PUERILISMO NAS ÁGUAS

20 de março de 2013

As águas deixam nas margens resíduos daquilo que lhe é servido. Límpidas, abastecem e nutrem. Poluídas, privam e enfraquecem.

Costume era colocar um barquinho de papel feito com dobraduras manuais e devanear com suas idas e vindas. Por vezes, um simples pedaço de madeira, uma tampinha ou uma casca de amendoim tinham a mesma função. Não raro, colocava-se nas pretensas embarcações um inseto ou outro objeto qualquer, simbolizando uma carga ou tripulação. Quando desembestava, a gente corria ao lado para ver até onde chegaria.
Hoje em dia, raramente vivenciamos esta prática infantil nos grandes centros. Ao contrário, são os adultos que imitam tal prática e de maneira deturpada, jogando lixo nas águas e provocando situações comprometedoras ao meio ambiente. Já não é mais a alegria inocente da felicidade, mas a tristeza culpada da desgraça.
As águas deixam, nas margens, resíduos daquilo que lhe é servido. Límpidas, abastecem e nutrem. Poluídas, privam e enfraquecem. 
Infelizmente, nossas ações como adultos em defesa das águas são menores do que poderiam ser. Não contente com a poluição urbana, avançamos para as periferias, espalhando um progresso descontrolado e interesseiro. 
Sabemos o que fazemos ao poluir, mas ignoramos os efeitos no futuro ao executar uma ação pretensamente responsável.
Sou criança novamente quando de encontro com as águas e, desta feita, com mais conhecimento, lastimo a falta de cuidado com a sua pureza e restrinjo minhas atitudes para não provocar um maior transtorno aos seus desígnios. Elas já não são mais as mesmas da minha inocência. 
Vejo culpabilidade, sinto condenação. Os causadores da agonia não ensejam liberdade para a alegria da pureza e neste vaivém, ficamos na iminência do ter ou não ter. 
Gostaria de visualizar nas águas atuais, a cristalinidade liberta de ações condenáveis.