Ecoturismo da Fé

A fé move a Mantiqueira

22 de maio de 2012

A serra da Mantiqueira de mil nascentes, coberta pela Mata Atlântica, inspira orações e é um convite à meditação.

O percurso é feito a pé ou a cavalo e, embora as trilhas não sejam tão famosas como a que leva a São Tiago de Compostela, na Espanha, são conhecidas como a palma da mão dos romeiros. Cruzando caminhos que beiram riachos, passam por cachoeiras, concentram enorme variedade de pássaros e vislumbram um mar de montanhas, os romeiros se sentem bem perto de Deus.  Mas, por falar em São Tiago de Compostela, foi inspirado nesse caminho que nasceu, há 14 anos, a Peregrinação à Nhá Chica. No final dos anos 90, dois empresários, Sidney Cabizuca e João Vítor Gorgulho, acostumados a trilhar os arredores de São Lourenço, tiveram a ideia de definir o percurso em estradas de terra que liga São Lourenço a Baependi, passando por Soledade e Caxambu, como Caminho Santo de Nhá Chica.

O Caminho de Nhá Chica
Nhá Chica viveu na região no final do século 19, fazendo caridade e cuidando de enfermos. Os milagres atribuídos a ela fizeram aparecer um número grande de devotos no Sul de Minas e entre os muitos turistas que frequentam o Circuito das Águas. A casa onde viveu os últimos anos, ao lado do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, que a serva ajudou a construir e onde estão seus restos mortais, é visitada por grande parte das pessoas que passam pela região. Esse caminho tem 33 Km e passa por povoados e  fazendas, onde a natureza inspira a prática do turismo rural. Plantações de café, criação de gado e cavalos, muitos pássaros, belas paisagens. E, nas primeiras horas da manhã, ao alvorecer, geralmente uma névoa compõe o cenário para as cerca de 1500 pessoas que, sempre no dia 1º de maio, partem às 5h de São Lourenço com destino ao Santuário, em Baependi. São cerca de 6 horas de caminhada. 
 

 Peregrinação a Aparecida do Norte

O Caminho de Nhá Chica é pequeno para quem está acostumado a sair da mesma cidade, São Lourenço, com destino à Aparecida, no Vale do Paraíba paulista. De carro, pelas rodovias (BRs,MGs e SPs), o trajeto de cerca de 150 Km demora 2h. A pé, no entanto, são três dias. José Antônio Domingues Guerra, o Tonhão da Palmela, começou a fazer a caminhada em 1982, contabilizando, em abril passado, 51 vezes, já que faz isso pelo menos três vezes por ano. Aos poucos foi reunindo um grupo de orações que, no ano passado, juntou 42 pessoas. 
A caminhada passa por estradas vicinais e rodovias que cortam 10 cidades mineiras e paulistas. Junto aos romeiros vai um caminhão de apoio, para levar as mochilas, um fogão e alimentos. Eles dormem em pousadas, mas preferem andar à noite, fugindo do sol e do calor. Vão rezando o terço, cantando músicas religiosas, aproveitando a luz da lua e vendo o sol nascer entre as montanhas. 
Um caminho bem mais longo, mas que também leva os romeiros à Basílica de Aparecida é feito pelos Cavaleiros de Maria. Há 28 anos o grupo de cavalgada que reúne de 50 a 80 cavaleiros faz o percurso em três dias. Ao contrário do grupo de oração do Tonhão eles preferem o dia para cavalgar. Vão acompanhados de um caminhão de apoio e veterinário. Passam as noites em pousadas, mas não dispensam as rodas de fogueira, viola e churrasco. Seguem por um outro caminho, passando por D. Viçoso, Virginia e Marmelópolis. Mas quando chegam perto de Piquete (SP), segundo o organizador da cavalgada, Nelson Roque, começam a encontrar cavaleiros vindos de sítios ainda mais distantes. Quando chegam à basílica são mais de 1500 cavaleiros, que pernoitam na cidade para assistir a missa no dia seguinte. 
Mas não é só de São Lourenço que partem peregrinos. Em toda a região sul mineira é comum, principalmente no mês de maio, mês de Nossa Senhora, cavalgadas e romarias pelas estradas  e trilhas que cruzam as montanhas. A paisagem da Mantiqueira, serra de muitas nascentes, coberta pela Mata Atlântica, inspira orações e é um convite à meditação. Contemplar a paisagem e desfrutar do ambiente natural é um privilégio. E os romeiros agradecem por isso.