E AS CHUVAS SÓ COMEÇARAM...
Menos inundações
20 de dezembro de 2012A captação das águas da chuva ainda não bateu à porta da inteligência urbana
"Recebi em 5 de novembro de 2012, do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), a Certidão de Aprovação de Legalização de Reserva Legal de 14,144 hectares e Área de Proteção Ambiental de 41,212 hectares do Sítio das Neves cuja extensão total é de 70,695 hectares, no Distrito Federal."
Eugênio Giovenardi
Alagamento na tesourinha que liga a 102/103 a 202/203 Norte, em Brasília
A captação das águas da chuva é uma das medidas que ainda não bateram à porta da inteligência urbana. A captação começou a ser eliminada do conjunto de ações e projetos urbanísticos com a erradicação da vegetação.
Asfalto, calçadas e cimento em lugar de árvores formam rios e canais para o curso das águas. A declividade, a velocidade e a lei da gravidade não foram calculadas para localização das bocas-de-lobo coletoras. Nem sequer os administradores consultaram as previsões meteorológicas para conhecer o volume máximo de precipitação por m2 com o fim determinar a bitola dos bueiros.
Os prédios de Brasília (e de outras cidades), com raríssimas exceções, não coletam parte da água pluvial para uso alternativo à água potável. Galerias subterrâneas para armazenamento de água com o fim de usá-la no período seco não despertaram o interesse de urbanistas, engenheiros, arquitetos e administradores da cidade.
Sítio das Neves: o refúgio da vida
A esperança de um planeta mais feliz
Há 39 anos, o Sítio das Neves vem sendo protegido para refúgio e reprodução de milhares de espécies vivas. A ilha verde, cercada de desertos por todos os lados, faz jus à beleza do cerrado do Planalto Central. Nela cantam os sabiás, os canários, as saracuras, os jacus, os bem-te-vis entre mais de uma centena de outras espécies. Nela vivem a raposa, o mão-pelada, o guaxinim, o tamanduá, a paca, o tiú, o sagui, o macaco-prego, o ouriço. Nela deslizam a jararaca, a jararacuçu, a cascavel, as corais, a cobra-verde, a jiboia, a caninana, a muçurana, dezenas de aranhas de diversos tamanhos e cores e milhares de insetos. Nela jorram águas límpidas. Vivem milhares de plantas e arbustos que se cobrem de flores e frutos e alimentam todas as vidas que ali nascem
Ao inconsciente humano da sobrevivência, ao subconsciente da dominação da natureza e ao consciente da acumulação de riquezas finitas sobrepõe-se o ímpeto implícito e explicito de terra devastada. Substituir o natural pelo artificial. Acomodar a natureza à estética da prancheta, às navalhas de máquinas monstruosas, ao fogo devorador, à eliminação insensata de milhões de vidas que compõem a biodiversidade.
O Sítio das Neves continuará sendo, por dezenas de anos, uma ilha verde onde todas as espécies de vida terão o direito de viver segundo a lei sábia da natureza em seu artigo primeiro, parágrafo único: interdependência dos seres vivos. Será uma área para a vida, imune à venda, ao comércio de terras e ao impulso imobiliário. A vida de todos os seres vivos, hóspedes do Sítio das Neves, depende da água cujas nascentes são protegidas desde o olho até a desembocadura. O maior obstáculo para a preservação dessa ilha verde é a espécie dita inteligente. Queimadas, caça a pequenos animais, lixo à beira das rodovias representam a ignorância, a displicência, o descaso, a negligência de grande parte da população pobre ou rica, letrada ou iletrada. Sítio das Neves, ilha verde, esperança de um planeta alegre e feliz.