Música e Ciência de Luto

Máximas e mínimas de Paulo Vanzolini

23 de maio de 2013

Agora vou pinçar algumas pérolas de nosso bate-papo na mesa do Feitiço mineiro, numa entrevista da qual participou uma amiga comum, Maria Tereza Jorge Pádua. Bom mostrar o lado pesquisadoe e cientista de Paulo Vanzolini. Vale a penas conhecer. CIÊNCIA NA AMAZÔNIA “Sabe qual é o papel da ciência brasileira nessa história toda de Amazônia?… Ver artigo

Agora vou pinçar algumas pérolas de nosso bate-papo na mesa do Feitiço mineiro, numa entrevista da qual participou uma amiga comum, Maria Tereza Jorge Pádua. Bom mostrar o lado pesquisadoe e cientista de Paulo Vanzolini. Vale a penas conhecer.

CIÊNCIA NA AMAZÔNIA

“Sabe qual é o papel da ciência brasileira nessa história toda de Amazônia? Infelizmente não tem papel nenhum! A ciência brasileira virá depois, é caudatária. A questão hoje é política e econômica.”

FRONTEIRA NA AMAZÔNIA

“Fronteira na Amazônia não existe. Você passa de um lado para outro, mora do lado de lá e vive do lado de cá. Passa por cima. É uma linha imaginária. Na fronteira da Amazônia não tem Brasil, nem Peru, nem Bolívia e nem Colômbia. É de quem paga mais”.

“O Içá é um rio binacional. Ele nasce na Colômbia e morre no Brasil. Ele é Putumayo, Isau Putumayo. Ele é um rio de muito índio, como os Boras. Então tem muita comunidade protestante, tem muita missão. É um lugar bastante complicado, porque no meio dessas missões tem um monte de espião da CIA. Quando eu estava no rio Negro e fiz amizade com missionários americanos. Eles “dedavam” os outros: “Aquele é da CIA!” Quem mora lá sabe que está cheio de falso missionário na Amazônia.”

NARCOTRÁFICO NA AMAZÔNIA

“Os Estados Unidos nunca querem sair perdendo. Você precisa pensar o seguinte: o problema do narcotráfico nos Estados Unidos é seríssimo. É um câncer social. Veja bem, eles não estão defendendo a Colômbia nem o Brasil, eles estão defendendo os Estados Unidos contra o narcotráfico.”

“O caboclo da selva é muito desconfiado. Você saber o que está na cabeça dele é muito difícil. Quando morava lá, eu acabava sentindo a turma. Nos últimos anos eu não tenho tido mais a oportunidade de sentir o caboclo da Amazônia. A impressão que eu tenho é a seguinte: ele não tem lealdade pelo exército, nenhuma. Não tem Pátria Amada Idolatrada para ele. Ele vai com quem pagar.”

ONGS NA AMAZÔNIA

“ONG para mim não vale nada, com raríssimas exceções. E quem mora na Amazônia sabe que está cheio de falsos missionários”.

“A única coisa que eu conheço de defesa da Amazônia é o trabalho do José Márcio Ayres, no Mamirauá, na boca do Japurá. Aquela é uma região meio pantanosa entre o Japurá e o Amazonas e com grande fauna e flora. O Márcio está fazendo uma coisa inteligente, sensata. Está organizando as comunidades. Ele está organizando o pessoal, o pessoal tem uma certa democracia, um certo espírito público. Ele está fazendo um serviço bom, desse ponto de vista. Agora, vou dizer uma coisa para vocês. ONG, pra mim, não vale nada.”

“Esse pessoal de ONG não vale nada porque são fanáticos. Radicais. Você sabe que todo fanatismo não tem objetividade. São muito ignorantes e muito pretensiosos. Dos muitos que eu conheço, eu tenho a impressão que eles têm a paixão do poder: É aquele negócio: – Nossa ONG parou esta obra! Eu posso mais do que o governo! Eu posso mais do que uma hidroelétrica! Tem muito disso. Claro que também tem muita gente boa, mas são poucos.”

