Série Expedição Américo Vespúcio 10 anos
Lendas do Velho Chico – XIX
23 de setembro de 2013A lenda do vinho
O vinho possui um longo histórico, remontando às pegadas da humanidade. Cada cultura conta seu surgimento de uma forma diferente. Os povos bíblicos acreditam que foi Noé quem plantou um vinhedo e dele produziu o primeiro vinho.
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!”, disse o poeta. Ora direis, vinhos no semi-árido brasileiro, dizemos nós, e que vinhos! Vamos então bebê-lo em meio às lendas… contando lendas, existe bebida mais lendária que o vinho? Dentre todas as bebidas, o vinho é coroado rei, talvez por ser tão antigo e universal. Sendo assim, contaremos uma das mais conhecidas:
ERA UMA VEZ… aconteceu que um cidadão romano que andara por terras orientais, trouxe para solo europeu a planta da vinha. Com cuidado plantou-a num osso de galo. A viagem continuou e a plantinha cresceu, então passou-a para um osso de leão. Como não parasse de crescer o homem teve de mudá-la e então utilizou um osso de burro.
Diz a lenda que é por isso que quem bebe pouco fica alegre como um galo, quem bebe um pouco mais fica forte como um leão e quem bebe muito fica burro como um burro.
O vinho possui um longo histórico, remontando às pegadas da humanidade. Cada cultura conta seu surgimento de uma forma diferente.
Os povos bíblicos acreditam que foi Noé quem plantou um vinhedo e dele produziu o primeiro vinho: “E começou Noé a cultivar a terra e plantou uma vinha”. Gênesis, capítulo 9, versículo 20.
Existem referências que indicam ser a Geórgia onde se produziu vinho pela primeira vez, datadas entre 7000 e 5000 a.C. Lendas babilônicas, sumérias e hititas contam a história do vinho. Os egípcios foram os primeiros a registrar em pinturas e documentos desde 3.000 a 1.000 a.C., o processo da fermentação da bebida. Os faraós ofereciam vinhos e queimavam vinhedos aos deuses; os sacerdotes e nobres usavam-no em rituais e festas.
Os primeiros enólogos foram egípcios, e o vinho era comercializado pelos fenícios. Já os gregos consideravam a bebida uma dádiva dos deuses.Dionísio, filho deZeus, era o deus das artes, do teatro e do vinho. Daí a bebida propagou-se para a Itália e Península Ibérica.
Entre os romanos, a bebida de Baco era a eleita dos legionários, dos gladiadores, dos exércitos. Por eles a uva chegou aos britânicos e saxões, e por fim, à Gália ou França, chegando até Bordeaux e outras províncias. O filósofo Montaigne era vitivinicultor e exportava vinhos.
No século quarto o imperador Constantino converteu-se ao cristianismo, e a igreja católica foi fortalecida. Sua liturgia tem o vinho como símbolo do sangue de Cristo. Importantes mosteiros franceses se localizavam na Borgonha e Champanhe, berços de vinhos de qualidade.
Com as grandes navegações, a videira chegou às Antilhas com Cristóvão Colombo em 1493, e daí ao México, os Estados Unidos e as colônias hispânicas. No Brasil chegou em 1532 pelos portugueses Martim Afonso de Souza e Brás Cubas, em Santos, com lento desenvolvimento.
Na região sul a videira chegou pelas mãos dos italianos, enquanto no vale do São Francisco a produção de uva e vinho surgiu há pouco mais de três décadas, onde tem conseguido rápidos avanços.
A região produtora de vinho no semi-árido sãofranciscano, nos municípios de Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, além de Casa Nova, Juazeiro e Curaçá, na Bahia, tem hoje várias vinícolas. Alguns rótulos já atravessam fronteiras e a região surge como referência.
A Embrapa Semi-Árido instalou um laboratório de Enologia para análises e monitoramento da qualidade dos vinhos com certificação de procedência. A indicação geográfica é o primeiro passo para atingir o nível seleto de classificação de denominação de origem controlada, isto é, o direito do produtor ao selo.
O roteiro “Vapor do Vinho” navega no Velho Chico através de paisagens, lendas e gastronomia, desde Juazeiro-Petrolina até Sobradinho, passando pela eclusa. Ao chegar à vinícola Ouro Verde, no município de Casa Nova, vamos às degustações e aos produtos derivados, e no retorno vamos ao Bodódromo.
Fizemos esse roteiro em 2001 quando da Expedição Américo Vespúcio. Foi nessa noite que o velho pescador Lico Paiva, que sempre bebeu como um galo, excedeu-se e bebeu como um leão, no Bodódromo. Resolveu voltar a pé, atravessando a ponte, dormindo na rede da barca atracada no cais de Juazeiro. Preferi jantar no “Vaporzinho”, onde minha pequena Luana nos anos 80 corria pelos passadiços e subia e descia pelas escadas.
Os primeiros enólogos foram egípcios, e o vinho era comercializado pelos fenícios.
O agrônomo Nely Menezes Regis foi pioneiro na introdução de uvas varietais no semi-árido em Petrolândia e Bebedouro. A Comissão do Vale do São Francisco atual Codevasf, introduziu experimentos em seus perímetros irrigados.
Creio que estou entre os primeiros discípulos de Baco do vale, quando de um curso de irrigação para estudantes pela Sudene em Petrolina em 1975.
Em uma excursão à fazenda Ouro Verde em Casa Nova, bebemos vinhos experimentais como burros, e no retorno fizemos uma guerra de bagas de uvas no ônibus, bons e velhos tempos.
Finalmente (ou inicialmente?) por que brindar quando se bebe vinho? O vinho é uma bebida onde devemos usar todos os sentidos para degustá-la: o tato (ao segurar a taça de vinho); a visão (ao olhar a taça de vinho); o olfato (ao cheirar o vinho); o paladar (ao beber o vinho). E por último a audição, vindo daí o tintim das taças para completar a lista dos cinco sentidos.
Uma noite romântica.