INVENÇÃO DO COGUMELO

22 de agosto de 2011

Arte, cultura e meio ambiente

“Home” é para sempre


Filme bom, filme de arte, filme de qualidade, como um bom livro, é para sempre. É o caso de “Home – Nosso Planeta, Nossa Casa”, lançado em 2009. Dirigido por Yann Arthus-Bertrand, ele mostra o planeta sempre a partir dos céus. E é a partir desse ângulo – de cima para baixo – que o filme conta a história do planeta e dos seus habitantes.


Home é mais belo e mais incisivo do que “Uma verdade inconveniente”, premiado com o Oscar em 2006. Home sobrevoa 54 países, revelando a terra, a natureza, a gente. A terra nunca esteve tão bonita quando vista dessas alturas. Muitas vezes as imagens mais parecem quadros surrealistas, cubistas, neorrealistas, mas é a nossa terra. Nossa casa. Por enquanto, ainda viva. Sim, porque “Home, nossa casa” mostra como os seus moradores estão destruindo a sua morada. Outros filmes passarão, mas Home ficará.


Origem das espécies


Já que falamos de obras que ficarão, lembro “A origem das espécies” de Charles Darwin. Sim, o livro não é uma obra de ficção, mas acabou sendo tratada como tal pelo catolicismo, que entendeu que seu autor era contra o que dizia o livro de Gênesis na Bíblia. “A origem das espécies” teve sua primeira edição em 1859 e a segunda em 1872.


Como um livro com tamanho rigor científico pode ter dúbia interpretação, como se fosse literatura? Quando lido sob o crivo da metafísica, isto é, da religião, Darwin não diz que os homens vieram de macacos, mas que ele descende de seres mais primitivos, que evoluíram para o “homo sapiens”. “As espécies se ramificam sucessivamente a partir de formas ancestrais, como os galhos de uma grande árvore, a árvore da vida” (Wikipedia).


Esta concepção permanece como fundamental para o entendimento ecológico. “A origem das espécies” é daqueles livros para serem lidos e relidos ao longo da vida, por razões científicas e por razões históricas – para a gente não esquecer que, no passado, o pensamento religioso dominante tentou desqualificar a obra. Para a gente não esquecer que ainda hoje tem quem sustente esse mesmo pensamento.


Pedra sobre pedra


Toda vez que você encontrar uma pedra dê-lhe o devido respeito. Pedra também sonha, pedra se cria, pedra é quase gente. Exagero? Claro. Nesta coluna tudo se permite. Não triture uma pedra e ela vira poesia. O mineiro de Itabira, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), tropeçou com uma e redigiu este aviso:



No meio do caminho tinha uma pedra


tinha uma pedra no meio do caminho


tinha uma pedra


no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento


na vida de minhas retinas tão fatigadas.


Nunca me esquecerei que


no meio do caminho


tinha uma pedra


tinha uma pedra no meio do caminho


no meio do caminho tinha uma pedra.



Já o pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999) fez da rocha sua professora no sertão. Diz ele:


Uma educação pela pedra: por lições;


para aprender da pedra, frequentá-la;


………..


Outra educação pela pedra: no Sertão


(de dentro para fora, e pré-didática).


No Sertão a pedra não sabe lecionar,


e se lecionasse, não ensinaria nada;


lá não se aprende a pedra: lá a pedra,


uma pedra de nascença, entranha a alma.



E Cora Coralina que fez da pedra um momento de poesia:


“Entre pedras que me esmagavam


Levantei a pedra rude


Dos meus versos”.



Como esquecer o Maestro Maior, Tom Jobim, em Águas de Março?


É pau, é pedra, é o fim do caminho


É um resto de toco, é um pouco sozinho


É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã


É um belo horizonte, é uma febre terçã.

(…)