Fotógrafos de natureza

Fotografia em forma de oração: Os 10 Mandamentos da Fotografia de Natureza

22 de setembro de 2011

Fábio Colombini faz o sermão da montanha, a homilia dos rios, a súplica dos parques e a prece da fauna e da flora na forma dos 10 Mandamentos e dos 7 Pecados Capitais.

“Sinto-me privilegiado por trabalhar com a natureza e observar-lhe os detalhes, pois neles vejo a grandeza de Deus. Sua presença e Seu amor nos envolvem, suavemente como a brisa, num constante encantar e reencantar pela vida”.


Fábio Colombini


I – Amarás a Deus sobre todas as coisas


O primeiro e mais importante de todos os mandamentos também é raiz da fotografia de natureza. Tendo-se Deus como autor, origem, fonte de toda criação, vê-se na natureza a manifestação concreta de Deus, e passa-se a te-la como preciosa e sagrada, objeto de amor, que deve ser o principio motivador de todo fotógrafo de natureza. Os conceitos de beleza e bondade se associam e se tornam sinônimos – o que é belo é bom, o que é bom é belo.


 


II – Não usarás os momentos na natureza em vão


Valorizar a natureza em toda sua importância dedicando-se a uma exploração consciente, minuciosa, atenta. A natureza é bela por si mesma, porém isso não garante automaticamente fotos belas. É necessário ter uma consistente formação técnica, biológica e artística. Usar os equipamentos adequados, buscar a melhor luz, ângulos, enquadramentos, para que cada imagem seja produzida como se fosse a mais importante.


 


III – Guardarás os domingos e templos da natureza


Conhecer e respeitar os ciclos da natureza permite estar nos lugares certos nos momentos certos. A natureza tem seus domingos, suas pausas, tempo de florir e tempo de secar, tempo de reproduzir e tempo de se resguardar. As ações na natureza não aceleram seu ritmo da forma como o homem tem feito com sua vida por meio da tecnologia – a paciência para observar e esperar o momento certo é um dom do fotógrafo de natureza.


 


IV – Honrarás a biodiversidade


Reconhecer a grandeza e importância da natureza em nossas vidas, e procurar por meio da fotografia despertar o amor pela natureza no maior número possível de pessoas – conhecer para amar, amar para conhecer. Respeitar os animais, seus territórios, forças e fragilidades, não se expondo desnecessariamente a riscos por questões de ambição e vaidade. Cultivar a mansidão e o silêncio.


 


V – Não matarás


O fotógrafo deve promover a vida, e a busca pela melhor imagem não deve ultrapassar as barreiras de segurança para si e para os animais. A aproximação excessiva, a alteração do ambiente, a manipulação de ninhos, são atitudes que podem estressar e até matar espécies sensíveis. Como formador de opinião pública o fotógrafo pode usar o poder de persuasão da imagem para evitar ações que destruam e matem a natureza.


 


VI – Não cometerás adultério contra a natureza


O fotógrafo de natureza deve ser coerente em suas atitudes, agindo como exemplo de cidadão consciente, com consumo responsável e sustentável, incentivo de reciclagem, ações de preservação do meio ambiente, não aceitação de parcerias com empresas que prejudicam o meio ambiente.


 


VII – Não roubarás imagens


A todo instante acontecem coisas maravilhosas na natureza, os ciclos dos dias, das estações e da vida se repetem, embora surgindo sempre como novidade. O fotógrafo deve se integrar à natureza, vivendo junto com ela, captando imagens na forma de cumplicidade, e não com espírito de roubo, de retirada não autorizada. O ser humano é muitas vezes intruso e indesejado na natureza. Que o fotógrafo não roube a tranqüilidade e o equilíbrio dos ambientes.


 


VIII – Não levantarás falsos testemunhos


A verdade é uma das principais características da fotografia de natureza. A alteração dos elementos de uma foto, seja na hora de captá-la, seja na manipulação digital por programas de computador, podem expressar mentiras do ponto de vista científico, documental ou jornalístico. A busca pelo preciosismo estético não pode ultrapassar o limite da verdade.


 


IX – Não cobiçarás a foto do próximo


Cada fotógrafo tem seu momento, sua formação, sua capacidade, suas oportunidades e limites. As mais belas fotos são conquistas a serem admiradas e elogiadas, não cobiçadas com sentimentos destrutivos de inveja. Toda imagem tem sua importância e cumpre uma função, seja ela obtida por uma criança iniciante ou por um profissional mundialmente consagrado.


