SOB A SOMBRA do Parque Ecológico do Cocó

23 de setembro de 2013

O Parque Ecológico do Cocó, no coração de Fortaleza, foi criado em setembro de 1989

Tércia Montenegro

 

 

 

 

 

 

Encontrei libélulas, peixes e gatos; palmilhei um chão poroso onde nascem samambaias. Uma abelha me seduziu com seu voo suspenso, hipnótico – e tudo isso aconteceu antes que eu chegasse perto da avenida. Ali se armava o acampamento, a resistência diante da ganância, o humano contra o maquinário. No instante em que me aproximei, alguém baixou o vidro do carro para gritar “Vão trabalhar, seus vagabundos!” – mas logo subiu o fumê de novo, apressado. 

Os acampados continuaram tranquilos, conversando em voz baixa. Eram homens e mulheres dos mais diversos feitios, e todos trabalhavam. Sim – era preciso dizer àquele senhor dentro do veículo metálico –, o que eu vi no sábado passado foram  trabalhadores essenciais, pessoas que labutam no ofício de pensar e habitar uma cidade. Gente que frequenta as ruas a pé e assim deseja continuar, desde que haja veredas, parques e espaços preservados.
No conto da Cinderela, a protagonista lidava com cinzas e pó, explorada pela madrasta malvada e suas filhas egoístas – e ali os manifestantes também estavam circulando pelo borralho, por entre os detritos de galhos, folhas, vestígios do ocorrido. Vieram escavadeiras e tratores (eu li) e guardas com cassetetes (me contaram), homens com serras (vi as fotos) e mais caminhões carregando as tábuas. 
A menininha arregalou os olhos quando seu pai lhe contou sobre o vestido e o baile, o encanto da princesa – mas para o Cocó não haverá passes de mágica. O autoritarismo reinará, cruel, a menos que a justiça impeça definitivamente agressões como a fúria desse 8 de agosto. Enquanto isso não acontece, os trabalhadores persistem acampando. Eles validam com sua presença uma espécie de voz das árvores: insistem na importância de – contra a luz cega dos ambiciosos – preservar as nossas sombras.

 

PARQUE DO RIO COCÓ
O coração verde de Fortaleza
 
 
O romântico nas cidades são os parques, os jardins e as flores.  Esta é uma lição sempre repetida por um cearense que chegou a Brasília em 1969:  o agrônomo  Francisco Ozanan Correia Coelho de Alencar. Como Chefe do Departamento de Parques e Jardins, o professor Ozanan arborizou, ajardinou, conservou e plantou parques e canteiros floridos em todo Distrito Federal.
Fortaleza, terra do prof. Ozanan, sofre com um crescimento desenfreado, apertando o pouco do verde que tem. É o que está acontecendo com o Parque Estadual do Rio Cocó. O Parque que deveria ser abraçado pela cidade está sendo espremido e recortado para dar vazão aos fortes interesses imobiliários.
O Parque está numa área de mangue banhada pelo rio Cocó, que deu nome ao Parque. O rio Cocó nasce como riacho Pacatuba, na Serra da Aratanha, no município do Pacatuba. Depois recebe o nome de riacho Gavião e só após o 4º Anel Rodoviário, no bairro Ancuri, recebe a denominação de rio Cocó, onde dá início ao Parque. 
 
29 /3/1977 – o rio Cocó foi considerado de utilidade pública para efeito de desapropriação da área de mangue.
11/11/1983 – Decreto municipal número 5.754 cria o Parque Adhail Barreto. 
5/9/1989 – Decreto estadual número 20.253 cria o Parque Ecológico do Cocó.
8/6/1993 – O Parque recebe os limites que tem hoje com uma área de 1.155,2 hectares.