Editorial

16 de agosto de 2013

As lições de Francisco Ser católico é uma coisa. Ter alguma outra religião é outra coisa. E não ter religião nenhuma, também não importa.  O que importa é uma pessoa de discernimento que cultua os valores da ética, da moral, da racionalidade e da sustentabilidade. Uma pessoa que é honesta consigo mesma e é solidária… Ver artigo

As lições de Francisco

Ser católico é uma coisa. Ter alguma outra religião é outra coisa. E não ter religião nenhuma, também não importa.  O que importa é uma pessoa de discernimento que cultua os valores da ética, da moral, da racionalidade e da sustentabilidade. Uma pessoa que é honesta consigo mesma e é solidária com seus semelhantes. Essa pessoa no fundo tem uma religião que é a do respeito, da solidariedade e do humanismo. E o Papa Francisco fez justamente esta pregação na sua viagem pastoral. 

Vi críticas de alguns ambientalistas que o Papa não falou uma única vez em meio ambiente ou sustentabilidade. Discordo das críticas. Foi o que o Papa mais falou. Só que com outras palavras e outros posicionamentos.  Qual é a maior crise ambiental no Planeta? Onde está o maior desafio a ser solucionado pelos países desenvolvimentos e subdesenvolvidos? Justamente na questão da pobreza. 
A existência da pobreza, a questão da desigualdade social e a ganância financista, sempre tão poderosos, foram as críticas mais duras deixadas pelo Papa Francisco.
Li um depoimento de um morador de Copacabana, em O Globo, que me chamou atenção. Diz ele – seu nome é Geson Rissin : “Não sou católico e nem cristão, mas moro em Copacabana e vivi intensamente esse momento do Papa Francisco entre nós, inclusive vendo-o duas vezes, a pouco mais de dois metros de distância. Já choro de saudades por sua partida, imagino os que têm uma ligação maior com esse homem santo, por força de suas relações religiosas (…)”.  
Imagino esse morador que não é nem cristão e que passou por tantos atropelos por morar numa Copacabana congestionada literalmente; morador de um bairro carioca que parou durante uma semana da visita papal; imagino esse morador, apesar de ateu, bendizendo a vinda do maior líder católico ao Rio e, em depoimento escrito, dizendo já ter saudades do Papa Francisco, pelos seus ensinamentos, por sua humildade e por sua postura a favor da verdade. Se as lições do Papa Francisco o tocaram profundamente, é de se esperar que um mundo novo e melhor esteja nascendo nas palavras e ações desse papa sul-americano.
Um outro exemplo prático de sustentabilidade deixada pelo Papa Francisco e de seus milhões de seguidores, é na questão de comportamental. A conscientização ecológica e o grau de civilidade dos peregrinos foram evidências fortes. De chamar a atenção. Em cinco dias de eventos, com praia cheia, num público de 3,5 milhões de pessoas na missa de domingo, o presidente da Comlurb, Vinicius Roriz, salientou:
– Os peregrinos tiraram nota dez em conscientização ambiental. De terça a domingo, por onde passaram os fiéis, a Comlurb recolheu 345 toneladas de lixo. O número surpreende por representar 9% a menos do que registrado somente durante o ultimo réveillon da Praia de Copacabana.
Pelas lições de Francisco e de seus seguidores, posso concluir, sem medo de errar: nem a religião católica, nem o Rio de Janeiro, nem o Brasil e nem o Papa Francisco serão os mesmos depois desta Jornada Mundial da Juventude.
Silvestre Gorgulho