicos, os analistas, o Governo, a sociedade, podem impedir que não ocorra com a onça parda e o tatu-bola, ameaçados de extinção, e que hoje habitam a Estação Ecológica Raso da Catarina (na Bahia), o que ocorreu com a ararinha-azul (Cyanopsita spixii), antiga habitante do lugar. Não tem mais ararinha na Caatinga. Hoje só existe ararinha-azul em zoológicos ou criadouros particulares fora do Brasil. Muito triste!