Invenção do cogumelo

22 de setembro de 2011

Arte, cultura e meio ambiente

Quatro filmes, quatro tempos. O que há de comum entre eles além do fotograma tornado vídeo, nova luz, cinema caseiro?
Primeiros dados: os quatro são filmes de ficção científica. Wall-e e Os Jetsons são, em tese, desenhos para as crianças. Os outros dois, para o público de mais idade.
Metrópolis, um clássico do cinema mudo, foi dirigido pelo austríaco Fritz Lang. Produzido em 1927, é ambientado no Século XXI. O filme mostra a luta de classes (patrões X operários) – os ricos vivem nababescamente, usufruindo a natureza; os operários, explorados pelas máquinas, vivem em subsolos.
Na época o medo do comunismo era latente e o filme recebeu várias versões. A solução para o conflito de classes, propõe o filme, está num acordo celebrado entre patrões e operários com intermediação da Igreja/religião. A visionária Maria (nome simbólico para os cristãos), boazinha, vence a outra Maria, que é um robô criado para o Mau. Grot é o nome do líder dos operários.
Os Jetsons era uma série de desenhos infantis da produtora Hanna-Barbera que se tornou muito popular na TV nos anos 60/70. Mostra a vida de uma família que vive no futuro – pai, mãe e dois filhos.  Na época, foi lançado um longa metragem intitulado, Os jetsons – o filme, que pode ser adquirido hoje nos supermercados em DVD. Nesta história, a família se muda para um asteróide onde a empresa para qual George, o pai, trabalha, pretende explorar um determinado minério para produzir engrenagens. Ele enfrenta a resistência dos Grungies (tem algo a ver com o Grot de Metrópolis?), seres miúdos e graciosos que vivem no lugar. Para extrair o minério é preciso destruir o meio ambiente e as casas em que vivem os Grungies. Temos então dois conflitos da luta de classes e a exploração do meio ambiente.
Os Jetsons é uma série que reforça os valores da família tradicional – não por acaso, todos obedecem ao pai, George, mesmo quando se nota que ele é um banana. A solução para os conflitos, no caso, é tipicamente capitalista: os Grungies se tornam operários na indústria que irá reciclar as engrenagens antigas. E eles se mostram tão alegres na condição de apertadores de parafusos que mais parece uma brincadeira.
Quando se fala em exploração de minérios num local distante, e de como isso irá afetar seus habitantes, a gente se lembra logo de um filme mais recente, Avatar, de James Cameron. Lançado em 2009, Avatar, cuja história se passa em 2154, recupera a espiritualidade que havia em Metrópolis, mas de uma forma diferente. A espiritualidade aqui passa longe do cristianismo – trata-se de uma relação entre os seres nativos e a natureza, geradora de força e poder. Temos em Avatar, mais uma vez, o conflito entre o capital e meio ambiente. Embora não sendo um filme socialista ou algo do gênero, Avatar faz uma crítica feroz ao capitalismo ou, pelo menos, à sua insensibilidade com a natureza. Aqui o capital faz uso da força policial do Estado para tentar aniquilar os seres nativos e o que lhe é sagrado, a natureza.
A solução para o conflito, no entanto, segue a velha e mofada fórmula norte-americana de Hollywood (ou do Departamento de Estado) – um soldado bonzinho (o avatar), um estrangeiro, salva o povo do extermínio. O uso da força militar para resolver conflitos, como em Avatar, é uma praxe nos filmes de Hollywood porque é uma praxe na política externa norte-americana. Não existe solução pelo diálogo. É preciso uma guerra e, somente assim, os nativos se impõem.
Sobre conflitos entre capital e trabalho, e também crítica ao processo industrial, há Tempos Modernos, de Charles Chaplin. O filme de Chaplin tomou como referência o excelente A nós a Liberdade, de René Clair.
Finalmente, é preciso observar a relação que existe entre Os Jetsons e o excelente desenho da Pixar-Disney, Wall-e. Os Jetsons incorpora uma visão idílica do futuro, quando tudo se faz apertando botões. Esta é a única atividade profissional do patriarca dos Jetsons. O desenho oculta os riscos do sedentarismo e da comida fast-food, isto é, a obesidade. E essa é uma das maiores críticas presentes em Wall-e. Neste filme os adultos passam tanto tempo sentados (depois de tornarem a terra um grande depósito de lixo) que se tornam balofos. As pernas se atrofiam, é claro.