DIA DO ÍNDIO

Índios: liberdade e sustentabilidade

19 de abril de 2013

A questão indígena e a nova proposta da ONU sobre a economia verde

 

 

A educação e a religião foram os dois golpes trazidos pelo colonizador para nos dominar”.
Desabafo do líder indígena Windel, das Filipinas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARCOS TERENA – ENTREVISTA
 
Folha do Meio – Terena qual foi o destaque desta questão complexa pós-RIO+20?
Marcos Terena – Um dos destaques foi a construção de uma aldeia estilizada com conhecimentos tradicionais, cultura, jogos verdes e uma arquitetura que juntou tecnologia da engenharia indígena e os conceitos da modernidade, a Kari-Oca II. Foi o maior encontro indígena nacional e internacional para se discutir a economia verde. Entregamos uma declaração ao Diretor da Divisão da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, Mr. Nikhil Seth, representando o Secretário Geral Ban Kin Mon e ao Secretário Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho.
 
FMA – Qual era a preocupação maior?
Terena – A preocupação indígena eram as formas e os conceitos econômicos sobre Desenvolvimento com sustentabilidade e a venda do crédito de Carbono. Todos tinham uma posição única: o sustentável das terras indígenas não pode seguir os modelos colonialistas de destruição dos ecossistemas e o desrespeito aos valores das comunidades indígenas. Mas ao mesmo tempo, a avaliação de uma mesa de negociação dentro das recomendações da Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho que recomenda consulta livre, prévia e informada, ou seja, cada projeto, cada aldeia, uma consulta.
 
FMA – A Kari-Oca 2 cumpriu seu papel?
Terena – Na Kari-Oca II além da Oca da Sabedoria, foi construída uma Oca Digital e duas Ocas típicas do Alto Xingu como cenário de várias formas de convivência e intercâmbios de valores e pensamentos de todo o mundo. “A Kari-Oca deve ser a união de toda forma de vida”, foi a recomendação do líder espiritual Phil Mowhak do Canadá durante o acendimento do Fogo Sagrado, que deu inicio a todos os trabalhos da participação indígena nesses processos.
 
FMA – Na RIO+20 houve a participação de índios do mundo inteiro…
Terena – Sim, do mundo inteiro. Das Américas, da Ásia, África, Europa, vieram povos da Amazônia brasileira, peruana, equatoriana e boliviana.  O líder Windel das Filipinas avisou:  “A educação e a religião foram os dois golpes trazidos pelo colonizador para nos dominar. Mas hoje temos que enaltecer a necessidade de uma solidariedade internacional pois estamos aqui para lutar, mas também para vencer!” O líder equatoriano Mario Santi foi muito feliz quando pediu uma que o encontro fosse a expressão de um só sentimento e intercâmbio real entre a ONU, as ONGs e todos os povos indígenas..
 
FMA – Como você a interação com as autoridades de outros países com os artistas?
Terena – É verdade, foi um momento mágico. Ministros, parlamentares, chefes de Estado e príncipes árabes  e muitos artistas visitaram e se encontram com os lideres indígenas na Kari-Oca II. Esses encontros geraram um clima de solidariedade, de confraternização e de trocas de energia. Foi muito importante.  Durante a Kari-Oca foi realizado ainda os Jogos Verdes como primeiro passo para a realização em 2015, do I Jogos Mundiais Indígenas.
 
FMA – O governo brasileiro dá seguimento aos debates na RIO+20?
Terena – Sim e isto é importante para a formação de um pensamento sobre as recomendações e os resultados da RIO+20 e as aplicações e expectativas indígenas como base para um projeto de governo e o novo milênio. Mas aguardamos uma política indigenista sólida e consistente. Não custa nada pensar na mensagem de uma canção do Povo Xavante: “Nós somos indígenas. Indígenas de verdade e herdeiros do poder ancestral que habita o mundo. Mesmo assim isso não é valorizado. Nos esquecem, não sabemos porque, enquanto a cultura não indígena vai nos influenciando e contamindo…”
 
 

O líder espiritual Phil Mowhak, do Canadá, acendeu o fogo sagrado
 
 
 
 
 
 
“Somos indígenas.  Indígenas de verdade e herdeiros do poder ancestral que habita o mundo. Mesmo assim isso não é valorizado. Nos esquecem, não sabemos porque, enquanto a cultura não indígena vai nos influenciando e contamindo…”
Marcos Terena