RETROSPECTIVA

Balanço Ambiental 2012

20 de dezembro de 2012

Rico em discussões e pobre em resultados

No ano da RIO+20 , faltou um recado Ambiental mais forte das lideranças mundiais.

Janeiro 

BARRAGINHAS: A salvação da lavoura

Ano de 2012 abre com meio milhão de Barraginhas
 

As hortas nascem em torno de barraginhas em Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha-MG. É o milagre da sobrevivência e da diminuição do êxodo rural.
 
A seca é uma realidade em várias partes do país. Mas a má gestão dos recursos hídricos é uma realidade ainda maior. E a degradação dos solos pelo desmatamento, pela mineração e pela monocultura e pelo pisoteamento das pastagens pelos animais vai tornando o solo mais compactado e impermeabilizado. Todos esses fatores somados acabam por diminuir a infiltração da água da chuva no solo e acelerar o escorrimento superficial – as chamadas enxurradas – provocando erosões, assoreamentos e enchentes. Sem água para plantar um roçado ou uma horta e até sem água para beber, a sobrevivência de famílias que vivem da agricultura familiar torna-se difícil. E os problemas sociais chegam em cascata, culminando com o êxodo rural. Foi aí que apareceu uma luz no fim do túnel: o projeto das Barraginhas. 
Hoje são milhares, localizadas justamente nas regiões de seca e mais pobres. A tecnologia nasceu na Embrapa – sempre a Embrapa – de Sete Lagoas. O autor principal desta proeza é o engenheiro agrônomo Luciano Cordoval de Barros que plantou esta idéia, primeiro no Cerrado mineiro e Vale do Jequitinhonha e, depois, no Nordeste, para o Brasil colher, após 19 anos, mais de meio milhão de barraginhas. Em cada uma delas, uma esperança e uma história de sucesso.
 
 
Fevereiro
 
MUSEU DO TUMUCUMAQUE
O Presidente José Sarney quer deixar um legado de cultura e meio ambiente para o Amapá: a criação do Museu do Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque
 
Sem cultura e educação, não há conscientização e nem preservação. Buscando mobilizar a comunidade científica e a sociedade em geral, começa a nascer um espaço para contar a história e fazer um relato de todas atividades de pesquisa sobre o Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque: é o Museu do Tumucumaque. A iniciativa é do senador José Sarney (PMDB-AP), Presidente do Senado Federal. 
O Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque é maior parque de floresta tropical do Planeta. Suas terras abrigam as nascentes de todos os principais rios do Amapá, como o Oiapoque, o Jari e o Araguari. A foz do rio Oiapoque é o ponto extremo do Brasil e faz a fronteira com a Guiana Francesa. O rio Jari faz a divisa entre os estados do Pará e do Amapá. Dois divisores de águas se destacam na área do parque: a serra do Tumucumaque, localmente denominada serra Uassipein, e a serra Lombarda.
Para o ex-Presidente da República,  senador José Sarney, o Amapá tem uma grande vantagem sobre os outros estados da Amazônia. “Temos que destacar – lembra Sarney – que 95% da floresta amapaense estão preservados. Isso significa muito. Não queremos dizer que ela seja intocável. Mas que há necessidade de estudos, de muitas pesquisas, de incentivo de expedições para promover um zoneamento econômico e ecológico para desenvolver de forma sustentável a região e, assim, preservá-la”. 
 
“O Tumucumaque é uma referência e um bem incomensurável. O projeto do Museu já está pronto. Foi feito pelo arquiteto Lelé João da Gama Filgueiras Lima e vamos tirar o projeto do papel o mais rápido possível”.
Presidente JOSÉ SARNEY
 
 
Março
 
VI  FÓRUM MUNDIAL DAS ÁGUAS
Encontro de Marsella
Chefes de delegações de 130 países e ministros do Meio Ambiente se comprometem a acelerar o acesso à água potável.
Chefes de delegações de 130 países representados no Fórum Mundial da Água em Marselha reafirmaram a urgência em aplicar soluções eficazes e sustentáveis na gestão da água. Documento assinado reafirma que “a água é um fator-chave para a paz e a estabilidade”, e após a declaração do acesso à água potável e ao saneamento como parte integrante dos direitos humanos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2010, insiste na “aceleração da implementação das obrigações” neste assunto.
Mais de 140 países comprometeram-se a aumentar o acesso à água potável, ao tratamento de esgoto e a promover o uso inteligente da água. O evento reuniu cerca de 20 mil pessoas. Mesmo em crise econômica, a França abriu a carteira e doou 600 milhões Euros para iniciativas de preservação da água na África.
 
