Eliseu Alves: o semeador de sonhos

22 de agosto de 2011

O cientista que fez a revolução verde na agricultura tropical recebe o Prêmio Norman Borlaug

Eliseu Roberto de Andrade Alves


 


 


 


 


“Eliseu Alves foi o portador da grande ideia que revolucionou a agricultura do Brasil e do Mundo tropical. Foi Eliseu que ajudou a transformar um grande passivo, que era o cerrado, num grande ativo da economia brasileira”.


“Eliseu Alves foi o vetor da grande idéia que revolucionou a agricultura do Brasil e está revolucionando a agricultura do Mundo”. Delfim Netto


Eliseu Alves, fundador da Embrapa, foi escolhido, não só pelos mais de 50 anos de trabalhos relevantes como cientista e gestor público em favor do setor agrícola mas, sobretudo, por personificar o compromisso constante e persistente com a modernização da agricultura em áreas tropicais, o que se tornou uma das maiores revoluções tecnológicas que o Mundo assistiu e que sempre teve em Norman Borlaug, em vida, um dos seus maiores entusiastas e admiradores.


Num testemunho espontâneo, e de alguma maneira inesperado, Luiz Alberto Garcia, presidente do Grupo Algar e também homenageado do evento com o título de Personalidade do Agronegócio 2011, confessou no seu discurso de agradecimentos que quis muito ser membro do Conselho de Administração da Embrapa. Justificou o seu desejo: “A razão é simples. Quando plantamos milho pela primeira vez na nossa primeira fazenda no cerrado, colhemos 20 sacas por hectare. O nosso agrônomo não acreditava nisso, pois dizia que milho exigia terra de cultura. Hoje, com o conhecimento criado, colhemos duzentas sacas. Duzentas e não mais vinte! O que vocês fizeram para o Brasil, doutor, Eliseu, não tem preço”.


ELISEU ALVES criou a base de inteligência da Embrapa


A entrega do prêmio a Eliseu Alves, no encerramento do 10º Congresso Brasileiro do Agronegócio, no último dia 8, em São Paulo, pelo presidente da ABAG, Carlo Lovatelli, contou com uma “guarda de honra” de primeira grandeza: os ex-ministros da Agricultura Alysson Paolinelli e Roberto Rodrigues, e o atual presidente da Embrapa, Pedro Arraes, e os ex-presidentes Alberto Portugal e Sílvio Crestana, se perfilaram para aplaudir o homenageado. Num curto documentário, que precedeu a entrega do prêmio, amigos e autoridades destacaram o seu compromisso de mais de 50 anos em manter vivo um debate de qualidade sobre os problemas da agricultura.


Pedro Arraes lembrou que o homenageado “foi quem criou toda a base e a inteligência dessa empresa. E ainda contribui com nossa empresa, com suas ideias estratégicas e seu tom provocador. Ele gosta de provocar as controvérsias para que surjam as ideias que façam a Embrapa avançar.”


Para o ex-ministro Delfim Netto, Eliseu Alves foi o vetor da grande idéia que revolucionou a agricultura do Brasil e está revolucionando a agricultura do Mundo. “Eliseu – reafirma o ex-ministro – transformou um grande passivo, que era o Cerrado, num grande ativo” da economia brasileira. Delfim Netto diz que o retorno social da Embrapa e da pesquisa agrícola brasileira é inestimável e revela que Eliseu é, até hoje, seu principal conselheiro em economia agrícola.


Visivelmente emocionado, ao agradecer a premiação, Eliseu Alves se apoiou na lógica para explicar a construção da Embrapa, a escolha dos problemas e dos centros de pesquisa, ao longo dos anos. Destacou a integração com o setor produtivo: “a Embrapa, é claro, é a minha vida. Mas sozinha a empresa não teria condições de fazer o que fez. Isso foi possível junto com o agronegócio. Para mim, a ABAG é um símbolo do agronegócio bem sucedido”.


Ao fim, com simplicidade e seu inconfundível sotaque mineiro confessou, com a voz embargada: “A gratidão é coisa complicada de ser expressa em palavras”. Um soluço calou a lógica. Eliseu Alves, então, chorou amparado pelos amigos ministros e presidentes da Embrapa, sob o aplauso da gente do agronegócio brasileiro.


Trajetória


Eliseu Alves é engenheiro agrônomo formado pela Universidade de Viçosa (MG), em 1954, com Mestrado e Doutorado em Economia Agrícola pela Purdue University-EUA. Tem uma relação estreita com a história da pesquisa brasileira. Participou ativamente do grupo que teve a iniciativa de reformar o setor de pesquisa no Ministério da Agricultura, na década de 70, ideia que resultou na criação da Embrapa. Ele foi diretor nos seis primeiros anos da Embrapa, presidindo-a entre os anos de 1979 e 1985. Isto foi decisivo para implantar duas ideias fundamentais: o a capacitação dos pesquisadores em centros de excelência no exterior e a organização de centros de pesquisa voltados a problemas bem definidos. Eliseu foi ainda responsável pelo programa de exportação de frutas desenvolvido pela CODEVASF no Vale do São Francisco, criando um polo de produção de frutas em Petrolina.