A jóia e a jibóia: a vida selvagem no quintal de casa
21 de dezembro de 2011Nessa época, verão de 2009, eu estava sem câmara fotográfica e não tinha como fazer um flagrante do pássaro. Prestei muita atenção e fiz um desenho. Pesquisando no livro do ornitólogo Johan Dalgas Frisch, comparei o meu desenho com o da publicação e desconfiei que pudesse ser a Juruva Canela, que não é comum… Ver artigo
Nessa época, verão de 2009, eu estava sem câmara fotográfica e não tinha como fazer um flagrante do pássaro. Prestei muita atenção e fiz um desenho. Pesquisando no livro do ornitólogo Johan Dalgas Frisch, comparei o meu desenho com o da publicação e desconfiei que pudesse ser a Juruva Canela, que não é comum no Cerrado, predominando na Mata Atlântica. A certeza chegou com a descrição feita pelo amigo Silvestre Gorgulho em um jantar entre amigos. Ela tinha no carro o livro e o relógio ilustrado com pássaros, de Dalgas, e foi lá buscar no porta-malas. Veja se não é a Juruva? Perguntou. – Era!
Desde então ela me visita. Não faltou um dia. Come as frutas que coloco num comedouro improvisado, junto com sabiás, periquitos, bem-te-vi, pica-pau, pomba do Cerrado, rolinhas e uma infinidade de outros pássaros lindos e coloridos que eu não sei a espécie. No ano passado ela surgiu ao lado de outra Juruva. Conclui que era um casal. E, logo depois, uma terceira Juruvinha, apareceu. Só poderia ser o filhote. Nunca consegui fotografar as três ao mesmo tempo. Este ano a surpresa foi maior. Quatro Juruvas! O casal trouxe dois filhotões para eu conhecer e pude assistir da janela da cozinha- meu ponto de observação, o desenvolvimento da prole. Chegaram sem saber voar direito, com a cauda bem menor que a dos pais e recebendo comida direto no bico. O show durou duas semanas. Na terceira semana observei a mãe (ou o pai) deixá-los sozinhos no comedouro e eles, bem desajeitados, pegaram as frutas com o próprio bico. Muito lindo. Agora as quatro estão do mesmo tamanho e já não sei quem são os adultos e quem são as crianças.
O susto! Outro dia, 6h30 da manhã, estou eu a dar comida para o passaredo quando a árvore dos cipós sacode violentamente e os pássaros voam e gritam. O que era? Uma jibóia enroscada no galho da árvore abocanhou um pássaro, acho que foi um sabiá, e o levou para o abraço da morte. Corri e peguei a câmara fotográfica. Fiz uma sequência de fotos sem pensar. Quando baixei o arquivo, lá estava a jibóia, o pezinho do pássaro fora do abraço fatal e depois ela engolindo a presa. É natureza, pensei. Comeu, vai jiboiar e vai embora. Não foi, passou o dia. Eu de plantão, só pensava nas Juruvas. E não é que a bandida conseguiu dar o bote em uma das juruvas. Foi salva a tempo. Um vizinho, verdadeiro herói, e um funcionário do condomínio onde moro conseguiram soltar a Juruva do abraço da jibóia e ela saiu voando e gritando. A jibóia foi levada para outra área. Fiquei dois dias sem saber se ela havia sobrevivido. Via só três Juruvas. Mas no terceiro dia vi as quatro ao mesmo tempo. Foi um alívio. Elas são as jóias do meu quintal, rainhas do meu bioma particular no Cerrado, em Brasília.
À esquerda, a jiboia enlaça uma ave. Só se vê a perninha da ave. À direita, um filhote de juruva é alimentado pela mãe. A jiboia fica na espreita…
As capivaras e o poder
Brasília é mesmo uma cidade fascinante. Moro numa área nobre da Capital, a dois quilômetros do Palácio da Alvorada e a três quilômetros do Palácio do Planalto, em um aparthotel, à beira do Lago Paranoá. Numa manhã de novembro, de minha janela, pude ver e filmar este bando de capivaras pastando tranquilamente, num pequeno parque que tem entre o prédio de meu aparthotel e o Palácio da Alvorada. Vários moradores e hóspedes, por vezes, ficam extasiados apreciando o movimento das capivaras. Desta vez, fui até minha biblioteca saber mais. As capivaras alimentam-se de capim e ervas próximo a rios e lagos. O animal adulto chega a pesar uns 80 quilos e é considerado o maior roedor herbívoro do mundo. É muito bom ver as capivaras com seus filhotes nadando e curtindo a vizinhança palaciana. Não é à toa que dia desses uma capivara foi encontrada entre os pelotis do prédio do Supremo Tribunal Federal.
Cláudio Gontijo, de Brasília
NR: As capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris) – considerado o maior roedor herbívoro do mundo – chegaram praticamente à Praça dos 3 Poderes. Daqui a pouco, elas vão chegar à Esplanada dos Ministérios onde encontrarão muitos outros roedores de plantão. Maiores ainda…