Março
 
Aziz Ab’Saber – *1924 +2012
 
Brasil ficou menor com a morte do cientista Aziz Ab’Saber que tornou-se um dos mais respeitados em Geoecologia. Professor emérito e membro do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, Ab’Saber dedicou grande parte de sua vida a conhecer o território brasileiro em todos seus detalhes históricos, econômicos, culturais e geográficos.
Aziz Ab’Saber conheceu cada palmo de cada estado brasileiro e ajudou a descobrir e a classificar paisagens, relevos e habitantes. Filho mais ilustre de São Luiz do Paraitinga, o geógrafo Aziz Ab’Saber tinha posições firmes e analisava com autoridade problemas do clima, ocupação desordenada do território e as falsas alternativas ditas ambientais Analisar os diferentes ambientes e paisagens no território brasileiro foi uma das grandes missões de vida do professor Aziz Nacib Ab’Sáber, um dos maiores geógrafos físicos do país, nacional e internacionalmente reconhecido e premiado. 
 
“A paisagem é sempre uma herança. Na verdade, ela é uma herança em todo o sentido da palavra: herança de processos fisiográficos e biológicos, e patrimônio coletivo dos povos que historicamente as herdaram como território de atuação de suas comunidades”.
Aziz Ab’ Saber
 
Críticas ao Código Florestal – Envolvido nos debates mais importantes das ciências brasileiras e informado quanto a acontecimentos políticos, sociais e econômicos do país, Aziz Ab’Saber posicionou-se contrário ao novo Código Florestal.  Criticou o texto por não levar em conta o zoneamento físico e ecológico de todo o território nacional, incluindo a complexa região semi-árida dos sertões nordestinos, o cerrado brasileiro, os planaltos de araucárias, as pradarias mistas do Rio Grande do Sul e o pantanal mato-grossense. 
O professor chegou a defender a criação de um Código da Biodiversidade para contemplar as espécies animais e vegetais.
 
 
 
Abril
 
Violação e Ultraje
As invasões do Jardim Botânico do RJ
Nem tudo são flores no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Invasões e escândalos dentro de um santuário as vésperas da RIO+20. Invasões e poluição comprometem o mais importante patrimônio natural, histórico, científico e cultural do Brasil. Pior: com o aval de quem deveria protegê-lo: o Ministério do Meio Ambiente e o SPU – Secretaria do Patrimônio da União.
 
Entrevista com o ex-diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Carlos Alberto de Xavier, mostra a omissão do governo brasileiro em defender um santuário tombado e fundamental na História do Brasil. Em 1977, Carlos Alberto, Ângela Trezinari e Carlos Fernando de Moura Delphim realizaram o Plano Geral de Orientação para a área do Jardim Botânico. Esse estudo desnudou as contradições, o abandono, as invasões e a degradação que vivia o Jardim Botânico.
 Carlos Alberto explica na entrevista porque uma entidade de pesquisa  de tanto conceito e qualidade perdeu, de repente, a proteção do Estado. Explica ele:  “Simples, porque desde a mudança da capital para Brasília e, sobretudo, desde 1964 quando se iniciou a ditadura militar, as pessoas esqueceram que o JBRJ não ia mudar para Brasília. Mesmo “imexível ou imutável”, tinha que ser preservado e cuidado. Mas aconteceu o contrário. O JB foi abandonado. Pior! Começou a ser invadido. O grosso das invasões ocorre justamente nesse período. A situação ficou tão absurda que, no início dos anos 80, havia uma troca constante de diretores (quatro em três anos) porque todas as notícias que saiam do JB eram para as páginas policiais. Virou um caso de polícia mesmo. Então, em 1983, eu fui nomeado diretor para literalmente arrumar a casa”.
 
