JARDINS CARIOCAS

19 de julho de 2012

O paisagismo inspirado nas florestas brasileiras e na natureza do Rio de Janeiro

Burle Marx
 
Já a história de Burle Marx, por ser bem mais recente, todos conhecem. Considerado o maior paisagista do século passado, Burle Marx deixou sua marca no Rio de Janeiro e Brasília. No Rio, deixou inventariado 88 jardins, sendo 22 em imóveis particulares, como o da casa de Roberto Marinho no Cosme Velho.
Jardins famosos de Burle Marx: o entorno da sede do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDS) e do Convento de Santo Antonio, no Largo da Carioca, que formam um amplo conjunto. Outros que levam a assinatura de Burle Marx: jardins suspensos do Outeiro da Glória, a orla do Leme, o calçadão de Copacabana, praça do Lido. Mas o de maior repercussão e encantamento é o Aterro do Flamengo.
 
 
 
Os jardins cariocas são tema de uma exposição organizada pela subdiretoria de cultura da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Cinco fotógrafos – Gabriel Telles, Mauro Pimentel,  Nathalia Félix, Rafael Wallace e  Symone Munay  – percorreram espaços tradicionais do Rio de Janeiro, da Zona Norte a Zona Sul, clicando imagens que, no dia a dia corrido, muitas vezes passam despercebidas. 

 
 Campo de Santan
fotografada por Symone Munay
 
Os infinitos ângulos do paisagismo moderno e arrojado do Aterro do Flamengo e a intensidade da vegetação nativa e exótica do Jardim Botânico do Rio dividem espaço com  recantos clássicos que remetem a cidade moderna ao passado. 
Os fotógrafos fizeram uma releitura e resgataram os jardins da Quinta da Boa Vista, da Praça Paris, do Campo de Santana, do Passeio Público. Em um tempo em que a praia era apenas mais uma paisagem carioca, os moradores da cidade,  que foi corte e Capital, divertiam-se entre esses gramados, lagos, grutas e esculturas. 
A exposição lembra, principalmente aos cariocas, que a cidade é maravilhosa, porque , no seu processo de urbanização, houve sempre uma preocupação com  o paisagismo, como forma  de integrar a natureza que encobre e recorta o relevo. Mas, tal preocupação nem sempre se restringe a  projetos de governo. 
A exemplo do que acontece nas grandes metrópoles, o carioca, cada vez mais, está aprendendo a proteger seu habitat urbano, intensificando a proximidade com a natureza.  Nos bairros de Ipanema e Leblon, da  zona Sul do Rio, os comerciantes e moradores espalharam orquídeas pelas árvores que ficam em frente de seus estabelecimentos ou prédios. A iniciativa transformou as calçadas num centro de exposição permanente.
 

 
Praça de Paris fotografada por Nathalia Felix (Esquerda)
 Quinta da Boa Vista fotografado por Gabriel Telles (Direita)
 
Na História dos Jardins do Rio
Voltando na História, dois paisagistas sobressaem na vida paisagística do Rio de Janeiro: Auguste François Marie-Glaziou e Roberto Burle Marx. Também chamado como paisagista do Imperador, Glaziou era francês. 
Em 1858, depois de participar da reforma do Jardim Botânico da cidade de Bordeaux, Glaziou chegou ao Rio de Janeiro. Logo foi nomeado como Diretor dos Parques e Jardins da Casa Imperial e Inspetor dos Jardins Municipais. Seus postos, e sua ligação com o imperador, lhe permitiram estar ligado à maior parte de projetos paisagísticos acontecidos na Corte durante o Segundo Império, como as reformas do Passeio Público, da Quinta da Boa Vista e do Campo de Santana. Glaziou deixou sua marca em outras cidades brasileiras, como os jardins da residência das princesas imperiais, da família do Barão de Nova Friburgo, do Barão de Mauá, no Rio de Janeiro, e de Tavares Guerra, em Petrópolis. 
 

 
 Palmeiras – Localizado no Aterro
fotografadas por Rafael Wallace
 
Glaziou em Brasília
Até a nova capital brasileira tem a marca de Auguste Glaziou. Em 1894, dois anos depois da Missão Luiz Cruls, Glaziou escreveu para o astrônomo belga respondendo algumas perguntas sobre a natureza e paisagens do Planalto Central, onde seria localizado Brasília. 
O paisagista e botânico fez a primeira referência ao Lago Paranoá. Depois de descrever detalhadamente a região, Glaziou salienta: “É fácil compreender que, fechando essa brecha com uma obra de arte (dique ou tapagem provida de chapeletas e cujo comprimento não excede de 500 a 600 metros, nem a elevação de 20 a 25 metros) forçosamente a água tomará ao seu lugar primitivo e formará um lago navegável em todos os sentidos, num comprimento de 20 a 25 quilômetros sobre uma largura de 16 a 18.” 
Está aí o Lago Paranoá no coração de Brsília. Um sonho de Glaziou.