Os computadores que brotam das barraginhas
21 de março de 2012Como plantar Lucianos, Fabianas e donas Cidas por esse Brasil que não acaba mais…
Tudo começou com barraginhas para plantar uma
horta e agora a colheita é de computador.
Segundo, vale a pena conhecer Luciano Cordoval Barros. Ele é um engenheiro agrônomo da Embrapa que inventou uma revolução verde no Brasil justamente criando o projeto Barraginhas. E, terceiro, vale a pena conhecer a história de dona Cida [Maria Aparecida Rodrigues] e de sua filha Fabiana [Fabiana Rodrigues Soares], de apenas 16 anos.
O Luciano Cordoval tem uma explicação técnica para o sucesso das barraginhas. Depois de cheia, essa infiltração da água no solo é necessária para esvaziar as barraginhas, porque daí uns dias virão outras chuvas e assim elas captarão todas as chuvas de um ciclo chuvoso. A água infiltrada é reservada no lençol freático e tem qualidade para alguns usos múltiplos importantes, com destaque para beber, cozinhar, banhar e produzir alimentos, pilares de qualidade de vida. Isso, onde falta água, é uma bênção dos céus.
O fato é que depois de 19 anos, todas regiões beneficiadas pelo projeto de implantação das barraginhas criaram um clima motivacional entre as famílias. Isso porque elas passaram de um patamar de escassez para uma zona próxima da de conforto, como o caso das que passaram da classe D para a C. É pulo de qualidade, um algo mais na vida…
Luciano Cordoval, com sua filosofia agronômica e metafísica, costuma perguntar: o que passa na cabeça dessa gente? O que fazer com essa água que não existia? Irrigar hortas, pomares, criar peixes? Mais do que isto: uma tremenda auto-estima para outras coisas boas. Um viver melhor!
O importante são as consequências que este projeto traz.
Luciano Cordoval explica:
– Olha, depois dessas ações e resultados positivos, o Projeto Barraginhas começou a distribuir computadores. Era preciso conectar os supervisores e criar uma rede de informações. Assim, 16 computadores foram distribuídos. Um para cada comunidade. Tivemos que justificar perante os coordenadores do programa "Desenvolvimento e Cidadania" da Petrobras, que é a patrocinadora, dizendo que seria para que os supervisores se comunicassem com as equipes do projeto. A coordenação era mais fácil. Mas também pensávamos que os jovens dessas 16 comunidades utilizassem os computadores para fazer seus trabalhos escolares com qualidade e passassem a se familiarizar com a modernidade internáutica.
– Um dia vi uma reportagem que dizia: simplesmente distribuir computadores não é "inclusão digital". É verdade, diz Luciano. Por isso vou relatar dois casos fantásticos, entre as 16 experiências. Um em Berilo e o outro em Minas Novas, ambos no semiárido Vale do Jequitinhonha.
– Em Berilo, na comunidade rural de Caititu do Meio, o líder Marinho conseguiu uma professora voluntária para ir aos sábados ministrar aulas aos jovens. Já em Minas Novas, na comunidade de Curralinho, Dona Cida enviou sua filha Fabiana, de 16 anos, para fazer o curso de computação na cidade. Seis meses depois, Fabiana retorna para sua casa diplomada. Dominando o mundo da computação. Fabiana ficou inquieta. Queria porque queria passar seus conhecimentos para seus amigos e vizinhos. Conversou com sua mãe e pediu apoio. Conseguiu! Fabiana foi uma multiplicadora de conhecimento. Em seis meses ela diplomou três jovens. Mais seis meses, outros oito adolescentes. No terceiro semestre, mais 10 jovens foram formados.
Como criar uma rede de conhecimento
Depois da formatura da primeira turma, Fabiana pensou: recebi meu diploma que eu guardo com carinho. Esses meninos que vão se formando, também gostarão de ter um diploma. O que Fabiana fez? No seu computador, montou um diploma com a logomarca da Embrapa e outra da Petrobras, patrocinadoras do projeto. Pronto! Cada um que ia se formando, ganhava um certificado. O grupo da Fabiana virou uma escola. E assim, lá no interior de Minas, por causa de uma menina empreendedora de 16 anos, agora 17, a comunidade de Curralinho ganhou um pequeno Centro de Ensino da Computação.
FORMATURA de emoções
Aí veio a formatura da primeira turma. Cerimônia simples, com certificado, doces, discursos, fotos, muita alegria e lágrimas de emoção.
O dia que Luciano Cordoval descobriu esta história, quase enlouqueceu. Fez questão de ir lá conferir. O que Luciano fez? Chamou os estudantes, pais, colegas, líderes da comunidade e entrevistou Fabiana na frente de todo mundo, na sala de aula.
Primeira pergunta do Luciano:
– Fabiana, porque você criou o certificado?
– Olha, seu Luciano, criei para que quem fizer o curso possa provar que estudou e pode conseguir um emprego mais qualificado.
– Fabiana, me diz uma coisa. Você está realizada? O que sua comunidade ganhou com suas ações? E o que o Brasil pode ganhar com ações semelhantes às suas?
Meio tímida, Fabiana respondeu:
– Olha, se foi melhor para nós aqui, vai ser melhor também para todo mundo que fizer a mesma coisa, em qualquer lugar. Rico ou pobre.
Luciano aproveitou a deixa para jogar mais emoção e auto-estima no pessoal reunido na escola:
– Fabiana, estou emocionado. Você fez a diferença e multiplicou o conhecimento aqui na sua comunidade. Você dá um exemplo de gente grande. Por isso, nós vamos conseguir mais um computador para você. Para sua escola.
E Luciano Cordoval não podia imaginar que das Barraginhas ia nascer mais do que água. Nasceu conhecimento, computador, internet e uma menina chamada Fabiana que faz a diferença, apesar de ter hoje apenas 17 anos.
Luciano Cordoval e Fabiana provam que conhecimento é como água: i
nunda as pessoas que estão comprometidas com a solidariedade e com o
esforço de buscar cada vez mais o saber.
Fabiana e seus meninos que mostram orgulhosos os diplomas sob o
olhar do presidente da comunidade, Pedro Paulo Rodrigues.
Esta é uma história para se contar. Para se guardar. E para que a Embrapa, a Petrobras e tantas outras empresas e entidades possam entender que a diferença se faz com tão pouco. É só multiplicar os Lucianos, as Fabianas e as donas Cidas…
Aliás, dona Cida tem razão. Ela costuma dizer que o projeto Barraginhas é igual uma batateira: vai espalhando ramas novas e dando batata prá todo lado. Pensando bem, sinceramente, dona Cida acabou de dar a melhor definição para uma "rede de conhecimento".
Quem sabe a nossa querida Graciosa da Presidenta Dilma Rousseff [Maria das Graças Foster, presidente da Petrobras], Dom Pedro Arraes, presidente da Embrapa, e outras autoridades e empresários leiam esta história e ajudem a plantar mais Lucianos, Fabianas e donas Cidas por este Brasil que não acaba mais….