E disse mais: 
“O JB é um patrimônio da Colônia, do Reinado, do Primeiro Império, do Segundo Império e da República, aconteceu de tudo lá. É a verdadeira História do Brasil.” “Há omissões e abusos. Não sou eu quem fala em má fé. É o processo. A Justiça fala em má fé em vários sentidos. Má fé de quem construiu, má fé de quem deixou construir ou arrendou. Também má fé de quem transferiu “direitos” e de quem deixa permanecer como está”.
Reviravolta – Em setembro de 2012, uma boa notícia para o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Os tribunais superiores colocaram um fim à poluição social, moral, ambiental e às invasões criminosas ao cartão de visita da Cidade Maravilhosa. A decisão para retirar mais de 620 invasores do JBRJ foi tomada: preservação garantida, dirigentes e amigos do JBRJ têm agora uma outra discussão: os limites a serem adotados.  Há consenso entre ambientalistas e historiadores que a delimitação tem que respeitar a planta do tombamento, de 1938. O TCU deu prazo para a demarcação da área.
 
 
 
Maio
 
SERRA VERMELHA
A esperança de fazer de Serra Vermelha, no Piauí, um parque
 
Com a demissão do juiz Carlos Henrique de Sousa Teixeira, da Comarca de Parnaguá, a 823km de Teresina, um dos negócios mais lucrativos, porém sujo e vergonhoso, envolvendo o Estado do Piauí, que é a grilagem de terras públicas no Sul e Sudeste, começa a ser fechado. Antes, o Tribunal de Justiça do Estado-TJ, já havia afastado o juiz José Ribamar Oliveira e Silva e prendido o também juiz Osório Bastos, ambos envolvidos com vendas ilegais do patrimônio rural do Estado.
 
A Corregedoria Geral de Justiça do Piauí autorizou o bloqueio de meio milhão de hectares, o número pode dobrar após o termino da Correição e Inspeção que vem sendo realizados nos cartórios da região Sul e Sudeste do Piauí, onde estão sendo descobertos crimes de grilagem de terras públicas
 
 
Junho
 
No Ritmo da RIO+20
 
Em meio a muitas esperanças, algum descrédito, inúmeras dúvidas e vários protestos, o Brasil abre esta semana a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a RIO+20. Até o dia 22 de junho, o Rio de Janeiro foi a Capital Mundial do Meio Ambiente. Com a presença de mais de 130 delegações internacionais, centenas de chefes de Estado e milhares de participantes, a RIO+20 pede um tempo para debater urgentes questões ambientais. Muitos pontos estão em discussão, mas sete podem ser destacados: a erradicação da pobreza e a fome crônica que tornam o desenvolvimento muito mais difícil; o aumento da contaminação do ar que provoca milhões de mortes prematuras.
 
A biodiversidade planetária em risco: 20% dos vertebrados estão ameaçados e, desde 1980, os recifes de corais foram reduzidos em 38%; os recursos hídricos estão sofrendo pela falta de gestão e a maioria das bacias hidrográficas do mundo está comprometida; o desafio do clima, as crescentes emissões de gases do efeito estufa devem elevar em 3 graus Celsius a temperatura até 2100; o desmatamento desenfreado continua a avançar nas florestas tropicais, inclusive no Brasil; os padrões de produção e consumo precisam entrar na pauta da sustentabilidade. Estes sete desafios podem ser considerados os sete pecados capitais que precisam de atitudes urgentes para sobrevivência do planeta Terra. A Conferência da ONU, como bússola, mostrou o caminho correto a seguir. A Terra, como morada, e a Vida, como um bem sobrenatural, só serão salvos pelo debate honesto e pelas parcerias verdadeiras que tragam no seu bojo muita generosidade e ética. Os tomadores de decisão precisam ser, acima de tudo, bons zeladores globais e não apenas do espaço de seus “umbigos”.
O Rio de janeiro respirou meio ambiente, terra, água, ar, floresta e tantos outros temas ligados à sustentabilidade. Foram mais de 200 eventos, ligados à Conferência da ONU, aconteceram  em diversas partes do Rio, especialmente dentro do Riocentro. Além das questões indígenas, foi debatido também as questões de gênero no âmbito da preservação ambiental.
O secretário-executivo da Comissão Nacional para a RIO+20, o embaixador Luiz Alberto defendeu, desde as preparações iniciais da Conferência, as credenciais para que o Brasil se projetasse globalmente como protetor do meio ambiente. A RIO+20 foi mais uma vez palco para discussões de nível planetário. Depois da Conferência muitos compromissos esperados ficaram só no discurso. Mas o embaixador Figueiredo Machado não deixou de ficar otimista: “A RIO+20 estabeleceu metas quantificáveis e com data, em setores como energia, água, segurança alimentar, consumo e cidades sustentáveis”. 
 
