No rio Samburá está a nascente geográfica, enquanto na Serra da Canastra (Cachoeira Casca d’Anta) está a nascente histórica.
"Historicamente, a nascente do São Francisco está na Serra da Canastra, no município de São Roque de Minas. Mas aí começa a controvérsia. Em abril de 2004, num furo nacional, a Folha do Meio Ambiente publicou uma reportagem sobre a verdadeira nascente do rio São Francisco, no município de Medeiros-MG."
Fotos: Wilson dias
O rio São Francisco não nasce na Serra da Canastra. Entre os muitos estudos, histórias e causos que frequentam o legendário rio São Francisco, um merece atenção muito especial: a verdadeira nascente do Velho Chico não está no Parque Nacional da Serra da Canastra, onde fica a belíssima cachoeira Casca d´Anta, que maravilhou bandeirantes e portugueses e continua a ser destaque na exuberante paisagem da região. Aliás, foi justamente essa exuberância que extasiou os primeiros desbravadores e naturalistas, como Saint-Hilaire, que preferiram dar ao São Francisco um berço mais alto, de onde desaba a cachoeira Casca d’Danta, uma cornucópia de riquezas. As novas verdades sobre a correta nascente do São Francisco já foram objetos de discussão em pelo menos três congressos de sensoriamento remoto e, agora, estão comprovadas por uma equipe de técnicos que usaram imagens de satélite e medição por GPS geodésico
"Estudo realizado por técnicos da Codevasf atesta que o rio Samburá foi reconhecido como parte da bacia hidrográfica do São Francisco, configurando-se como um rio principal e não um afluente, como descreviam informações até então. "
RIO SAMBURÁ
Vista da nascente do rio Samburá, no Planalto do Araxá, município de medeiros-MG.
A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados fez uma audiência pública destinada a debater o texto do Projeto de Lei nº 6.905/2010 que cria o monumento natural do rio Samburá, que passa a compor o mosaico de Unidades de Conservação da Serra da Canastra.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) participaram da reunião e prometeram dar apoio técnico aos parlamentares da Câmara dos Deputados para a formulação de propostas de criação de desta e de novas Unidades de Conservação. “Faremos todas as análises necessárias e forneceremos os dados solicitados”, garantiu o secretário de Biodiversidade e Florestas do MMA, Roberto Brandão Cavalcanti.
De acordo com Roberto Cavalcanti, a proteção da bacia do rio São Francisco é de extrema relevância para a fauna de peixes, que é única e diferenciada, muito importante para o ecossistema da área. O debate faz parte das conclusões apresentadas
pelo Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), criado para acompanhar a situação do Parque Nacional da Serra da Canastra.
Samburá, rio principal e não afluente
O presidente do ICMBio, Roberto Vizentin, também colocou a capacidade técnica da entidade à disposição da Comissão de Meio Ambiente. “Queremos oferecer apoio para adensar as informações sobre as áreas passíveis de se tornarem unidades de conservação”, assegurou.
Estudo realizado por técnicos da Codevasf atesta que o rio Samburá foi reconhecido como parte da bacia hidrográfica do São Francisco, configurando-se como um rio principal e não um afluente, como descreviam informações históricas.
Para o deputado Antônio Roberto (PV-MG), relator do projeto, a criação do monumento protegerá a nascente geográfica do São Francisco.
O agrônomo Geraldo Gentil deixa claro que além da criação da Unidade de Conservação (Parque do Samburá) ainda falta outra ação burocrática importante, depois do reconhecimento e das comprovações feitas há oito anos.
Já se vai uma década e até hoje o IBGE não reconheceu e não homologou o estudo para torná-lo oficial. “Assim, explica Geraldo, o tema não entra nas vertentes e veredas dos documentários e da história, como nos livros escolares, nos jornais e nas aulas de História e Geografia”.
A César o que é de César
A César o que é de César, a Deus o que é de Deus e ao São Francisco o que é do São Francisco. Sobretudo, a correta certidão de nascimento. Como se vai revitalizar um rio se mal se sabe seu tamanho? Nem onde nasce? Essa é a questão colocada na reportagem que anunciou o resultado do relatório final de uma equipe técnica da Codevasf (1) , coordenada pelo engenheiro agrônomo Geraldo Gentil Vieira.
(1) Equipe de trabalho da Codevasf: Geraldo Gentil Vieira (eng. agrônomo), Leonaldo Silva de Carvalho (agrimensor), Miguel Farinasso (eng. agrônomo), Paulo Afonso Silva (eng. civil) e Rosemery José Carlos (geógrafa).
Geraldo Gentil Vieira
Geraldo Gentil Vieira é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Lavras -UFLA (1975), especializado em Irrigação e Solos pelo Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas-IICA/FAO/Codevasf e Solos/Desertificação pelo The Egyptian International Centre for Agriculture-EICA, Cairo, Egito. Trabalha atualmente na Codevasf na área de Geoprocessamento. Apaixonado pelas questões ambientais, GG nasceu em Iguatama-MG, às margens do rio São Francisco. Estudioso do rio, Geraldo Gentil hoje produz uma série sobre AS LENDAS DO VELHO CHICO, publicadas aqui na Folha do Meio.(Veja na página 21). GG se dedica à pesquisa sobre recursos naturais e expedições, por isso foi o idealizador e coordenador técnico da Expedição Américo Vespúcio.
O furo histórico
Na edição 146, de abril de 2004, a Folha do Meio Ambiente divulgou o estudo que deu uma guinada geográfica de 180 graus no local de nascimento do mais importante, polêmico, usado e espoliado rio brasileiro: o rio São Francisco, chamado de rio da integração nacional.
Depois de percorrer toda a extensão do São Francisco na Expedição Américo Vespúcio e de concluir o relatório da Codevasf, Geraldo Vieira pôde anunciar: a beleza e a exuberância da cachoeira Casca d’Anta roubaram a verdadeira nascente do São Francisco, encurtando-lhe vários quilômetros.
Pelos cálculos e estudos da equipe técnica, os dados geográficos do Velho Chico mudaram. Vieira, vários espeleólogos (estudiosos da espeleologia, a ciência que estuda e pesquisa as cavidades naturais da terra como cavernas, grutas e fontes) canoístas e pescadores já sabiam disso: a verdadeira nascente não é onde todo mundo estuda, na Serra da Canastra, descendo em cachoeiras para formar a belíssima Casca d’Anta, no município de São Roque de Minas. E sim no planalto do Araxá, no município de Medeiros.
É esta história fantástica, guardada num segredo de sete chaves, que a Folha do Meio Ambiente contou, em primeira mão.