Jardins do Brasil

23 de maio de 2013

O arquiteto da paisagem Carlos Fernando de Moura Delphim lança dois livros de arte mostrando os mais belos jardins brasileiros, suas histórias e seus segredos.

 
As edições de “Jardins do Brasil” e “Jardins do Rio”, da Atlântica Editora,  fazem parte de uma série de obras que têm como tema diferentes aspectos culturais, sobretudo elementos arquitetônicos, artísticos e ambientais sobre o Brasil.

Os livros apresentam um registro inédito sobre os jardins de todas as regiões brasileiras. Com um belo e sensível texto do arquiteto da paisagem Carlos Fernando Moura Delphim, os textos revelam, sob uma nova óptica, a cultura e a natureza do Brasil, através da criação dos jardins: seus ciclos econômicos, a influência da imigração e do meio ambiente , a diversidade e riqueza de nossa flora. Dois fotógrafos, Bruno Veiga e Pepê Schetino, foram contratados para percorrerem o país de norte a sul, fotografando os jardins durante as épocas mais favoráveis. O conjunto destas imagens compõe o projeto gráfico do livro. Todos os elementos relevantes dos espaços retratados foram contemplados como esculturas, fontes, coretos, especialmente bonitos no norte do país trazidos da Inglaterra e da França às custas da pujança advinda do ciclo da borracha, luminárias, lagos, obras de arte de grandes artistas encontradas em jardins como os de Inhotim e do Museu do Açude.

Sítios históricos

Os dois livros mostram imagens de sítios histó- ricos como o Parque São Clemente, considerado um dos mais importantes jardins históricos do Brasil, cujo desenho original é do mestre francês Glaziou, trazido pelo Imperador Dom Pedro II para cuidar das mais belas paisagens da realeza e da aristrocacia brasileira. Esse jardim, localizado em Nova Friburgo, é muito pouco conhecido dos brasileiros. Outros exemplos são os jardins botânicos do Rio de Janeiro e de Brasília; os jardins do Observatório Nacional, do Passeio Público e da Quinta da Boa Vista, no Rio; o parque do Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora, que é o museu com maior acervo de bens do Império no país, além de uma rara o mais recente de todos os retratados no livro, compõe um roteiro completo de visitação pelas áreas verdes da cidade e do estado do Rio. Carlos Fernando não esqueceu os jardins modernos de seu grande amigo Roberto Burle Marx na capital do país, Brasília.

Preservação e equilíbrio

Considerado um dos mais belos livros editados desde o ano passado, a obra mostra uma visão do autor comprometida com a preservação da natureza e com as formas equilibradas de con- vivência entre o homem e o mundo natural. Os jardins sempre foram um indicador do nível de civilização de um povo. Quanto mais civilizada uma cultura, mais perfeita a arte de seus jardins. Para Carlos Fernando, em todas as culturas o jardim significa o paraíso, o paraíso perdido desde o Éden. O homem não se contentou em perder sua condição original de ser natural: não apenas perdeu sua paradisíaca condição original, como cada vez mais dela se afasta e a destrói.

Paraíso e Inferno

Partindo desse enfoque, o autor propõe duas possibilidades para enfrentar o futuro no planeta: Paraíso e Inferno, conceitos antagônicos, são as duas opções da humanidade. O Paraíso representa a relação equilibrada entre homem e cultura. O Inferno, a desordem resultante das ações equivocadas do homem sobre o meio ambiente, ações que podem resultar no desaparecimento da da humanidade e da própria vida sobre a face da Terra. Carlos Fernando de Moura Delphin argumenta que o ser humano encontra-se em uma encruzilhada, em um momento crucial no qual ainda pode optar pela deflagração de um Caos ou pela reestruturação do Cosmos. Nesse contexto, os jardins são o mais perfeito símbolo. ‘Dentre os momentos mais maravilhosos do Universo pode-se citar o surgimento da energia, da matéria, da vida, do homem. Resta aguardar um milagre. Que a humanidade assuma o compromisso de um novo caminho movido por esta energia primeira e criadora, o Amor’, conclui o paisagista.

Quem é Carlos Fernando de Moura Delphim

Carlos Fernando é paisagista e arquiteto formado pela Universidade Federal de Minas Gerais. Grande amigo de Burle Marx, com quem descobriu a força da liberdade que move o gênio criador, era o paisagista favorito do mestre Oscar Niemeyer. Carlos Fernando tem sido um grande defensor dos jardins históricos como patrimônio cultural brasileiro, malgrado o desinteresse de nosso povo e da insensibilidade de nossas instituições. Sua carreira é rica em trabalhos como projetos, planejamento, manejo e preservação de sítios de valor paisagístico, histórico, natural, geológico, hidrológico, paleontológico e arqueológico, dentre outros. Atualmente dedica-se a dois instigantes projetos: a preservação de um fragmento de paraíso na Serra Azul, em Mato Grosso – onde a obra da natureza e do homem nunca entrou em choque – e uma heróica tentativa de recuperar e valorizar belezas olvidadas existentes em Cubatão, São Paulo. Cubatão, uma cidade tida como local de pura poluição, que hoje conseguiu reverter muito desse estigma. A cidade volta-se, agora, para a tentativa de tornar-se um exemplo de harmonia na relação do homem com a natureza, de restauração do Paraíso. 

Silvestre Gorgulho – [email protected]