 
Julho
 
Ecos da RIO+20
 
“Partes do relatório final da RIO+20, realizado pela ONU no Rio de Janeiro, foram tão fracas que poderiam ter sido impressas em papel higiênico”
Maurice Strong, coordenador da Conferência da ONU em 1982, a RIO’92.
 
Com a presença da ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, especialistas e participantes da RIO+20 se reuniram para um balanço da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Para a ministra Izabella Teixeira “o difícil processo de encontrar consensos, característico das conferências das Nações Unidas, obteve sucesso não só por evitar retrocessos, como para abrir caminhos visando a construção de novos modelos de desenvolvimento sob o paradigma da sustentabilidade.”
 Segundo Izabella Teixeira, um dos principais marcos do evento foi o engajamento de diferentes atores da sociedade, fator essencial para as mudanças que precisam ser feitas, mas reconhece: “É óbvio que o debate sobre sustentabilidade deixou de ser restrito aos ambientalistas” completou. Intitulado “O Legado da Rio+20 para a Economia Verde”, o encontro foi realizado no Espaço Tom Jobim, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 
Para o ex-ministro do Meio Ambiente José Carlos Carvalho o relatório final da RIO+20 cumpriu o papel para o qual ela foi imaginada pelos países que realmente mandam: abriu espaço para  mais retórica global sobre o meio ambiente, frustrou as expectativas da maioria das pessoas sobre a consolidação dos paradigmas do desenvolvimento sustentável nas suas três dimensões, renovou as esperanças daqueles que nunca as perdem e, sobretudo, serviu, mais uma vez, para protelar os compromissos.

 

“Fora do Riocentro era possível ver um planeta sustentável querendo brotar, mas faltaram estadistas dispostos a regá-lo e fazê-lo florescer.
José Carlos Carvalho
 
RIO+20: pontos negativos e positivos
Para a professora Moema Viezzer um dos pontos positivos da Conferência RIO+20 foio próprio encontro, justamente para não deixar cair no esquecimento tudo o que já foi prometido.  Também me pareceu muito importante o crescimento da consciência ambiental visível nas posições colocadas pela sociedade civil.
Quanto aos pontos negativos, houve vários no processo de preparação, especialmente naqueles que se apresentavam como “novas tentativas de aproximação entre governos sociedade civil, não entendido como tal tanto de um lado como de outro. E como sempre, o “peso imenso” da máquina, da estrutura que a ONU carrega e a forma de trabalhar que é lenta, muito lenta, por necessitar o consenso de governantes de 194 países, com posições tão diferenciadas.Acho que também foi negativo não termos alguns compromissos dos governos mais propositivos em relação a tantos objetivos já traçados anteriormente”.
 
 
Agosto
 
Agronegócio discute sustentabilidade
Segurança alimentar e energética na formulação de políticas para produção agrícola
 
O 11º Congresso Brasileiro do Agronegócio, em São Paulo e defendeu a oferta de alimentos e de energia renovável de forma sustentável.  O congresso foi uma promoção da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e reuniu representantes das mais diversas cadeiras produtivas do agronegócio, entre governo, associações públicas e empresas nacionais e internacionais.
O secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Paulo Guilherme Cabra, destacou que o Brasil é hoje o líder na produção mundial de alimentos. “Estamos investido cada vez mais em práticas agrícolas sustentáveis, com a preservação do meio ambiente e inclusão social”, salientou. Para ele, do ponto de vista legal, a nova Lei Florestal abrirá o espaço necessário para avançar cada vez mais em medidas que garantam a produção sustentável de alimentos no país.
Ao participar do painel “Políticas Públicas e Brasil Ofertante de Alimentos e de Energia”, Cabral falou sobre o incentivo à produção de espécies nativas, como forma de gerar renda e inclusão social, além da preservação ambiental. “Podemos dizer que um dos diferenciais do agronegócio brasileiro está na produção de espécies nativas com uso econômico, que agregam valor à nossa produção de alimentos e competitividade ao setor”, destacou.
 
