Paquetá pede socorro!
20 de outubro de 2011Acabei de chegar de Paquetá, uma ilha na Baia de Guanabara. Outrora uma ilha lindíssima, paradisíaca e fonte de inspiração para romances e músicas. Visitei, em Paquetá, uma pessoa que tem uma casa no Morro Pendura Saia. A casa, pelas inúmeras rachaduras e pelo terreno totalmente vulnerável, teve emitido o laudo de interdição pela Defesa… Ver artigo
Acabei de chegar de Paquetá, uma ilha na Baia de Guanabara. Outrora uma ilha lindíssima, paradisíaca e fonte de inspiração para romances e músicas. Visitei, em Paquetá, uma pessoa que tem uma casa no Morro Pendura Saia. A casa, pelas inúmeras rachaduras e pelo terreno totalmente vulnerável, teve emitido o laudo de interdição pela Defesa Civil. O quadro nas imediações da casa e no morro é hoje desolador.
Área desmatada, uso irregular do solo, exploração da pouca vegetação existente e, pior, um empreendimento imobiliário terrível. Tem um sujeito que está loteando a parte ainda desocupada do morro, construindo casinhas de alvenaria de quarto e sala e as vendendo por R$ 5 mil cada. Um absurdo!
Ninguém me contou isso. Eu vi. Tem até um anúncio na subida do morro com as ofertas, em letras garrafais. “Casa a 5 mil reais”. Não me constrangi. Fui até a sede da Administração Regional para falar com o administrador da ilha. Eram 15h20. Cheguei e ele estava jogando cartas com amigos, na sala de trabalho. Com certeza, minha queixa foi em vão. Não tem fiscalização nem no Parque do Pão de Açucar, na Floresta da Tijuca, vai ter lá na Ilha de Paquetá? Mas deixo registrado aqui minha indignação.
Um detalhe importante: o dono do loteamento é o mesmo que está desmatando o morro Pendura Saia. Ele tem um negócio de aluguel de pedalinhos, por sinal, sem licença. Bem em frente ao prédio da CEDAE, na Praia do Guarda, que um dia vai virar museu.
RPL – Rio de Janeiro – RJ
Cadê o charme de Paquetá?
Morador fala da triste realidade da ilha
O morador de Paquetá, João Carlos Nascimento Alcântara, representante do Movimento Paquetá Sustentável, confirma que a situação das ocupações irregulares nas encostas ainda remanescentes de Mata Atlântica da ilha de Paquetá está dando lugar a favelas. “Pior – diz ele – lamentavelmente, as quatro favelas que foram criadas nos últimos dez anos, com a permissividade dos políticos, hoje são ocupadas por milícias e bandidos, além da comunidade de baixa renda”.
“É bom salientar – explica João Carlos – que em 1999, por decreto Municipal, a ilha de Paquetá foi transformada em Área de Proteção Ambiental e Cultural (APAC). Mas o decreto não foi respeitado.
Em 2001, as autoridades tentaram salvar as encostas, cercando os morros e determinando que, a partir da cota 20, nenhuma construção seria permitida. Também ninguém levou a sério. Sempre falta fiscalização, mas sobram interesses políticos, econômicos e muita impunidade”.
Administrador Márcio Malocas recebe ofício
A ilha de Paquetá é a 21ª Região Administrativa do Município do Rio de Janeiro. Dia 4 de outubro último, João Carlos Nascimento Alcântara mandou carta ao Administrador Márcio Malocas, em nome do Movimento Paquetá Sustentável, abordando a questão das construções irregulares nos morros da ilha. A carta é ampla, detalhista e pode ser resumida assim.
“Senhor Márcio Malocas: O Movimento Paquetá Sustentável do Movimento informa ao Administrador que tem sido observada e fotografada a contínua movimentação de moradores – quase sempre à noite – usando motosseras para desmatar as encostas da ilha. Também barquinhos são usados para transportar materiais de construção.
Tudo isto acontece nos morros Pendura Saia, Morro do Gari, Morro do PEC e da chamada “Cocheira”. O barulho das motosserras é permanente e aos poucos estão destruindo o pouco que resta de mata Atlântica nativa de Paquetá. Muitas construções podem ser vistas e todas sem alvará. É o crime da ocupação irregular do solo numa Área de Proteção Ambiental e Cultural”.
Paquetá, o vergonhoso retrato do abandono
A ilha de Paquetá é oficialmente um bairro que pertence à cidade do Rio de Janeiro.
É a 21ª Região Administrativa do RJ. Para chegar à Paquetá, somente por barcos. O embarque para a Ilha ocorre na Praça XV. A travessia marítima de 17km.
Paquetá tem 4.500 moradores fixos que, em sua maioria, trabalha e estuda na cidade do Rio de Janeiro. Antes considerada um lugar tranqüilo, a Ilha de Paquetá tem agora frequentado as páginas policiais. Além de assaltos, há pouco tempo foi apreendido no morro Pendura Saia, 40 bombas de fabricação caseira. Ninguém foi preso, mas os moradores ficaram com a sensação de que a violência finalmente desembarcou no seu pequeno pedaço de terra cercado de belezas por todos os lados.
Paquetá ainda tem seus encantos, mas aos poucos vai perdendo seu lado romântico e deixando de ser a ilha das serestas. O charme está acabando. O retrato do abandono, os interesses meramente políticos – segundo os moradores – e a violência vem degradando a flora, a fauna e a tranquila vida na Ilha de Paquetá. Uma pena!
“Triste Paquetá! 1976, 1984, 2004 e agora 2011. E o morro foi dando lugar às favelas, aos crimes mais diversos onde quem manda são as milícias e bandidos…”