Balbina: Eletronorte inaugura hidrelétrica

26 de março de 2013

Constrangimento pelo forte impacto ambiental retardou a inauguração em 10 anos

 

Andréia Amorim – Enviada especial
 
A comemoração dos dez anos de funcionamento da Usina Hidrelétrica de Balbina, no Estado do Amazonas, no dia 17 de abril, foi pretexto também para inaugurá-la. Até então, Balbina não tinha sido apresentada oficialmente ao público, apesar de suas turbinas funcionarem há mais de uma década abastecendo metade do consumo da cidade de Manaus. 
Balbina produziu seu primeiro megawatt em 1989 sem que ninguém ficasse sabendo disso, a não ser os moradores da capital do estado que puderam contar com mais energia em suas casas. A falta de interesse em anunciar as turbinas de Balbina em operação foi estratégia usada pela Eletronorte para evitar maiores constrangimentos, na época. Nada da usina tinha escapado, até então, às duras críticas dos ambientalistas. A recusa do Presidentes da República em comparecer a eventos na usina, com receio de manifestações contrárias à sua construção, prova que a opinião pública foi longe e conseguiu atingir  até o maior prazer do político brasileiro: inaugurar obras. 
 
Impacto ambiental
A usina, que entrou para a história como uma obra causadora de impactos irreversíveis ao meio ambiente, teve seu dia de glória. No aniversário de dez anos, o atual presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes, aproveitou a ocasião para provar aos jornalistas convidados que alguns dos ataques sofridos na época da construção da hidrelétrica foram infundados, já que catástrofes previstas não aconteceram. "Na época, recebemos cartas do mundo inteiro dizendo que nós íamos acabar com a nação indígena Waimiri Atroari e hoje graças aos investimentos da Eletronorte, os Waimiri tem crescido 7% ao ano, todos com saúde, educação e, o melhor, com as suas tradições mantidas", afirmou o presidente.
Polêmicas à parte, a verdade é que Balbina é hoje um exemplo de preocupação com o meio ambiente. Os estragos provocados pela imensa área inundada, do mesmo tamanho que à de Tucuruí estão sendo reparados (Tucuruí produz 16 vezes mais megawatts que Balbina). O peso de ter sido alvo de críticas de ONGs brasileiras e estrangeiras levou a Eletronorte a reconhecer os danos e compensá-los com investimentos em projetos ambientais.
 
Pesquisa e Proteção
 A Eletronorte, hoje,  financia o Centro de Pesquisa e Proteção de Mamíferos Aquáticos (CPPMA) cujo objetivo é preservar animais como o peixe-boi e as tartarugas ameaçadas de extinção. Caçadores durante anos mataram esses animais sem se preocuparem com a sustentabilidade da espécie. 
A tribo indígena dos Waimiri Atroari também recebe investimentos na ordem de 850 mil reais por ano da Eletronorte. Por conta disso e de uma equipe de indigenistas mantida pela estatal, os Waimiri aumentaram sua população de 370 para 801 índios e de um decréscimo de 25% ao ano em 1988, passaram a crescer 7%. Na região de Balbina foram descobertos sítios arqueológicos que os técnicos da Eletronorte fazem questão de preservá-los e que são parte do projeto elaborado e sustentado pela estatal. Alguns dos objetos de estudo dos arqueólogos estão expostos no museu próximo a usina.
 
Estigma
Apesar do esforço da empresa, o estigma de Balbina ainda não desapareceu por completo. Quem acompanhou os acontecimentos da época da construção, lembra ainda da confusão que foi encher a barragem sem retirar as árvores. O fato provocou convulsão entre os protetores da floresta. Desperdício de madeira de lei foi o mínimo que disseram. A mais grave das declarações foi que toda flora submersa seria decomposta, comprometendo a qualidade da água do rio Uiamatã e eliminando por completo a vida aquática no seu leito. Os mais fatalistas diziam que até em Manaus, a 180 km de Balbina, a população sofreria as consequências dessa decisão. A previsão era que os manausenses andariam de máscara para não aspirar o ar fétido decorrente da decomposição do material orgânico submerso na barragem de Balbina.
"Nada disso se confirmou", conta Rubens Ghiliardi, gerente de Planejamento e Desenvolvimento Ambiental da Eletronorte. Ghiliardi concorda que houve uma piora na qualidade da água, porém não na dimensão divulgada. Para Ghiliardi, se tivessem procedido de outra forma, apareceria a rebrota das árvores no decorrer do desmatamento  "Muito mais perigosa para a água", comenta ele. Segundo o gerente ambiental, não existe tecnologia disponível no mundo capaz de desmatar uma área do tamanho da inundada pela UHE Balbina sem que haja rebrotas.
Quanto a utilização da nova técnica de extrair árvores submersas, Ghiliardi não recomenda para o caso de Balbina, já que a madeira do local   tem potencial pequeno para comercialização. Além do que, na época, a área foi oferecida aos extrativistas para que a explorassem e não apareceu nenhum interessado. "A dificuldade de acesso também prejudicou a retirada das árvores", explica Ghiliardi.
 
Waimiri Atroari
Nem um marqueteiro profissional, por si só, conseguiria recuperar a imagem de Balbina depois de tantas controvérsias envolvendo o nome da hidrelétrica. Se não fosse o projeto da nação indígena dos Waimiri Atroari, financiado pela Eletronorte, a Usina Hidrelétrica seria supostamente condenada a carregar o estigma de responsável pelo desaparecimento dos Waimiri; apesar de outros empreendimentos, como a construção da rodovia BR-174 e o programa de exploração da cassiteria na Amazônia, conhecido como Projeto Pitanga terem colaborado para  degradar parte das terras desses índios. 
Como medida compensatória por ter inundado 30 mil hectares de terras indígenas atingindo duas aldeias, a Eletronorte não só financiou a demarcação da reserva do Waimiri, devolvendo o que eles haviam perdido, como também mantém o programa de proteção aos índios desde 1988 com previsão de concluí-lo no ano de 2013. 
Hoje os Waimiri se encontram em situação privilegiada em relação a outras etnias brasileiras: 40% da população é alfabetizada, não há registro de casos de alcoolismo, têm atendimento médico primário, controle das doenças tropicais e de outras tidas como previníveis, bem como a diminuição do índice de mortalidade.