 
Setembro
 
Eleições municipais
Tem até troca-troca de água e outras benesses por apoio político
 
Nas eleições municipais de 2012, 138 milhões de eleitores votaram para eleger prefeitos de 5.568 municípios. A seca no sertão do Piauí foi inclemente. Cerca de um milhão de pessoas do Semi-Árido piauiense está atravessando uma das mais longas secas já vista por essas bandas. Denúncias apontam que políticos das regiões atingidas aproveitaram a dor das famílias para se beneficiarem pela da troca de água por voto. Os exemplos são muitos e ocorrem desde a área da Chapada do Araripe, próximo a divisa com o Ceará, na região de Picos e de São Raimundo Nonato, no Sudeste do Estado. Não foi a primeira vez e, com certeza, também não será a última.
 No município de Simões, a 470 km de Teresina, as entidades Cáritas Brasileira e Movimento dos Pequenos Agricultores do Estado-MPA garantem que cabos eleitorais conseguem manipular a distribuição da água, entregando a metade do tanque do carro-pipa, deixando a outra metade para distribuir em troca de voto depois da eleição. Ou, então, vendendo a preços exorbitantes.
Denúncias também ocorrem no Sul e Sudeste, onde milhares de famílias estão sem água há pelos menos dez meses. Segundo o coordenador da Cáritas no Piauí, Carlos Humberto, na zona rural dos municípios da região de São Raimundo Nonato, trabalhadores rurais denunciaram que famílias que não apoiam políticos que estão no comando, ficam sem água. Segundo ele, embora o sertanejo teme denunciar os chefes políticos, alguns criam coragem e relatam o crime para jornais e rádios. Daí que nasceu a campanha: “Não Toque Seu Voto Por Água”.
Carlos Humberto lembra que o Comitê Estadual de Combate a Seca, não tem representantes da sociedade civil, apenas instituições governamentais. Já Afonso Galvão, representante do MPA sustenta que a troca de voto por água ocorre em várias regiões, como Picos, porém, os trabalhadores preferem não denunciar, pois temem não receberem o pouco de água a que têm direito. 
“Existem comunidades que ficam distantes da água mais de 30 quilômetros, se não for o carro-pipa, as pessoas morrem de sede, como vem acontecendo com os animais, essas pessoas nunca que vão querer denunciar os políticos”, diz.
Ele conta que o Exército tem conhecimento da troca e venda, porém, como vem ocorrendo em muitos municípios não tem como dar conta. Já na Seção Operação Pipa no 25° Batalhão, em Teresina, a informação é que o controle de distribuição é rigoroso. Segundo um dos militares envolvido no trabalho, o comandante responsável, coronel Humberto Silva Marques, encontra-se em viagem para as regiões, apurando denúncias como as relatadas nas áreas atingidas.
Ele adianta que nos 70 municípios onde o Exército atua no Piauí, chefes políticos não tiveram acesso a fichas que dão direito a água, sendo o produto foi entregue direto em mãos dos beneficiários. 
 
 
Outubro
 
Novo Código Florestal é sancionado com vetos
“Os vetos são para não estimular desmatamentos ilegais e assegurar justiça social no campo”, explica ministra do Meio Ambiente.
 
Nove artigos da nova Lei Florestal aprovada no Congresso Nacional foram vetados pela presidenta Dilma Rousseff. Os vetos, anunciados pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, resgatam os princípios defendidos pelos ambientalistas nas negociações com os parlamentares. “Será preservado o equilíbrio entre o social e o ambiental”, garantiu a ministra. 
Outro ponto excluído pela presidente foram a possibilidade aberta pelos parlamentares de recuperação de áreas de preservação permanente (APP) com monoculturas, como árvores frutíferas exóticas ou eucaliptos. 
O uso de árvores exóticas deverá ser intercalado com árvores nativas.
 
