Rei do céu e da floresta

Urubu-rei: um mistério desvendado

12 de junho de 2011

De como o “invisível” urubu-rei chegou às lentes de Dalgas Frisch


A beleza e os hábitos revelados


Aventura programada e viagem iniciada, pai e filho montam barraca às margens do rio Ju uena. Com todos seus apetrechos de pescaria e de fotografia, Dalgas e Christian se posicionam para decifrar o mistério. O tempo passa, e nada de urubu-rei. Então, aproveitaram para descansar e pescar. Ao amanhecer do terceiro dia, Christian pesca um jaú de 40 quilos. Dalgas coloca o peixe no melhor local para uma boa luminosidade e, assim, fazer uma série de fotos. Enquanto fotografava o jaú, Christian consegue pescar uma piraíba de igual tamanho. Por ter uma carne mais nobre, escolhem a piraíba para o almoço. Ao começar o preparo da piraíba, Dalgas vê que urubus comuns se aproximam e pousam nas árvores próximas.


Como chegar ao rio Juruena


O rio Juruena está localizado no norte de Mato Grosso. Pode-se ir por Cuiabá-MT ou por Vilhena, em Rondônia. O município de Juruena está a 1000km de Cuiabá e a 370km de Vilhena. O rio Juruena junto com o rio Teles Pires são afluentes principais do rio Tapajós, que por sua vez deságua no rio Amazonas, próximo de Santarém, no Pará.


Acerca da espécie


Ave da família Ciconiidae e subfamília Cathartidae, o urubu-rei (Sarcoramphus papa) habita as zonas tropicais e semi-tropicais do México até a Argentina e está em quase todo o Brasil, na regiões onde ainda se preserva mata virgem. Devido a degradação e o desmatamento, é uma ave cada vez mais rara de se observar. Além do urubu comum (cathartes atratus) todo preto, há outros três tipos: urubu de cabeça amarela (cathartes burrovianus); o urubu cabeça vermelha (Cathartes aura) e o urubu rei (Sarcoramphus papa) também conhecido como corvo branco.


 


Segredo revelado


“Fiquei maravilhado! Via nitidamente o papo sem penas no peito do urubu-rei. Quando ele chega, o papo está vazio. Ao terminar o banquete, o papo está cheio. Aí a ave decolou, deixando o resto do peixe por conta dos urubus comuns. É bom salientar que, não fosse a força do bico do urubu-rei, os urubus comuns teriam que esperar o peixe ficar putrificado. O máximo que poderiam saborear eram os olhos do jaú”


O ornitólogo Dalgas Frisch fala de suas conclusões.


Os urubus-rei voam a cerca de 1.500 a 2.000 metros de altura. Eles não são caçadores em potencial e não têm olfato apurado como os urubus comuns. Apenas voam muito alto para poder, com uma visão binocular, ver onde os urubus comuns localizam um animal morto. E mergulham incontinenti.


São muito espertos e querem ter o privilégio de rasgar, com seus bicos afiados e com força de escavadeira, o corpo do animal encontrado.


Eles gostam mesmo é de carne fresca e não em estado de completa putrefação.


Nunca havia observado antes estas aves, nos meus 50 anos de andanças pela Amazônia, justamente porque elas voam em planeio a altas alturas. Brancos, entre nuvens brancas, tornam-se imperceptíveis aos nossos olhos.


Um detalhe curioso: o filhote de urubu comum é branco, enquanto filhote de urubu-rei é preto.


O urubu-rei não freqüenta os grandes lixões das cidades.


Mas Dalgas Frisch deixa um alerta importante: quanto mais destroem as florestas para plantar soja, criar gado cultivar cana e milho, tanto mais rápido os urubus-rei vão perdendo seu habitat. Como já estão relacionados entre os animais em extinção, vai chegar o dia, infelizmente, que urubu-rei só mesmo em fotografia.




 


 O REI DA FLORESTA



E aí é o próprio Dalgas Frisch que conta.


“Num relance, olhei para o céu e vi lá nas nuvens, a uns mil metros de altura, dois urubus-rei plainando. Não tive dúvida, pedi ao meu filho para puxar o jaú para a praia. Montei dentro da mata, ao lado da praia, minha cabana camuflada para filmagem. Pedi que Christian levasse a piraíba ao nosso acampamento. Em poucos instantes, os urubus comuns começaram a descer na praia ao lado do Jaú. Interessante é que eles não conseguiam furar o jaú com os bicos. Não conseguiam rasgar o couro do jaú”. Fotografando e filmando a cena, Dalgas se assusta com um ruído forte vindo do alto das árvores. “Era como se fosse um avião “Stuka” alemão da 2º Grande Guerra”, explica Dalgas e continua. “Vi que os urubus comuns estavam atordoados com o barulho. Nisto, desce suavemente na praia, mas a força de um caminhão, mergulhando diretamente em cima do jaú, um urubu-rei. Impressionante como logo rasgou o couro do peixe e, como dono da área e da floresta, iniciou sua refeição. Em seguida, fazendo a mesma zoada, chega o companheiro do urubu-rei. Fiquei impressionado com a força e com a disposição em retalhar o jaú, coisa que os urubus comuns não tinham a mínima condição de fazer”.