Monumento Natural das Ilhas Cagarras

Cagarras

22 de novembro de 2011

Rio de Janeiro ganha mais uma unidade de conservação

“Acho que a diversidade dessas instituições no conselho representa quem está verdadeiramente interessado no reordenamento e preservação do Arquipélago”.


“A fiscalização e rastreamento de barcos, no caso da pesca, se dará por satélites. Quero implantar uma sede do ICMBio, com boa visão do oceano Atlântico, se possível, no bairro do Leblon”.

FABIANA


 


O Instituto Chico Mendes (ICMBio), órgão ao qual o  arquipélago  está subordinado, acaba de eleger  o novo Conselho Consultivo e Gestor  para os próximos dois anos, a fim de dar um norte em questões tão complexas como  poluição e a pesca irregular. O arquipélago das Cagarras é  um sítio de singular beleza cênica em um ponto turístico, aproveitado inclusive para mergulho. O conselho é composto por 28 instituições de diversos setores da sociedade civil e presidido pela jovem bióloga Fabiana Bicudo (32 anos) com mestrado em gestão de ambientes costeiros e marinhos pela universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e concursada pelo Ibama desde 2003. 
“Acho que a diversidade dessas instituições no conselho representa quem está verdadeiramente interessado no reordenamento e preservação do Arquipélago”, salienta Fabiana Bicudo.
Com a experiência de quem já chefiou o Parque da Ilha Fernando de Noronha, por três anos consecutivos, Fernanda Bicudo sabe de toda complexidade que envolve sua missão. Antes de assumir a mais nova unidade de conservação do ICMBio carioca, a bióloga garante que  a caça submarina  está expressamente proibida de acordo com legislação ambiental para todas as unidades de conservação.
A navegação no interior do arquipélago é outro fator relevante e não será permitida em dias de mau tempo e mar muito agitado. “Quero fiscalizar com rigor e seguir exatamente o que está na lei do Monumento Natural das Ilhas Cagarras.  Vamos adotar estratégias sofisticadas de abordagem aos sítios naturais. No caso da pesca, o rastreamento dos barcos se dará por satélites. Quero implantar uma sede do ICMBio com boa visão do oceano Atlântico, se possível no bairro do Leblon”, explica a presidente do Conselho Gestor de Cagarras.
O turismo desordenado é outro problema que se arrasta há décadas no lugar. Fabiana Bicudo quer aproveitar sua experiência em Fernando de Noronha para promover o ecoturismo, porém o número de visitadores vai ser limitado.  “Ecoturismo desordenado não é mais possível nos dias de hoje. O turismo tem que estar cem por cento direcionado à biodiversidade”, enfatiza.


Ilhas do arquipélago



Exemplos caractéristicos de atobás no arquipélago.


O arquipélago é composto por sete ilhas: Cagarras, Lage de Cagarras, Filhote de Cagarras, Comprida, Mathias, Praça Onze e Palmas. Aves marinhas como Atobás, Biguás, Fragatas (mas também conhecidas como João Grandes ou Tesourões), Gaivotas e por que não, Urubus, já que a quantidade de lixo urbano é enorme, deslocam-se por todo o arquipélago.
A fauna marinha também é expressiva: peixes, crustáceos, moluscos, algas e estrelas do mar em abundância. Em determinadas épocas do ano, é comum avistar golfinhos, tartarugas e com um pouco de sorte, baleias que usam este caminho na passagem migratória para águas mais quentes ao norte do litoral brasileiro fugindo da Antártica.
A vegetação é típica de Mata Atlântica e há ocorrência de bromélias, orquídeas, filodendros, cactus e algumas árvores como palmeiras. Diante de tanta biodiversidade, Fabiana Bicudo pretende  transformar o arquipélago de Cagarras em um holofote de conservação ambiental. “A biodiversidade precisa estar garantida às gerações futuras”, afirma a presidente do conselho gestor.
“Em Fernando de Noronha, procurei unir o público ao privado nas concessões dos serviços dentro do parque. Concedi licenças às empresas como lanchonetes para melhor equipar as estruturas físicas de apoio ao turismo. Aqui é diferente. O arquipélago de Cagarras está na categoria de monumento natural, que permite apenas o uso indireto dos recursos naturais. A extração, a coleta ou qualquer outro dano ao ecossistema estão proibidos”, enfatiza Fabiana Bicudo.


