O MILAGRE DO IPÊ

20 de setembro de 2011

PRIMAVERA: o dia em que a natureza venceu

A FOTO EDUCAÇÃO: o poste-ipê.


                                                              Foto: LEANDRO BARCELLOS


As provas de que a natureza é magnânima e exuberante estão aí aos montes: para despoluir um rio, basta deixar de poluí-lo. Para recuperar uma área degradada, basta deixá-la livre das agressões físicas e químicas. E para reconstituir uma floresta, basta recuar com as motosseras e proteger a área por alguns anos.

Numa edição em que a matéria de capa é justamente Fotografia de Natureza, o fotógrafo LEANDRO BARCELLOS dá uma lição profissional e emocionante. Fotografa um pé de ipê que foi arrancado da floresta para servir de poste. Este exemplo de Porto Velho, em Rondônia, é muito forte. E pontual. O tronco do ipê amarelo cortado e transformado em poste recebe todo tipo de fiação. Fios de energia, de telefonia, de tevê a cabo e até a iluminação pública. A foto de Leandro Barcellos mostra bem como o emaranhado de fios, pregos, ganchos e arames sufoca o ipê.


Ao abraço de urso, o ipê dá uma resposta pacífica aos agressores.
Às marteladas, facões e serrotes, responde com amor. Ao desrespeito e abandono, oferece uma vez mais sua sombra e se veste de flores. Ao assassinato de seus galhos e folhas, responde com a vida. Ressuscita para anunciar a Primavera.


 


“Não aceitando a imposição do homem, o ipê fincou pé e readquiriu a vida. O poste que floriu fica como uma homenagem à Primavera”.


O MILAGRE DO IPÊ 


Silvestre Gorgulho



O Primeiro Ato é mais que conhecido:


– Esta árvore é minha! Vocifera o bronco.


Vai me trazer o conforto merecido.


Este pé de ipê é de excelente porte.


Tira-lhe os galhos… Raspa-lhe o tronco,


Pois que está condenado à morte!


 



Vem, a seguir, o Segundo Ato:


– Tudo tem que estar pronto ao fim do dia.


Não há espera. Árvore é no mato!


Prendem-lhe fios, arames e pregos


Para que a modernidade em energia


Chegue a todo bairro em imediato!


 



O Terceiro Ato é mais que previsível.


– Morreu como um crucificado!


É forte? Madeira de lei? É invencível?


Que nada! Estarei no meu sofá sentado


E este pé de ipê me dará alívio


Ao trazer luz, tevê e ar condicionado.



 


Como fez o Cristo no Calvário.


O Ipê – no Quarto Ato – foi divino:


Abriu em belíssimo cenário


Prá ressurgir florido à espera


De ofertar flores ao assassino.


Exuberante! Lindo! Uma quimera!


Respondeu com paz, o solitário,


E saudou com vida a Primavera!


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