Folha do Meio Ambiente

O campo de estudo principal do doutor Paulo Emílio Vanzolini é a Herpetologia, a parte da Biologia que engloba os répteis e anfíbios. Viajou extensivamente pelo Brasil e América Latina e se considera o último dos viajantes clássicos. Pesquisou profundamente a Amazônia, sendo reconhecido mundialmente como uma das maiores autoridades sobre o ecossistema amazônico.

Paixão pela Amazônia

A paixão de Vanzolini pela Amazônia começou em 1944, quando foi passar férias no Pará, e subiu o rio Anapari com um caçador de borboletas.

Perdeu a conta de quantas viagens já fez nos mais de 50 anos de pesquisas na Amazônia e enumera devagar os rios que percorreu: Anapari, Juruá, Purus, Madeira, Xingu, Araguaia, Tocantins, Japurá, Negro, Branco, Trombetas, Solimões, Nhamundá e muitos de seus afluentes.

Desde 1946 esteve ligado ao Museu de Zoologia da USP. Mesmo doente, trabalhava nos fins de semana e con- servava duas grandes salas rodeado de mapas, livros e vidros com exemplares de lagartos, sapos e cobras. A biblioteca é a maior coleção herpetológica do mundo. Com duas ex-alunas ele era também só- cio da MVA, uma pequena empresa que realiza estudos de impacto ambiental. Em sua carreira, Vanzolini orientou 36 teses de doutoramento. Membro da American Society of Ictiologists and Herpetologists, ele foi pesquisador associado do Museu de Harvard, do Museu de História Natu- ral de Nova York e do Smithsonian.

Eu sou Paulo Vanzolini Animal de muita fama Que tanto corre no seco Como na varge de lama Mas quando o marido chega Corre pra baixo da cama.

Show em Brasília

Em outubro de 2002, Paulo Vanzolini e a cantora Ana Bernardo fizeram um show no “Feitiço Mineiro”. Fui lá conferir as suas belas canções e depois, entre uma cerveja e outra, conversamos sobre o seu lado cientista.

No show do Feitiço, Vanzolini contou causos e mais causos e ainda e ainda soltou a voz cantando suas melodias inesquecíveis. Infelizmente, ou felizmente, só não pude escutá-lo cantando “Ronda”. Sabe por quê? O público presente fez um coro tão uníssono, tão forte e tão bonito que foi de arrepiar. Mas abafou a voz do cientista, poeta e compositor. Paulo Vanzolini foi premiado pela Ordem Nacional do Mérito Científico com a classe Grã-Cruz por sua contribuição na área das Ciências Biológicas.

Recebeu também um prêmio da Fundação Guggenheim, de Nova York, pelo mesmo motivo. A vida dupla de compositor e cientista de Vanzolini foi tema de documentário “Um homem de moral”, de 2009. A obra do cineasta e seu amigo Ricardo Dias registra os preparativos para um show realizado em 2003 no Sesc Vila Mariana. Com Ricardo Dias, Vanzolini filmou outros dois documentários, “No Rio das Amazonas” e “Fé” ambos sobre sua vida na área científica.