Rede de Parques Urbanos

RENUURB – Rede Nacional de Unidades de Conservação Urbanas Renuurb

21 de fevereiro de 2013

Uma oportunidade para conservação da biodiverCidade

 

Todas as UCs são estratégicas para conservação da biodiversidade e melhoria da qualidade de vida das pessoas.  Mas acontece que o mundo está cada vez mais urbano. Nesse contexto, as unidades de conservação urbanas desempenham um papel pedagógico fundamental no sentido de ter a comunidade aliada na defesa do meio ambiente.
 
Miguel von Behr
 
 

Para falar do nascimento e da importância da Renuurb, ninguém melhor do que Miguel von Behr, analista ambiental, arquiteto-urbanista, fotógrafo e escritor e que tem pesquisado e atuado nessa área durante muito anos. Miguel, que trabalha com unidades de conservação faz trinta anos, já foi coordenador técnico do Programa Planejamento Urbano e Unidades de Conservação, ainda pelo Ibama. 
Atualmente é Chefe da Floresta Nacional de Lorena, Vale do Paraíba, SP, região mais urbanizada do país.   
 
Miguel von Behr – Entrevista
 
“A interatividade com os moradores, com as escolas e com os visitantes é uma constante nas unidades de conservação próximas aos centros urbanos. Estamos também no Facebook para que todos possam participar e entrar melhor na vida dos parques e os parques na vida da cidade e das pessoas”.
Miguel von Behr
 
 

Folha do Meio – Porque a Rede Brasileira?
Miguel von Behr – Evidente que todas as unidades de conservação são importantíssimas. Todas elas são estratégicas para conservação da biodiversidade e melhoria da qualidade de vida das pessoas.  Mas acontece que o mundo está cada vez mais urbano. Aumentou o número de pessoas que vivem nas cidades. No Brasil, um pouco mais de 85% da população já é urbana. As maiores decisões, inclusive o processo decisório político se define nas cidades. Nesse contexto, as unidades de conservação urbanas desempenham um papel pedagógico fundamental no sentido de ter a comunidade aliada na defesa do meio ambiente. 
 
FMA – Vamos citar algumas UCs extremamente urbanas?
Miguel – Vamos, são várias. São parques que tem uma forte interação com os centros urbanos. São verdadeiros parques urbanos. Exemplo: o Parque Nacional da Tijuca, no Rio; o Parque Nacional de Brasília e a Estação Ecológica de Carijós (SC). Tem dezenas de parques estaduais como Pedra Branca (RJ), Cantareira e Jaraguá (SP), Parque Estadual das Dunas (RN) e Parque Estadual dos Dois Irmãos (PE). Tem ainda os parques municipais como o Parque do Coocó, em Fortaleza, Parque da Mãe Bonifácia em Cuiabá (MT) e Pituaçu, em Salvador.  São centenas de outras unidades de conservação que permitem a visitação pública, como as estratégicas florestas nacionais urbanas, especial no Sul-Sudeste.
 
FMA – Qual a importância desses parques urbanos?
Miguel – As pequenas unidades em áreas urbanizadas permitem a visitação pública e esta é uma forma de educação e conscientização. E uma estratégia para alcançarmos o apoio da sociedade para a conservação. É necessário estimular cada vez mais a visitação das pessoas para conhecerem e desfrutarem corretamente as unidades de conservação urbanas. Isso sem mencionar o fato de que na grande maioria das vezes,  UCs protegem os mananciais que suprem as cidades com água potável.
 
FMA – Mas esta proximidade não tem também um impacto negativo para as UCs?
Miguel – Verdade, reconhecemos esses impactos. Centenas de UCs foram, estão sendo e serão impactadas pelo crescimento urbano, a curto, médio e longo prazos. Mas esta proximidade das cidades com as unidades de conservação urbanas é mais chance de educação ambiental que problema. E temos que pensar que milhares de pessoas utilizarão cada vez mais as UCs urbanas como área de lazer e integração com a natureza. No Brasil, algumas unidades de conservação  mudaram de categoria para permitirem a visitação, como o Parque Nacional de Anavilhanas, no Amazonas, antes uma Estação Ecológica, muito restritiva em termos de visitação. 
 
FMA – Precisa ter uma política adequada para a gestão dessas UCs?
Miguel –  Sim, é recomendável uma política pública específica  integrando a gestão urbana e gestão ambiental, com ênfase no tema das unidades de conservação. É preciso que haja uma conexão entre o Plano de Manejo e o Plano Diretor, principal instrumento de planejamento participativo das unidades de conservação e das cidades, respectivamente. Aliás, a divulgação das experiências bem sucedidas entre o Plano de Manejo e Planos Diretores serão sempre benvindas. Portanto, urge uma estratégia diferenciada para conservação dessas áreas urbanas. Em especial no que tange à política de ocupação do território que leve em consideração o entorno, a zona de amortecimento das UCs e maior incentivo às atividades de educação ambiental. 
 
FMA – No que, por exemplo?
Miguel – Por exemplo, na criação de trilhas interpretativas. As trilhas trazem a oportunidade para um contato direto, instrutivo e sensibilizador do ser humano com a natureza, com o ambiente em que se vive, com a população tão próxima da UC. O potencial é imenso. Excelentes experiências têm sido desenvolvidas nesse sentido. É preciso valorizá-las!
 
FMA – Qual o objetivo da RENUURB ?
Miguel – O principal objetivo é integrar a rede de gestores das UCs estaduais e municipais. É importante também integrar os gestores urbanos e vários outros interessados.  
A ideia é intensificar o intercâmbio de experiências e propostas. Estamos fazendo o levantamento  das  UCs urbanas de responsabilidade do ICMBio. A partir daí vamos traçar os rumos da Rede de forma mais participativa e transparente possível. Já estamos também no Facebook para que todos possam participar.
 
FMA – Qual o principal desafio? 
Miguel – Possibilitar que as UCs urbanas proporcionem cada vez mais espaços para a conscientização da sociedade sobre a importância de vivermos em um ambiente sadio. Cidades respeitando os parques e os parques respeitando as cidades. 
Olha, temos que lembrar que as unidades de conservação são instrumento importante para transformar as relações do Homem com a natureza, no sentido de reconhecer nossas interações necessárias não somente à qualidade de vida nas cidades, mas à sobrevivência da Humanidade como um todo.