ECOS DA RIO + 20
Moema Viezzer faz balanço da RIO+20
19 de julho de 2012O grande evento ambiental está no dia a dia e ao redor de cada ser humano.qualquer discussão de políticas públicas.
" Quando um ser humano se ransforma… ele Transforma o mundo ao seu redor”.
Lema da Universidade Brtahma Kumaris
Tornar esse sonho realidade é a meta dessa incansável professora Moema Viezzer, indicada ao prêmio Nobel da Paz em 2005. Ela é autora do livro “Se Me Deixam Falar”, traduzido em vários idiomas. Moema Viezzer nasceu há 74 anos, em Caxias do Sul-RS. Junto com sua equipe não mede esforços em participar de eventos que fomentem a real educação ambiental, creditando sempre o mérito às suas companheiras de rede.
Participação na RIO+20
No Teatro Maria Clara Machado, dentro do Planetário da Gávea, no Rio de Janeiro, com representantes do governo, empresas e terceiro setor, Moema Viezzer coordenou a reunião com o Comitê Internacional da II Jornada de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis com Responsabilidade Global. Enquanto esperávamos por sua entrevista, ela nos convidou a participar da Rede, na qual acompanhamos depoimentos das educadoras sobre a urgência na conscientização da população em relação aos problemas ambientais decorrentes do atual modelo de produção e consumo.
No dia seguinte, na Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, no Espaço Sebastião Lan, o lançamento da Rede Planetário do Tratado de Educação Ambiental atraiu muita gente. O cenário era emocionante: a Baía de Guanabara, o Madrigal de abertura por um grupo de mulheres da Ilha do Governador, a colcha de 50 metros quadrados com bordados simbolizando os 29 municípios da Bacia do Paraná, e uma Ciranda para encerrar. Uma das educadoras que participou da confecção da colcha explicou que em cada um dos 29 pedaços bordados estão estampados os anseios e os ideais de cada município. A junção deles significa a integração, não só da região, mas de países, porque a maioria fica em fronteiras.
No segundo lançamento, a Rede Planetária do Tratado de Educação Ambiental foi no Parque dos Atletas, próximo ao Riocentro com a presença de representantes da ONU, países de língua portuguesa e sul-americanos, além de autoridades brasileiras. No intervalo, perguntamos a Moema Viezzer se não estava na hora de promover uma atualização do Tratado, que é de 1992 e foi coordenado por ela. Respondeu: “Ele é muito atual e o importante é implementá-lo de fato” – depois de um breve silêncio – “Isso… É tudo que gostaria de ver antes de morrer”. Leia sua entrevista seguir:
MOEMA VIEZZER – Entrevista
“Não dá para esverdear a besta”
As grandes corporações – até para sobreviverem – estão pretendendo “esverdear” a economia.
Zilda Ferreira
Os meios de comunicação podem e devem tornar-se canais de
intercomunicação para que a vida floresça neste planeta.
FMA – RIO+20: quais foram os pontos positivos da RIO+20 e quais foram os negativos?
Moema Viezzer – Com certeza um dos pontos positivos foi a própria realização da Conferência. Para não deixar cair no esquecimento tudo o que já foi prometido, correto? Também me pareceu muito importante o crescimento da consciência ambiental visível nas posições colocadas pela sociedade civil.
Quanto aos pontos negativos, houve vários no processo de preparação, especialmente naqueles que se apresentavam como “novas tentativas de aproximação entre governos sociedade civil”, não entendido como tal tanto de um lado como de outro. E como sempre, o “peso imenso” da máquina, da estrutura que a ONU carrega e a forma de trabalhar que é lenta, muito lenta, por necessitar o consenso de governantes de 194 países, com posições tão diferenciadas.
Acho que também foi negativo não termos alguns compromissos dos governos mais propositivos em relação a tantos objetivos já traçados anteriormente.
FMA – Por que o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, aprovado na ECO-92, sob sua coordenação, considerado um documento de vanguarda não é tão conhecido?
MV – O Tratado de Educação Ambiental não teve a divulgação necessária por falta de condições do grupo que o promoveu na RIO+20. Diferente da Carta da Terra que contou, desde o início, com forte apoio até de Maurice Strong, que presidiu a RIO’ 92. No Brasil ele foi, sim, amplamente divulgado nas redes de educadoras e educadores socioambientais e inclusive tornou-se a base e a inspiração de nossa atual política nacional de educação ambiental.
Em alguns outros países ele esteve em pauta na revisão de redes de alfabetização e de educação de adultos, como na Ásia e Pacífico do Sul. Na América Central, o Tratado tem sido bastante divulgado, particularmente em El Salvador. E houve também uma aproximação com a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) que agora está sendo retomada. Mas uma divulgação em âmbito planetário requer muita sinergia e também recursos básicos para se chegar a todos os lugares e todos os idiomas possíveis, o quê agora nós estamos propondo principalmente por podermos utilizar as redes sociais.
FMA – Na RIO+20 houve maior participação popular, maior engajamento da sociedade civil, dos movimentos sociais, muitas cobranças das ONGs e dos empresários. Mas, nenhum tratado determinante foi apresentado no final do evento. Por quê?
MV – De fato, a RIO+20 não foi concebida como uma conferência deliberativa, o que não levou a esta conclusão que você chama de tratado determinante. Mas houve outra forma de influir nas políticas públicas de todos os países, com o slogan da Economia Verde, que permeou as decisões tomadas em diversos âmbitos, independentemente de novos textos. E é sobre isto que as organizações da sociedade civil se debruçaram: “nós não queremos uma economia verde que ignore as cores da sociobiodiversidade existente no planeta”. Queremos pensar em economias verdes, a partir das realidades locais com seus respectivos atores sociais, com mercados verdes locais, regionais, nacionais, internacionais que levem em consideração o que está no coração da crise de valores que vivemos: a do capital hegemônico que no atual estado da globalização é, efetivamente, como costuma dizer Frei Betto, um processo de globocolonização. É isto que não queremos.
Olha o que aconteceu com o golpe sofrido no Paraguai logo agora pós a RIO+20 e veja a conexão direta com a multinacional Monsanto. É isto que tem que ser revisto se queremos que a vida floresça neste planeta para o benefício de toda a comunidade de vida e não de uns poucos que se enriquecem desmesuradamente enquanto a maioria da população, por conta deste modelo insano, se empobrece e sofre cada vez mais juntamente com os demais seres da comunidade de vida afetado pelos produtos químicos utilizados.
FMA – A senhora coordenou o lançamento da Rede Global de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, ou seja, uma proposta de ação para que as pessoas conheçam e implementem esse Tratado. Há como evitar que este esforço não se perca?
MV – Estamos agora virando a página da Jornada para Rede Planetária. Nosso maior desejo é que a proposta implícita no título do Tratado Educação para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global chegue a tornar-se parte nova cultura e da nova educação que precisamos para o mundo que queremos com justiça social e ambiental. E para tanto, é evidente que a motivação de educadores e educadoras, assim como de comunicadores podem fazer a diferença. Na educação formal, não formal, informal, presencial e à distancia… somos todos aprendizes e educadores. E os meios de comunicação podem e devem tornar-se canais de intercomunicação para que a vida floresça neste planeta.