 



Das sete ilhas, as cinco principais são:
1 – Ilha Cagarra
2 – Laje Matias
3 – Ilha Redonda
4 – Ilha das Palmas
5 – Ilha Comprida


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


Conselho consultivo


O conselho consultivo de Cagarras é composto por 28 cadeiras de diversos setores da sociedade. A colônia de pescadores Z -13, em Copacabana, é uma delas. São cerca de 300 pescadores que atuam em alto mar e dentro da Baía de Guanabara. Eles reclamam que o descarte de material no cais do Porto, no Canal do Cunha e resíduos das bases petrolíferas, dependendo da correnteza, seguem para o arquipélago prejudicando a fauna e o comércio, afirma  o pescador Pedro.


O conselho consultivo é composto, em sua maioria, por ONGs, universidades e instituições de pesquisa do Rio de Janeiro. Carlos Rangel é coordenador do projeto Ilhas do Rio, realizado pela ONG MarAdentro com patrocínio da Petrobras.  “O que posso adiantar é que a nossa intenção é limitar o número de pessoas em Cagarras. Sua importância é tamanha que o projeto Ilhas do Rio participa do conselho consultivo desde o ano passado. Uma equipe de biólogos pesquisa e coleta dados científicos para que o plano de manejo seja implementado o quanto antes, em 2012. No futuro –  finaliza Carlos Rangel – vamos focar apenas no ecoturismo e  alunos interessados em meio ambiente”.
Mutirões de limpeza têm sido realizados com freqüência para que o Arquipélago largue a fama de terra de ninguém e  mostre à população sua nova faceta, isto é, uma unidade de conservação. O trabalho é árduo. Recentemente, uma ação de limpeza mobilizou cerca de 40 ambientalistas entre pesquisadores, fotógrafos, associações de pesca e mergulhadores. Uma exposição de fotografias está programada na sede da colônia de pescadores Z-13 para divulgar a unidade de conservação. 
A criação do Monumento Natural das Ilhas de Cagarras foi sancionada pelo ex-vice presidente José de Alencar em abril do ano passado com base em um projeto de lei do ambientalista Fernando Gabeira (PV/RJ). “A ideia é de protegê-lo e transformá-lo num ponto turístico, inclusive para mergulho. Inicialmente pensamos em afundar um navio ali, pois funcionaria como um recife e atrairia peixes. Também se propôs o uso de barcos movidos a energia solar para irem até e, eventualmente, explorarem o passeio por toda a Baía de Guanabara. A pedido da Marinha, que tem seu farol e responsabilidade pela área, as ilhas Tijuca e Redonda ficaram de fora do atual monumento. Pode ser que sejam incluídas daqui a alguns anos”, explicou Fernando Gabeira.


 


Saiba mais


Cagarras: origem do nome


Não há consenso sobre a origem do nome do arquipélago – Cagarras. A ideia mais aceita é devido ao grande número de excrementos de aves marinhas ricos em cálcio que “manchariam” as encostas rochosas de branco. Daí, o nome “Cagarras”. No entanto, há documentos náuticos datados de 1730, que falam sobre a origem do nome afrancesado de “ilha Cagade”.  Numa outra carta náutica, há uma denominação em português: “Ilha Cagado”. Outro fato curioso é que o nome do arquipélago é o mesmo de uma ave marinha que vive na Ilha da Madeira. Mas isto já deve ser história de pescador…