MAMÍFEROS EM PERIGO

22 de setembro de 2011

Estudo inédito com armadilha fotográfica traça a primeira análise global do declínio de mamíferos.

“Os cientistas descobriram que as maiores áreas protegidas e florestas contínuas tendem a conter três atributos semelhantes: maior diversidade de espécies, maior variedade de tamanhos de animais, maior variedade de dietas entre mamíferos.”



 O estudo permitiu aos cientistas aprofundar hábitos da fauna


As armadilhas fotográficas são câmeras, acionadas por um sensor, que disparam na presença de algum animal. O uso deste equipamento visa o menor nível de estresse possível para o animal, já que a presença de um observador poderia influenciar no resultado final. Ao todo foram 420 câmeras colocadas em diferentes regiões ao redor do mundo com 60 armadilhas fotográficas instaladas em cada local. A análise dos dados fotográficos ajuda os cientistas a confirmarem uma conclusão fundamental que, até então, era compreendida apenas por estudos não coordenados: a perda de habitat e reservas com área restrita tem um impacto direto e negativo para as populações de mamíferos, principalmente no que diz respeito ao tipo de dieta e tamanho dos animais. Os estudos mostram que animais pequenos e insetívoros são os primeiros a desaparecer.
A Reserva Natural de Suriname Central, um dos locais estudados, apresentou o maior número de diversidade de espécies (28), ao mesmo tempo a Área Protegida Nacional de Nam Kading em Laos apresentou o menor número de diversidade de espécies (13). O tamanho do corpo das espécies fotografadas varia de 26 g (Cuíca-pequena de Linnaeus, Marmosa murina)  a 3.940 kg (Elefante africano, Laxodonta africana) As fotografias revelam uma incrível variedade de animais em seus momentos mais inocentes e até mesmo de turistas e caçadores. Isso foi possível porque este é um método eficiente e não invasivo que permite cobrir uma grande área ininterruptamente.
As armadilhas fotografadas permitem monitorar diversos pontos por longos períodos, determinando a dinâmica e a composição de populações faunísticas, sendo assim especialmente úteis no estudo de espécies com hábitos noturnos ou furtivos em baixas densidades. Com as fotos em mãos, tiradas entre 2008 e 2010, cientistas puderam categorizar os animais por espécie, tamanho e dieta, por exemplo. Eles descobriram que as maiores áreas protegidas e florestas contínuas tendem a conter três atributos semelhantes: maior diversidade de espécies, maior variedade de tamanhos de animais, maior variedade de dietas entre mamíferos.


O estudo foi liderado pelo ecologista Jorge Ahumada, do Programa de Ecologia, Avaliação e Monitoramento de Florestas Tropicais, da Conservação Internacional.
Segundo pesquisadores, ?os resultados do estudo confirmam o que suspeitávamos: a destruição de habitat está, aos poucos, minando a diversidade de mamíferos no nosso planeta. Podemos tirar duas conclusões fundamentais desta pesquisa.
A primeira é a de que quanto maior a floresta em que vivem, maior será o número e a diversidade de espécies, o tamanho do corpo e a variedade da dieta. E a segunda é a de que alguns mamíferos pareçam ser mais vulneráveis à perda de habitat do que outros. Mamíferos que se alimentam  de insetos, como tamanduás, tatus e alguns primatas, são os primeiros a desaparecer, enquanto outros grupos, como os herbívoros, parecem ser menos sensíveis?. Os resultados do estudo foram publicados no Jornal Philosophical Transactions da Royal Society no artigo “Estrutura de comunidade e diversidade de mamíferos tropicais: dados de uma rede global de armadilhas fotográficas”.


Consistência científica do estudo
Este estudo vem preencher uma lacuna importante sobre o que os cientistas sabem sobre a forma como os mamíferos vêm sendo afetados pelas ameaças locais regionais e globais, como a caça excessiva, a conservação das terras para agricultura e a mudança climática. Jorge Ahumada explica: “O que torna esse estudo cientificamente inovador é que nós criamos pela primeira vez informações comparáveis e consistentes sobre os mamíferos em uma escala global para monitorar as mudanças. Usando essa metodologia nos próximos anos, e comparando os dados recebidos, poderemos ver as tendências nas comunidades de mamíferos e realizar ações direcionadas e específicas para salvá-las”.


 Para o pesquisador, sem uma abordagem global e sistemática para monitorar esses animais e garantir que os dados cheguem aos tomadores de decisões, as fotografias apenas registrariam sua extinção, sem salvá-los realmente. Jorge Ahumada espera que os dados obtidos com este estudo possam contribuir para um melhor gerenciamento das áreas protegidas e a conservação dos mamíferos em todo o mundo. Os dados também poderão contribuir para um uso mais disseminado de estudos padronizados que utilizam armadilhas fotográficas para monitorar esses animais de grande importância.


 



O monitoramento fotográfico à noite permite salvar várias espécies da extinção


 


 


 


 


Mamíferos: indicadores de vulnerabilidade


Os mamíferos têm papéis importantes na natureza e servem como indicadores de vulnerabilidade. Afinal, eles beneficiarão as pessoas, como o controle do crescimento de plantas, a reciclagem de nutrientes e a dispersão de sementes.


Pesquisadores argumentam que reduzir os mamíferos de grande porte através da caça excessiva reduz também a capacidade das florestas de armazenar carbono, já que esses animais são responsáveis pela dispersão de sementes de plantas de alta densidade de carbono. Resumindo: A diminuição da capacidade das florestas de armazenar carbono significa a diminuição da capacidade das pessoas de mitigar os efeitos da mudança climática.
O estudo foi feito em três continentes (América, África e Ásia) e cobriu sete áreas protegidas: Floresta de Bwindi (Uganda), Parque Nacional das Montanhas de Udzungwa (Tanzânia), Parque Nacional de Bukit Barisan Selatan (Indonésia), Área Protegida de Namkading (Lao), Reserva Natural de Suriname Central (Suriname), Manaus (Brasil) e Transecto do Vulcão Barva (Costa Rica). O “Programa de Ecologia, Avaliação e Monitoramento de Florestas Tropicais” é uma parceria entre a Missouri Botanical Garden, a Conservação Internacional, o Smithsonian Institution  e a Wildlife Conservation Society. Os parceiros locais do estudo são o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a Conservação Internacional do Suriname, a Organização para Estudos Tropicais, o Museu Tridentino di Scienze Naturali e o Institute of Tropical Forest Conservation.