ACONTECEU NA PRAÇA

19 de abril de 2013

Os pássaros, que timidamente se acercavam na busca de migalhas, aos poucos adquiriram confiança e completavam os espaços vazios do banco.

O homem escolhera um banco de uma praça e com ele fez uma combinação de esperança e solidão. Suas visitas preenchiam partes desocupadas do seu tempo e do banco. Ali sentava, pensava, conversava, cochilava, sorria e chorava. Sentia as intempéries do tempo como uma figura esculpida para aquele cenário. A exuberante e bem cuidada vegetação do local, contribuía para a sua paz espiritual e o vento era sua canção de ninar.
Os pássaros, que timidamente se acercavam na busca de migalhas, aos poucos adquiriram confiança e completavam junto dele os espaços vazios do banco. Quando alçavam voo, seu pensamento a eles se juntava na liberdade do espaço, imaginando serem pipas que podiam ser manuseadas em acrobacias fantásticas. A cada dia, mais pássaros surgiam e muitos deles não conviviam habitualmente naquele espaço. O homem, totalmente integrado a situação, comprava sementes para alimentá-los e sentia sua alma tornar-se nota da partitura musical entoada no momento. A presença dos alados era uma aglomeração cronológica, repetindo-se pontualmente e chamando a atenção das pessoas que também se faziam mais numerosas devido ao espetáculo.
Certo dia, os personagens tornaram-se ausentes, ficando apenas o banco como isolada figura observativa. Os pássaros migraram para uma residência perto dali, causando verdadeira balburdia no arborizado quintal. O homem havia sofrido um ataque e destacava-se na sala repleta de pessoas, repousando num ataúde todo florido.  Deste dia em diante, a praça perdeu sua característica, voltando a refletir a inércia de antes. Apenas o banco permaneceu no mesmo lugar, com mais uma página escrita em seu diário e com muitas outras a serem escritas por algum figurante que venha a protagonizar outra história no local.