HAICAIS DA SUSTENTABILIDADE
21 de março de 2012Água, Ar, Terra e Fogo em poesia
SANDRA LOPES
HAICAIS DE SANDRA LOPES
A obra literária de Sandra Lopes toma cada vez mais volume. Cresce a cada ano. Catorze são os poemas que compõem o "Catavento", onde emoções da infância e adolescência são tratados com sensibilidade e ludicidade. Basta girar o "Catavento" para o leitor ser guiado por alegres e divertidos poemas onde viver o "faz-de-conta" é o real.
Apaixonar pela Cidade Maravilhosa? É fácil! Basta ler o "Convite Carioca". Em pouco tempo, os poemas de Sandra Lopes abduzem o leitor. Não há quem não declare amor pelo Rio de Janeiro, como aconteceu, aliás, com o norte-americano Alexis Levitin, que fez a versão das poesias de Sandra para o inglês, e com o ilustrador André Côrtes. Ambos conheceram um Rio que é amor, dor, cor e sabor. Entenderam que cariocas não são apenas os que ali nascem. São também aqueles que ali chegam para incorporar uma maneira de bem viver.
Outras publicações: "Tuca Cutuca, a Gaivota" e "Azul por Natureza". E tem novo lançamento: "De Olho no Olho", com belíssimas ilustrações de Sami e Bill, uma dupla paulista que é a "menina dos olhos do livro".
Geleira derrete
lágrimas quentes escorrem.
O planeta chora.
Este foi o primeiro haicai da professora, escritora e poetisa carioca Sandra Lopes. A inspiração nasceu depois de uma viagem à Patagônia e, na volta, após uma oficina sobre esta forma poética japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade. Do primeiro haicai, há três anos, nasceu uma cascata de emoções haicaianas que terminou num livro. Sua lavra de haicais aborda os quatro grandes elementos da natureza. O livro será lançado brevemente, comprovando (segundo ela) que "Poesia é Fogo, é Água, é Terra, é Ar!"
Mas o que é um Haicai? É a própria Sandra Lopes que explica. É uma forma de poesia de origem japonesa que trabalha com a concisão de palavras, a simplicidade e a instantaneidade. O haicai clássico é composto de três versos metrificados ( 5-7-5 ). De raiz popular, muitas vezes se vale da ironia e do humor. A principal intenção do haicai é transmitir, num mínimo de palavras, o máximo de emoções. Esta forma de poesia me encantou por três razões: a forma contida, a naturalidade e a magia de transformar três versos em um clique fotográfico. Os haicais deste livro têm como tema os 4 elementos. São compostos de três versos, sem a métrica clássica, mas que conservam o seu traço mais importante: o uso de poucas palavras.
Chuviscam chuviscos.
A lagoa se arrepia
com tantos beliscos.
Chuva de granizo
bate na vidraça
sem aviso.
Cachoeira freia.
Beija a pedra
depois passeia.
Riacho corre
põe no seu colo
folhas que colhe.
ÁGUA | Fogo |
Obedientes ao vento marolas em fila seguem em frente.
De verso em verso, haicai submerso.
Nas marés com meias de renda a espuma calça meus pés.
O rio pede passagem. O tronco nega, mas ele segue viagem.
Com uma pedra brincam um lago e um menino levado.
Cheia no rio. Casa aguada. Lar vazio. |
O poeta, a palavra pega. Preparar, apontar, fogo! Nos versos descarrega.
Velas e rezas procissão leva pelas ruas cegas.
Cai, cai balão! Licença pra cair só na canção.
Queimada afirma: Mata finda. O verde vira cinza.
Gemidos. Árvores doloridas pelo fogo retorcidas.
Animais em fuga. É a queimada! Floresta acusa. |
Terra | AR |
Semeio emoção. Minha terra é o poema. Sou poeta em ação.
Ave Terra cheia de graça O homem te ameaça.
Cheiro de terra molhada sobe no último andar vem me enraizar.
Terra nossa de cada dia nos dai hoje: alimento e moradia.
|
Haicai respira. Vive. Me inspira!
Vento magrinho entra pela fresta soprando mansinho.
Pelo livro, vento passeia, páginas folheia.
Moinho de vento mói a palavra meu alimento.
Vento parado. Barco à vela chateado.
Ventilador: Vento virtual Vento sem sabor. |