“Se o caboclo tem um freguês que compre uma boa árvore por mês, esse caboclo faz a sua vida. Eu vi lotarem um navio com dez mil toneladas de madeira, no baixo Amazonas, na década de setenta. Olha, dez mil toneladas é madeira pra burro. E toda essa madeira era trazida em pequenas jangadas. Não era aquele jangadão que leva dois dias passando. Eram jangadas de caboclo. Madeira comprada de caboclo. Então a motosserra para o caboclo, principalmente depois que ela está paga, representa uma certeza de lucro. É a vida dele.”

PESQUISA NA AMAZÔNIA

“O cientista Harold Siol fez a carreira dele baseado na Amazônia e acabou como o maior chefe de Instituto da Max Planck, na Alemanha. E foi ele quem começou limnologia (estudo das águas interiores) na Amazônia. Se nós temos limnologia na Amazônia, quem abriu a porta foi Harold Sioli. É dele o conceito de rio de água branca, de água verde, de água preta.

“A pesquisa na Amazônia, até agora, não têm densidade científica para pesar. A qualidade da pesquisa é muito ruim, a massa crítica e a consciência dos institutos é muito primitiva.”

“A única coisa que eu conheço de defesa da Amazônia é o trabalho do José Márcio Ayres, no Mamirauá, na boca do Japurá. Aquela é uma região meio pantanosa entre o Japurá e o Amazonas e com grande fauna e flora. O Márcio está fazendo uma coisa inteligente, sensata. Está organizando as comunidades. Ele está organizando o pessoal, o pessoal tem uma certa democracia, um certo espírito público. Ele está fazendo um serviço bom, desse ponto de vista. Agora, vou dizer uma coisa para vocês. ONG, pra mim, não vale nada.”

“Esse pessoal de ONG não vale nada porque são fanáticos. Radicais. Você sabe que todo fanatismo não tem objetividade. São muito ignorantes e muito pretensiosos. Dos muitos que eu conheço, eu tenho a impressão que eles têm a paixão do poder: É aquele negócio: – Nossa ONG parou esta obra! Eu posso mais do que o governo! Eu posso mais do que uma hidroelétrica! Tem muito disso. Claro que também tem muita gente boa, mas são poucos.”

“O Fearnside, por exemplo, a tese dele, que é o ano de uma propriedade rural na Transamazônica, (Human Carrying Capacity of the Tropical Rain Forest) é a primeira coisa séria que existe sobre exploração agrícola da Amazônia. Então, um bom cientista estrangeiro é um benefício tremendo. Eu fiquei conhecendo o Fearnside por intermédio de dois americanos que estiveram aqui no Brasil fazendo um trabalho de sapos em Boracea”.

“O Museu Goeldi? Mesma coisa. O Emílio Goeldi era racista, ele não gostava de brasileiros. Ele era um suiço-alemão que veio para cá naquela colônia suiça de Teresópolis, no final do século passado. Um exemplo: o Carlos Moreira, que foi o primeiro especialista em crustáceos que teve no Brasil, era do Museu Nacional e era loiro. Um dia o Goeldi chegou para ele indignado:

– O senhor mentiu para mim. Eu estava certo que o senhor era anglo-saxão e o senhor é filho de portugueses. Deu a maior bronca no Carlos Moreira porque não era anglo-saxão.

GARIMPO NA AMAZÔNIA

“O garimpo não é amazônida. O garimpeiro é maranhense, é mineiro, cearense ou baiano. E é obcecado pelo ouro. Eu vi no Tapajós uma vez, dois primos maranhenses que foram para o garimpo de Itaituba e pegaram 1,2 kg de ouro.

Na volta um matou o outro e tirou a pele do rosto para ninguém reconhecer o morto. Quer dizer, o garimpeiro é desumano… Eu acabava com os garimpeiros. O que eles fizeram com os Ianomamis é abominável.”