 


X – Não desejarás os bens do próximo


A fotografia é um meio extremamente saudável de termos a natureza conosco sem a necessidade de nos apropriarmos dele, como manter aves exóticas em gaiolas ou retirar orquídeas nativas da natureza. Outra expressão do desejar os bens dos outros pode ser manifestada pelo desejo de possuir o equipamento ou as virtudes dos outros fotógrafos, o que é uma grave forma de tristeza.


 


Os sete Pecados Capitais da Fotografia de Natureza


 


I – Gula


A fotografia de natureza exige preparo físico e flexibilidade a situações precárias. O valor excessivo à comida não condiz com a simplicidade da alimentação e esforços a que o fotógrafo é submetido. Com a observação da própria natureza aprende-se a alimentar-se do necessário.


 


II – Avareza


A natureza é um bem da humanidade, e o dom para a fotografia deve ser posto a serviço da mesma. Assim deve-se evitar a tentação de obter mais e mais fotos somente para nosso próprio deleite ou ganho financeiro, mas colocá-las a serviço da comunidade pela educação e partilha de conhecimentos.


 


III – Luxúria


Deixar-se envolver pela enorme quantidade de estímulos sensoriais que a natureza oferece, pode conturbar o objetivo de síntese e comunicação que o fotógrafo deve exprimir em suas fotografias. Sensibilidade, concentração e organização são fatores para que uma mensagem clara e impactante seja capturada na luxuriante (exuberante) natureza.


 


IV – Ira


Não é aconselhável irar-se com os infortúnios que a natureza nos impõe. As fotos perdidas, as condições climáticas desfavoráveis e castigantes, a dificuldade de encontrar determinados animais e plantas – devemos encarar com desafios as dificuldades inerentes ao trabalho com seres vivos.


 


V – Inveja


É uma virtude alegrar-se com o próprio trabalho, agradecendo pela possibilidade de estar na natureza, admirar e registrar suas belezas. Os trabalhos desenvolvidos pelos outros fotógrafos devem servir de inspiração, referência e motivação, num olhar positivo, nunca pelo desejo do infortúnio alheio.


 


VI – Preguiça


Não deixar-se dominar pela preguiça, a impor-se o esforço necessário para obter boas imagens, acordando cedíssimo, caminhando por grandes distâncias, carregando pesados equipamentos, enfrentando calor, frio e insetos incômodos. Os melhores horários para a fotografia de natureza ocorrem quando a maioria das pessoas está acordando ou encerrando seu dia de trabalho.


 


VII – Soberba


Importante manter uma atitude de humildade perante a natureza, respeitando seu poder e não considerando-a sempre disponível à nossa vontade. Evitar também considerar-se superior aos outros fotógrafos, pois fama e glória são efêmeros e vaidade.


 


 


Quem é Fábio Colombini


“Como não filosofar sobre a vida ao deparar com um ser rastejante e quase cego, que, após se recolher no interior de um casulo e ter o corpo totalmente liquefeito e reconstruído, renasce como borboleta?”
Fábio Colombini



 


Fábio Colombini, 48 anos, é arquiteto e publicitário, mas tem na fotografia sua principal atividade. Está sempre na busca a imagem perfeita. A prova está em seus próprios livros e nos seus trabalhos publicados em cerca de 3 mil livros e revistas. Entre seus livros destaco dois: “Natureza Brasileira em Detalhe”, que escreveu com outro perfeccionista da natureza, o pesquisador Evaristo Eduardo Miranda, quando garimpou uma outra floresta debaixo da floresta Amazônica e escancarou com suas fotos a beleza da vida nos detalhes da biodiversidade. E “Fotografia de Natureza Brasileira”, um guia prático para todos aqueles que se interessam pela fotografia de natureza. Em 180 páginas, Colombini incentiva novos talentos profissionais e amadores, destacando a importância da fotografia ambiental enquanto instrumento de educação, preservação e conscientização.  Fábio Colombini, membro da Afnatura – Associação de Fotógrafos de Natureza, já recebeu muitas premiações. Agora acaba de receber mais uma, em Brasília: o importante o Prêmio Verde das Américas.