Editorial

23 de setembro de 2013

Cuidar do lixo é sinal de capricho

Do Rio de Janeiro, Capital cultural do País, vem o exemplo que mais cedo ou mais tarde vai espalhar pelos 5561 municípios brasileiros: o programa Lixo Zero! 
O Programa Lixo Zero é um chamamento à educação e à civilidade. A mim causa asco ver uma pessoa jogar lixo na rua. E se é uma ponta de cigarro, pior ainda. Infelizmente, a maioria dos brasileiros só aprende quando dói no bolso. Quando existe multa. Assim aconteceu com o cinto de segurança, com o fumar dentro de ambientes fechados e também com a Lei Seca. É interessante verificar que os brasileiros obedecem as leis, quando viajam para o exterior. Especialmente para os Estados Unidos, onde jogar lixo na rua é multa na certa. O programa LIXO ZERO tem pouco mais de um mês e já distribuiu muitas multas para as pessoas que jogaram lixo nas ruas do centro do Rio. A melhor notícia: o programa é um sucesso.
Copacabana também recebeu o programa. E outros bairros também vão entrar na dança, inclusive da Zona Norte e subúrbios. Pelo programa, uma simples dobra de papel atirada ao chão, seja invólucro de caramelo ou de outra origem, incide em multa de R$ 157. Lavrada na hora, em pleno flagrante, por um agente da Limpeza Urbana, acompanhado por guarda municipal e PM. Um computador de mão acoplado à impressora registra a penalidade.
As multas vão para um programa na internet, que emite boleto. Cabe ao infrator retirá-lo e pagar. Diariamente foram recolhidos na avenida, apesar de suas cem lixeiras e das três varreduras diárias dos garis, cerca de 600 kg de tralha. Predominaram as guimbas ou pontas de cigarros. 
Salvador, que tem calçadas e ruas sempre sujas, já pensa em entrar no projeto. 
 
 
O caso do toco de cigarro é uma tragédia. Entope bueiros, suja as calçadas e ainda pode colocar fogo em gramados e pastos. O cidadão que foi educado para não jogar lixo no tapete de sua casa e nem no trabalho, tem o péssimo hábito de jogá-lo no chão das ruas e calçadas.
Urge acabar com esta cultura individualista, egoísta, nada inteligente e que se recusa a ver no espaço público um patrimônio comum. Assim como ocorre na lei seca, o único jeito de mudar essa mentalidade é com punição. Pelo bolso, o cidadão parece perceber que precisa ser educado.  Rio de Janeiro fez certo: houve um período preparatório de conscientização e informação da população antes de o Lixo Zero entrar em vigor.
O fato é que o Rio de Janeiro é a primeira cidade brasileira a criar um programa para educar os sujismundos. Mas esse tipo de política pública já existe em muitas outras cidades.
Em Carmel, na Califórnia, deste a década de 70 já havia uma severa multa para quem jogasse lixo na rua, especialmente ponta de cigarro. O ator Clint Eastwood e a cantora Doris Day ajudaram muito nesse programa. 
No Texas, e outros estados norte-americanos,  astros do cinema, da música e do esporte participam ativamente de campanhas publicitárias que estimulam o cidadão a não sujar as ruas. Lá a multa pode chegar até 500 dólares. Em Londres, uma das campanhas mais populares lembra que um simples chiclete jogado no chão pode custar 80 libras de multa, aproximadamente R$ 240. 
Em Paris, cuspir na rua é infração tão grave quanto não limpar a sujeira do cachorro. Multa de 35 euros, o equivalente a R$ 87. 
Cuidar do próprio lixo é sinal de capricho. 
E de educação!
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