Editorial

21 de março de 2012

Caro leitor

Água, Terra, Ar e Fogo

Desde a Grécia antiga existe a idéia filosófica, esotérica e literária dos quatro elementos naturais como expressão do que seria essencial à vida no Planeta. Humana, vegetal e animal. Evidente que hoje, se considerarmos como tipos de matéria, o conceito pré-socrático está errado, pois o fogo não é matéria e sim o resultado de uma reação química. Mas em termos culturais vale a expressão, até mesmo porque já se traduz, hoje, os quatro elementos como sendo associados ao estado físico da matéria, ou seja, líquido (água), sólido (terra), gasoso (ar) e plasma ou energia (fogo). Neste sentido, vale a primorosa leitura do que será o novo livro de Sandra Lopes sobre os quatro elementos. Com um detalhe: escrito em haicai. (Página 6)

Esta edição especial do Dia Mundial da Água, além de abordar a questão dos recursos hídricos na segurança alimentar, tema proposto pela ONU para uma reflexão em 2012, traz outras reflexões aos leitores.

Primeiro, quanto ao tema Água e a Segurança Alimentar, a discussão apesar de simples traz grande profundidade conceitual. Todos os alimentos para serem produzidos ou confeccionados precisam de água. Uns mais outros menos. E aí está o desafio que a tecnologia e a educação podem abraçar: como usar menos água para plantar e colher mais. E como utilizar menos água na confecção dos alimentos. Sem esquecer uma questão crucial na sociedade moderna: o incrível desperdício de água e de alimentos.

O fato é que a cultura da abundância que as pessoas (sobretudo os brasileiros) têm em relação à água não condiz com a realidade. É certo que a água é o recurso natural mais abundante no Planeta. Mas também é verdade que a água é o recurso natural mais ameaçado pelas atividades humanas. Exemplos: o despejo de todo tipo de esgoto nos rios, lagos e mar; a contaminação dos mananciais e das águas subterrâneas por diversos tipos de resíduos químicos; a derrubada de matas ciliares e o uso intensivo da água para irrigação e de outras atividades econômicas. Todas estas ações juntas ou em separado acabam por comprometer a reserva de água doce, mesmo em países onde ela é abundante, como o Brasil.

Uma boa reflexão para o Dia Mundial da Água: ao longo da história, a ciência ajudou a descobrir muitas maneiras de substituir alguns recursos naturais de nosso planeta, como é o caso da madeira e do petróleo. Mas, por mais criativo que seja o ser humano, ele jamais encontrará um outro recurso natural que possa substituir a água. Terminar uma carta com poesia é muito melhor. Portanto, de Sandra Lopes, um haicai sobre a Água Doce: 

Delicadamente 

a garoa tece 

cortina transparente.

 

 

Silvestre Gorgulho