  Para Izabella Teixeira, o fundamento dos vetos foi “não anistiar, não estimular desmatamentos ilegais e assegurar a justiça social e a inclusão social no campo em torno dos pequenos produtores e agricultores familiares. O Congresso poderá se manifestar e sempre estaremos abertos ao diálogo”. Foi vetada a parte do texto que implicava em desequilíbrio entre a proteção ambiental e a inclusão social. A íntegra do documento está publicada no Diário Oficial da União do dia 18 de outubro. 
Os principais vetos asseguram o retorno da chamada “escadinha”, que estabeleceu os limites mínimos diferenciados para a recuperação de áreas de preservação permanente às margens de rios.   A medida  restabelece o direito dos pequenos  agricultores, sem retirar a obrigatoriedade dos médios e grandes de recuperar áreas proporcionais a extensão de suas propriedades. Será garantido, ainda, que as áreas degradadas sejam recuperadas com um percentual  expressivo de mata nativa. Como foi aprovada, a lei autoriza a recuperação integral com espécies frutíferas, o que contraria os princípios de preservação dos cursos d’água.
Foi vetada, também, por imprecisão técnica, a questão de rios intermitentes até dois metros, o que significaria uma nova faixa, fora da escadinha.  “Essa discussão não aconteceu no Congresso, apareceu no último momento”, lembrou a ministra.  O que estava previsto era a limitação em cinco metros em rios com comprimento inferior a 10 metros para as pequenas propriedades. E assegura que os médios e grandes proprietários recuperem entre 30 e 100 metros.
Para alguns técnicos, o Brasil evoluiu na governança ambiental, pois o projeto do código foi o mais debatido desde a Constituição de 1988 e trouxe maior segurança jurídica ao produtor rural, com regras claras para operar. A verdade é que há necessidade de conciliar produção de alimentos com a conservação dos recursos naturais. Neste ponto, 2012 foi um marco de avanço da governança ambiental.
 
 
Novembro
 
Jogo ambiental antes da COPA
Estratégias de mitigação e de compensação das emissões de gases geradas pelas obras da Copa
 
A sustentabilidade dos grandes eventos esportivos começa a ser monitorados pela ONU. Enquanto o Brasil se prepara para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, o Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) lançou, em Brasilia, um relatório sobre o desempenho ambiental da Copa do Mundo de 2010, onde destaca os casos de sucessos e as lições que devem ser aprendidas para garantir a sustentabilidade da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, no Brasil.
 Na avaliação da ONU, a pegada de carbono da Copa do Mundo de 2010 foi de 1.65 milhões de toneladas de CO2eq., que pode ser comparada à projeção de 2.64 milhões de toneladas. A pegada foi muito menor do que o previsto, devido ao número de visitantes (que foi menor do que o esperado), aos esquemas de carona e às alternativas eficientes de estadia; o que cortou o uso de energia em 30%. 
O Núcleo Temático sobre Mudança do Clima, montado em decorrência da Copa de 2014, se reuniu em Fortaleza para definir medidas de mitigação e compensação nos doze Estados/cidades sede dos jogos. A reunião também contou com a apresentação das experiências verificadas em Belo Horizonte, Curitiba e Fortaleza como sedes piloto no projeto de cooperação com o Ministério do Meio Ambiente e a Embaixada do Reino Unido.
No encontro foi apresentado o levantamento dos estados e prefeituras das oportunidades de mitigação e compensação e o estabelecimento de um canal de diálogo com o governo federal para tratar as emissões aéreas. Entre as principais iniciativas do MMA, estão os Planos Setoriais de Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima. O analista ambiental Daniel Couto Silva reforçou a importância da elaboração e implementação dos documentos. Para isso, segundo ele, o MMA está elaborando um projeto de gestão de carbono que apoiará as atividades das cidades-sede em relação ao combate às mudanças do clima.
 
Inventários – Esta não é a primeira reunião do Núcleo. No último encontro, em Brasília, representantes do governo federal e dos estados debateram as obras em andamento. O grupo apresentou a estratégia da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20) e o modelo usado na compensação das emissões de gases de efeito estufa.  Além disso, foi apresentado o inventário das emissões relacionadas à Copa do Mundo em Belo Horizonte. O projeto-piloto é fruto da parceria entre MMA, o Governo de Minas Gerais, a Prefeitura de Belo Horizonte e a Embaixada do Reino Unido.
Criado dentro da Câmara Temática de Meio Ambiente e Sustentabilidade (CTMAS), o Núcleo Temático sobre Mudança do Clima é integrado por representantes dos Governos dos Estados/Cidades-sede, além do Governo Federal. Para mais informações, acesse: www.mma.gov.br/governanca-ambiental/copa-verde/nucleo-mudancas-climaticas.